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Cronicas-->Negra polêmica -- 11/09/2002 - 14:02 (Marcos Pedreiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
As palavras são os tijolos com os quais fazemos nossa realidade. Carlos Drummond de Andrade, poeta que sabe tudo sobre elas, disse que as palavras não nascem amarradas (confira o primeiro poema do livro A Rosa do Povo). Drummond não foi pedreiro, se fosse teria completado que também assim é um tijolo: grande ou pequeno, bonito ou feio, fraco ou forte, tudo vem do mesmo barro.
O barro da palavra é sua conotação histórica. É por isso que hoje no Brasil os negros não gostamos quando alguém diz que a situação está preta (no sentido de horrível/péssima, que é o que impera em nosso racismo implícito), mas não se vê um branco reagindo ao ouvir que uma vida passou em branco (vazio/chocho). Os pesos são diferentes, e só acabará a discriminação racial aqui quando não existir mais esta distinção simbólica.
Até lá viveremos em permanente contradição. Como a das reações suscitadas pela minha última crónica, uma quase-declaração de amor a Pelé e Michael Jackson: uma e-leitora observou que os negros muitas vezes são racistas, outra reclamou por eu não ter enfatizado a existência hoje de vários referenciais para a população afro-descendente (esta palavra não me parece um tijolo, mas sim um brick, mas essa é uma outra história...). Enfim, ambas as e-leitoras estão certas, e eu não perco a razão. Primeiro porque os referenciais, que vivem múltiplos e há tempos, não são considerados pelo monstro-sistema que "clareia" aqueles dois gênios (Mano Brown, que não é bobo e sabe que nada como um dia após outro dia, não gosta de TV). Depois porque ser racista não é exclusividade dos brancos xenófobos ou do George W.Bush. Muitos negros também são, contra si própios - a maior parte dos casos - e contra os brancos. No primeiro tipo de racismo negro, salta aos olhos nossa baixa auto-estima, resultado da anulação dos referenciais. No segundo tipo, prevalece uma discriminação reativa, de quem atira antes de (ou por pensar que possa) ser alvejado - deste racismo é frequente se acusar os Racionais, que no entanto mostram ter critério e bom-senso ao dedicarem o último disco a Clara Nunes.
Não é fácil remodelar um tijolo-palavra. Principalmente se ele mal saiu da olaria e ainda está meio quente. Como destacou Lula em sua Carta de Salvador - Por um Brasil sem Racismo, lida ontem na capital baiana, o racismo brasileiro vem sendo recriado e realimentado a cada geração. Este processo deve ser parado e os danos reparados. Ai então poderemos dizer que nossa situação ficou negra (alegre/jovial/farta). Por ora, este pedreiro vai vestindo sua camiseta com o slogam "100% Negro", e espera novas polêmicas.
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