Diário de um pseudônimo (061) (2005/04/11)
Penfield Espinosa
11/04/2005
Ontem, antes d ontem, pensei em escrever. Mas, por incrível que pareça, nos cafés relativamente calmos por onde fui havia gente escrevendo.
Isto é muito estranho: é raro encontrar pessoas lendo em S. Paulo, mas encontrá-las escrevendo é muito raro.
Por extrema coincidência, havia mais de uma pessoa escrevendo em cada um dos lugares onde fui para escrever.
Pensaria que na região que vai da Paulista até Pinheiros, passando pelos Jardins, é mais ou menos fashionable escrever.
Pensei em escrever sobre casas, sobre o stress que foi para mim deixar minha primeira casa, a casa de meus pais e vir para S. Paulo fazer o famoso Largo do S. Francisco. Eu queria vir, mas ao mesmo tempo achava que não havia vantagem alguma: direito é basicamente falar e nós, baianos, falamos melhor do que a maioria dos paulistas ou paulistanos.
Mas havia o tradicional elitismo (ou o elitismo tradicionalista) de meu pai, que queria ver o filho formado pela melhor escola de direito do Brasil -- aquela que ele mesmo cursou.
Ao mesmo tempo em que vinha para contentar meus pais, também vinha para descontentá-los, pois sairia bastante do controle (brando mas firme) deles. Ao lado desse conflito, a preguiça de perder a mordomia e certamente a paúra de começar tudo de novo, em cidade onde eu não tinha raízes, onde nunca havia estudado com ninguém.
Ia escrever isso tudo, essas vagas memórias, essa psicologia de botequim.
Mas, estranhamente, ver os outros com espelho, vê-los concentrados escrevendo -- ou será que fingiam ? -- fez com que ficasse inibido.
S. Paulo, 11 de abril de 2005
(Copyright © 2005-2009 Penfield da Costa Espinosa)
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