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cronicas-->2. DO GROTESCO E DO RIDíCULO -- 11/09/2002 - 06:18 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Forçaram-me, certa vez, a realizar uma comunicação durante sessão mediúnica no centro espírita.

Tinha eu requisitado ajuda dos seres mais poderosos, crente de que iriam alçar-me ao paraíso, como nas histórias que conhecia em que os anjos descem para buscar as almas dos cristãos.

Naqueles tempos, passava de um lado para outro da escuridão, atropelado e atropelando, clamando por vingança e por justiça, como se tais coisas fossem compatíveis perante o Senhor.

O convite, assim entendi a verdadeira ordem recebida, se deu de forma convencional, aparecendo um grupo de sujeitos vestidos um pouco melhor que eu, que andava andrajoso, sem rodeios:

- Ouvimos as suas preces e estamos prontos a ajudá-lo. Venha conosco.

- Esperem aí! Para onde vão me levar?

- Para um lugar em que será instruído a respeito de algumas providências necessárias para que você alcance atingir o seu maior objetivo, ou seja, livrar-se dessa situação penosa.

Eu mal havia entendido aquele palavrório, mas, como de tudo desconfia o condenado às galés após ouvir o douto pronunciamento que o sentenciou, quis saber mais:

- Se estão pensando...

- Nós sabemos o que se passa com você. Na realidade, vamos conduzi-lo a um centro espírita onde você irá receber as referidas instruções.

- Por que vocês não falam agora do que se trata?

- Você sabe o que se passa dentro de um centro espírita?

- Já fui a muitos. Lá o povo se diverte, bebe, canta e dança...

- Não é dos terreiros que estamos tratando. É do sagrado ambiente de reuniões entre vivos e mortos, sob o amparo de mentores de bom calibre moral.

- E os orixás não são assim?

- Você viu algum?

- Eu vi muito pai e mãe de santo conversando com entes de grande poder e força, tanto que a minha turma nem podia chegar perto.

- Viu algum?

- Não vi.

- Sabe por quê?

- Porque eles não se mostraram.

- Por que eles não se mostraram?

A pergunta estava muito além de minha capacidade de raciocínio. Saí pela tangente:

- Era da conta deles, decerto.

- Perfeitamente, como será da conta dos nossos bons amigos da espiritualidade superior mostrar-se, para nos darem tranquilidade, paz, sossego, que é o que lhe tem faltado.

Percebi que desejavam atrair-me com boas palavras e retraí-me:

- Pois ainda acho que vocês poderiam atender-me aqui mesmo, se é que me entendem.

- Como queira. Vamos montar a nossa pequena assembléia neste lugar...

- Vocês vão ser chamuscados pelo fogo dos perversos que atacam os pobres inocentes.

- Você se considera inocente?

- Claro que sim, principalmente porque ficaram me devendo satisfações e dinheiro...

- Você não ficou devendo nada a ninguém?

- Fiquei, mas foi muito menos.

- Diga apenas um dos seus débitos.

- Deixei de pagar a conta do telefone...

- Estou falando em relação às pessoas e não às instituições.

- Levei algum dinheiro de meu irmão, mas, como ele era da família, não se aborreceu comigo.

- Que certeza você tem disso?

- Ele nunca me cobrou nada.

- Você nunca machucou ninguém?

- Agredi um sujeito que me atacou na rua.

- Estou perguntando se magoou moralmente.

- Só minha mulher, mas isso não conta...

- ...porque ela nunca deu queixa na polícia?...

- Não deu mesmo. Até me agradeceu muito a vida que dei a ela quando morri.

- Você está sabendo que morreu?

- Não sou tão ignorante assim.

- E não se arrependeu de nada até agora?

- Estou arrependendo-me de lhe dar trela...

- Deseja parar?

- Sim.

- E voltar a correr desesperado por aí?

- Não. Quero continuar conversando sobre outras coisas.

- Não está mais disposto a revelar sua condição infeliz?

- O que está me deixando cansado são tantas perguntas.

- Então, vou lhe afirmar algumas coisas. Primeiro, você está devendo uma grande soma a muitas pessoas...

- Não é verdade.

- Está devendo satisfações e desculpas, por ter ofendido aos familiares e amigos, muitos que você traiu...

- Se vocês sabem de tudo isso, por que me atormentam com perguntas?

- As perguntas se acabaram. Chegou a vez de conversarmos a respeito das atitudes honestas e virtuosas. Você, como sabemos, é bem capaz de repetir todas as virtudes e dizer de cor as leis de Deus, segundo sua fé católica. Mas isso tudo se passa no seu coração e na sua cabeça da mesma forma que deseja que os anjos venham levá-lo à presença de Deus.

- Não tinha pensado em ficar na frente dele.

- É porque você ficaria envergonhado. Está na hora de descobrir a melhor maneira de crescer espiritualmente.

- E de sair da escuridão e das perseguições?

- Perfeitamente.

- Que devo fazer?

- Acompanhe o grupo de amigos que foram buscá-lo.

- Você quer dizer: que vieram buscar-me...

- Foram buscá-lo e o trouxeram até aqui, no centro, onde você conversou comigo, um simples trabalhador espírita.

- Quer dizer que eu vim parar aqui sem perceber?

- Acho que sim, pois você está presente.

Naquele momento percebi que podiam transportar-me sem minha anuência e protestei:

- Não é justo desrespeitar a minha vontade.

- Sua vontade de ficar na escuridão ou sua vontade de ser resgatado das mãos dos perversos?

A alternativa sentenciou-me ao silêncio e às lágrimas. Haviam quebrado a minha crista. Estava pronto para receber o carinho dos socorristas. Atinei que fora sempre um beócio ou capadócio, que eram as melhores palavras que utilizava contra os meus algozes. E deslizei para o seio do grupo que me amparou e me transportou para estadia em hospital de deficientes espirituais...

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