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Ensaios-->SIMBOLO, RETÓRICA e MITO DO AMOR CORTÊS NA PASTOREL -- 15/07/2006 - 22:23 (Júlio Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SIMBOLO, RETÓRICA e MITO DO AMOR CORTÊS NA PASTOREL
A. Introdução. O poema. Cantiga de meestria do gênero pastorela, com quatro estrofes singulares formadas por sete heptassílabos, apresentando rimas femininas e masculinas (vv. 1, 3, 5 e 6 ; 2, 4 e 7 ). Podemos encontrá-la em CBN 967 (versão parcial ) e em C.V. 554. Esta poesia, do poeta galego Joan Airas de Santiago, freqüentador das cortes de Afonso X e de Afonso III ( o rei português mecenas da poesia trovadoresca) é considerada uma obra prima por insignes especialistas como Rodrigues Lapa, Celso Cunha e Vitorino Nemésio. Trata-se de uma pastorela produzida de acordo com o gosto poético galaico-português. O editor do texto que utilizamos, Jose Luiz Rodrigues, acha que o espírito galego-português 'asoma en la cantiga en la supervaloracion del sentimento sobre lo discursivo y lo intelectual, de manera que incluso el marco paisagístico /.../ es simbólico y està en función de ese mundo de amor pergeñado'(p.140). Leitura. Esta pastorela contém em si a profunda dialética do Mito do Amor no qual a sexualidade é sugerida mediante a menção do ritual da Cortesia. O sujeito-lírico-narrador nos revela a visão de uma pastora que, ao alvorecer, saía de uma ablução matinal ainda modelada nas suas vestes molhadas. A moça canta denunciando sua alegria e seu entusiasmo. A visão total é a de uma moça em pleno raiar do sol , saindo do rio em que acabou de se lavar, com as vestes molhadas contornando seu corpo, num lugar ermo e aprazível. As aves voam à sua volta , pulando de ramo em ramo, produzindo um belo contracanto, com seus gorjeios, à canção entoada pela menina. O quadro se esboça de acordo com a tradição pintural paisagística da lírica galego-portuguesa. O leitor acostumado com o código poético desta escola já percebeu que o contexto sugere através dos seus elementos uma informação cifrada: manifestam-se condições propícias para sugerir a realização do amor. O texto do poema, tão fortemente intencionado em manifestar tal fato, se faz redundante, deixando isto claramente nos versos 5-7, da segunda estrofe: mais non sei tal qu i stvesse,/ que en al cuidar podesse/ se non todo en amor/ ('não sei pois quem pudesse ali estar que não pensasse em outra coisa senão no amor') E quem nos reitera a condição é o sujeito do texto, personagem, por enquanto, voyeur O narrador depois de ter ficado em silêncio se manifesta como ator. A jovem se assusta e, recorrendo à 'Cortesia', pede ao mesmo que se afaste. Sua razão: alguém chegando poderia pensar que estava havendo mais do que o permitido ou que já teria acontecido ('que m`ais ouv`i '). O pretexto é pequeno e se encaixa no contexto, pois o jovem contemplador disse que só queria falar um pouco. A jovem foi quem imaginou mais, colocando como único impedimento älguém chegar'. Este problema, já que o lugar era ermo e distante, era facilmente contornável. O que há mais ? A jovem requerendo o recurso à mesura dá a deixa; faça de acordo com o ritual do Amor Cortês. Os elementos anteriores do texto preparam e completam o que a leitura deve perceber. O nosso leitor poderá estar nos acusando de imaginar o que não está na cantiga, ou seja, ter havido qualquer coisa entre a pastora e o seu observador. No final da leitura dissemos: 'a leitura deve perceber'. Com isto é que a Poética Galaico-Portuguesa jogava, ou melhor, prescrevia como regra do jogo no lance da leitura: perceber o sugerido, sentir o 'que mais ouv`i'... Em outras leituras (CARVALHO,1973;17-22}, sobretudo das Cantigas de Amigo, já mencionamos esta singularidade da Poética Galaico-Portuguesa. Esta Poética, refinada no seu fazer, refinava também a leitura. Gostaríamos de mencionar a importância da Retórica do locus amoenus neste poema. Ernst Curtius (1955;I;276) mostrou-nos que em Virgílio o 'lugar ameno' é um espaço que serve para ilustrar a vivência do prazer e, que, como categoria retórico-poética era sempre uma paisagem formosa, sombria, com árvores, pássaros cantando, com uma fonte ou um riacho. Na poesia medieval o espaço aprazível consagrou-se como o lugar ideal do encontro amoroso para com isto conotar a idéia do ato amoroso como uma ação natural e edênica perdida com a visão cristã do pecado. Para algo agradável e natural, nada como a natureza agradável !. A água, complemento obrigatório, simbolizava o sentido da purificação do esforço com toda a sua tradicional carga semântica de elemento relacionado à idéia de fecundação. O amor cortês se manifesta através de uma linguagem estabelecida pelo Mito do Amor, fazendo com que a imagem se 'transforme numa escrita'(BARTHES.1972; 132). No caso da pastorela de Joan Aires de Santiago o texto obedece aos pressupostos da Poética do Amor Cortês, muito mais do que às do Fin amor (cf. Carlos Alvar). Bibliografia: BARTHES, Roland Mitologia. Trad. de Rita Buongemino e outro.S.Paulo, Difel, 1972.CARVALHO Julio. .Pero Meogo, 'fontana fria', poesia quente. Revista Ocidente (LXXXIV) Lisboa, 1973 CURTIUS, Ernst Robert. Literatura europea y edad media latina. Trad., Margit Frenk Alatorre e outro. México. Fondo de Cultura Economica. l955. 2 Volumes. RODRIGUES, José Luiz. El cancionero de Joan Airas de Santiago. Universidade de Santiago de Compostela, 1980.
TEXTO: Pelo Souto de Crecente/ûa pastor vi andar/ muit`alongada de gente,/alçando voz a cantar,/ apertando-se na saia/quando saía la raia/ do sol, nas ribas do Sar. E as aves que voavan,/ quando saía l alvor,/ todas d amores cantavan/ pelos ramos d arredor;/ mais non sei tal qu i stevesse,/ que en al cuidar podesse/ senon todo en amor. Ali stivi eu mui quedo,/ quis falar e non ousei,/empero dix a gran medo:/- Mia senhor, fala-vos-ei/ un pouco, se mi ascuitardes,/e ir-m ei quando mandardes/ máis aqui non [e] starei. -Senhor, por Santa Maria,/ non estedes máis aqui,/ mais ide-vos vossa via,/ faredes mesura i;/ ca os que aqui chegaren,/pois que vos aqui acharen,/ ben diran que máis ouví.
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