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cronicas-->O bombom -- 22/06/2000 - 20:34 (David Reis de Sousa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Toquei o interfone, nada; olhando pelo vidro vi o porteiro, um homem duns cinquenta e poucos anos, nem gordo nem magro, nem baixo nem alto. Usava óculos e tinha cabelos brancos. Viu-me. Acenou para mim, gesto o qual não entendi a principio. Depois de um instante, não lembro exatamente o quão instantàneo, percebi que me chamava. Apertou um interruptor perto de onde estava sentado, assim liberando a porta de vidro. Fui até ele. Dirigiu-me a palavra:
- O interfone não está funcionando, qual apartamento você quer falar?
- 1003, a dona Lúcia está me esperando.
Pegou uma espécie de telefone e disse algumas palavras baixas, não pude ouvi-las. Endereçou-me secamente:
- Seu nome é David? Perguntou-me. Confirmei com a cabeça.
- Pode subir, é no 12º andar, o elevador é no corredor à esquerda.
- Obrigado, disse por reflexo.
Fui até o elevador. No momento em que as portas se abriram, deparei-me com um casal. Ele, uns 18 anos, de camiseta e bermuda, ela, uns 16 usando um top e calça corsário. Por um momento meu olhar se encontrou com o daqueles desconhecidos. Percebi que indagavam quem era, nunca haviam me visto no prédio. Aquele breve momento passou, como todos passam. O pensamento de que nunca mais iria ver aquelas pessoas de novo cruzou minha mente. Quais seriam seus nomes, indaguei. Atribui Fred ao rapaz e Beatriz a moça, agora os conhecia. Apertei o 12, o elevador começou a se mover. Quando parou a porta se abriu, saí e me deparei com uma grande porta de madeira nobre, acima desta estava uma plaqueta dourada, 1003.
Esperei por algo que não aconteceu. Tinha de tocar a campainha, toquei. Estava apreensivo, tinha de causar uma boa impressão. A pesada porta abriu-se, uma figura feminina apareceu por detraz dela, Lúcia provavelmente. Estendi a mão enquanto concentrava-me para manter o sorriso, claramente falso. Não fui correspondido, retornei meu braço a posição de inicio disfarçando a tentativa de cumprimento. Ouvi apenas palavras.
- Pode entrar.
Segui-a até a sala, me disse para esperar um momento. De pé comecei a olhar a minha volta. Vi a minha esquerda um painel, ocupava boa parte de uma parede, era arte moderna. Riscos amarelos sobre vermelho, chamei-lhe. Olhei a frente, vi sentada numa mesa de jantar, a falar no telefone, uma menina duns 12 anos. Tentei prestar atenção a sua fala, mas não consegui. Lúcia mostrou o rosto à beirada da porta e mandou-me sentar. Sentei-me no sofá que estava a dois passos a minha direita. A primeira coisa que notei foi um recipiente metálico dourado, na mesa de centro a minha frente. Contive-me o máximo possível. A curiosidade afetava-me como uma droga. Chequei que de minha posição a garota ao telefone era invisível. Abri o recipiente, com máximo de cuidado possível. Dentro vi reluzentes bombons, uns 10 no mínimo. Voltei a razão fechei-o rápido. O tempo alongou-se infinitamente, via-o escorrer como uma espessa gosma na ampulheta eterna. Recai-me, voltei a abrir a bomboniere e, rápido como um leopardo, furtei um bombom e coloquei-o na boca. Ah, o doce sabor do proibido molhava-me o paladar. Foi breve, entretanto. Entrou na sala Lúcia. Eu estava ainda com parte do bombom na boca, ela dirigiu-me a palavra:
- Venha por aqui.
Apenas concordei com o olhar e a segui subindo uma escada circular. Estavam-me observando, não podia mastigar. Percebi as consequências de minha ação, não gostei do que vi. Lúcia me dirigiu a um homem, estava tenso demais no momento e não recordo nada sobre ele.
- Esse é o meu marido. Disse ela, estendi-lhe o braço. Agora sim meu gesto foi correspondido.
- Prazer, disse o homem.
Estava com a boca cheia, se falasse poria tudo a perder, se não falasse pareceria rude e sem modos. De fato era inconcebível para mim, manter-me calado naquele momento. Decidi-me, falaria. Concentrei-me, seria necessária muita habilidade para realizar tal tarefa sem ter meu crime revelado. Falei:
- Prazer.
Todos os sinais indicavam que havia conseguido, não vi por parte de Lúcia ou de seu marido um olhar sequer que denotasse que haviam percebido que estava de boca cheia. Solte-lhe a mão. Enquanto Lúcia virou a esquerda e pediu que a acompanhasse, prestei atenção a seu marido, não olhava mais para mim. Engoli, finalmente, o bombom.

David Reis de Sousa - 22/06/2000
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