Li hoje um debate entre um escritor (Blake Morrison) e uma psicoterapeuta (Susie, ou Susan, Orbach) sobre a semelhança entre os dois tipos de trabalho. Em vez de debate, talvez fosse melhor pensar em entrevista simultânea, já que ambos se perguntavam e discordavam menos do que concordavam.
Posso parecer pretensioso, mas antes de ler a entrevista já pensava que escrever tem mesmo algo de psicoterapêutico. Lembro de muitos escritores antigos (pelo menos mais antigos do que eu...) falando que escreviam para espantar fantasmas.
O escritor insistia que na literatura atual (que ele inclusive ensina), aspessoas são incentivadas a evitar o confessionalismo. Já falei disso muitas vezes aqui nestes modestos textos meus. Por isso me limitarei a lembrar Pound que dizia que um texto poético ou um texto literário (ele diferenciava prosa de poesia) começa como algo pessoal e vai sendo retrabalhado e transformado esteticamente até chegar a algo que não lembra mais o original. Lembro de Borges, criticando o Ulisses de Joyce, dizendo que tem pouco significativos, mas repetiivos pontos de contacto com a Ilíada.
Essas duas lembranças fazem um bom eco, ou melhor, uma boa harmonia com o que disse a psicanalista: para que a terapia seja eficaz o que importa não é tanto o confessionalismo, mas a possibilidade de dar uma forma muito clara ao sentimento mais perturbador ou significativo.
Ela insiste também que há uma estética no falar do paciente e do terapeuta.