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Artigos-->ENCONTRO COM ROBERTO SZIDON -- 12/06/2012 - 21:36 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


ENCONTRO COM ROBERTO SZIDON



L. C. Vinholes



 



Foi em meados de 1974, pouco depois da minha chegada ao Japão, que recebi no Setor Cultural da Embaixada em Tóquio, ao pianista conterrâneo Roberto Szidon que se encontrava na capital japonesa para dar um recital. A visita tinha por fim buscar solução para o problema que enfrentava com a exiguidade de tempo para ensaio que lhe proporcionava a firma Yamaha, colocando um piano à sua disposição por apenas duas horas. Roberto afirmava necessitar de pelo menos de umas cinco horas nos dois dias que antecediam sua apresentação. Bastante preocupado perguntava se a embaixada poderia fazer alguma gestão que convencesse aos seus anfitriões reservar um piano para aquele tempo que ele considerava indispensável.



 



Procurei acalmar ao jovem artista e ao invés de procurar a solução por ele sugerida, telefonei imediatamente para o diretor do Instituto Goethe, cargo que naqueles meses ainda era ocupado pelo compositor H. J. Koellreutter que logo embarcaria para Nova Dheli para lá ocupar o mesmo cargo. Eu sabia que Koellreutter disponha não só do instrumento da sede do Instituto, mas também daquele do seu apartamento. Prontamente Koellreutter disponibilizou este último, pois sua esposa, a cantora Margarida Schaker, havia partido para uma tournée na Europa e o piano estava às ordens. Como faltava pouco mais de meia hora para o meio dia, Koellreutter convidou a Szidon para almoçar. De posse do endereço que lhe forneci, Szidon deixou a Embaixada com ar de alívio e foi ao encontro de Koellreutter e do piano que lhe proporcionaria as horas das quais tanto dizia depender.



 



No almoço manifestou a Koellreutter a surpresa em ver um funcionário de embaixada resolver um problema tão específico com tanta presteza e, do seu anfitrião, ouviu a informação de que o funcionário era compositor, aluno dos tempos da Escola Livre de Música da Pró-Arte, em São Paulo. Ao entardecer recebi telefonema de Szidon e no dia seguinte tomamos o café da manhã no Prince Hotel, no aristocrático bairro de Akasaka, no qual ele estava hospedado. Szidon manifestou interesse em conhecer minhas obras para piano e para atender sua curiosidade levei as únicas, peças gêmeas, que escrevi para este instrumento: Um e/ou Outra, de 1954; bem como cópia das Instruções 61, para quatro instrumentos quaisquer, e Instrução 62, para instrumento de teclado, publicadas em Tóquio na revista Desing nº 37, edição correspondente a setembro de 1962. Lembro-me de que Szidon demonstrou enorme interesse pelos conceitos de ambas as instruções e, obviamente, mais pelos desta última. A prova disto veio com o tempo quando retornando ao Brasil, para cumprir seus compromissos com recitais e cursos, passou informações e deu entrevistas às jornalistas Vera Beatriz e Maria Abreu que assinaram os artigos “Do Japão para Pelotas: Vinholes, revelado por Roberto Szidon”, publicado na seção Diário de Rio Grande do jornal Diário Popular de Pelotas de 25 dezembro de 1974, e “Um lugar ao sol”, da coluna Música do jornal Última Hora, do Rio de Janeiro, em 30 de janeiro de 1975. Recebi recortes destes artigos que me foram enviados pelo pianista Paulo Affonso de Moura Ferreira, então presidente da seção brasileira da Sociedade Internacional de Música Contemporânea - SIMC, nos quais encontrei informações sobre minha formação e atividades bem como valiosos comentários do amigo Roberto Szidon aproveitados por Vera Beatriz e Maria Abreu que em muito serviram para uma maior aproximação minha com o público brasileiro.



 



Nascido em Porto Alegre em 21 de setembro de 1941, Szidon iniciou seus estudos antes de completar dez anos de idade e teve como professor o pianista e compositor Karl Faust que mais tarde se tornou diretor de produção da Deutsche Grammophon, em Hamburgo. Em 1965, recebeu o prêmio do IV Centenário do Rio de Janeiro com a gravação do LP com o Rudepoema de Villa-Lobos (1997-1959) e, em 1967, a convite de Faust, embarcou para a Alemanha para realizar sua primeira gravação, com obras de Villa-Lobos, pela Deutsche Grammophon. Depois, o pianista foi à Inglaterra para gravar concertos dos compositores estadunindenses George Gershwin (1898-1937) e Edgard MacDowell (1860-1908) com a Orquestra Sinfônica de Londres. Mais tarde, gravaria o álbum com obras para piano de Radamés Gnattalli (1906-1998)do qual constam, entre outras, as valsas Perfumosa e Valiosa, os choros Manhosamente e Canhoto e a Rapsódia Brasileira. Durante sua estada nos Estados Unidos da América do Norte, estudou com os pianistas Claudio Arrau e Illona Kabos. Foi solista de grandes orquestras dentre as quais a Orchestre de La Suisse Romande, na Suíça, a de Cleveland, nos EE. UU, e a de Viena, na Áustria. Seus discos mais apreciados incluem os “As Sonatas de Scriabin”, “Rapsódias Húngaras de Liszt”, “Cirandas e Cirandinhas de Villa-Lobos” e o intitulado “Cem anos de Piano Brasileiro” incluindo, dentre outras, composições de Chiquinha Gonzaga, Glauco Velasques e Francisco Mignone. Roberto Szidon está documentado no curta-metragem, de 1979, do também gaúcho Antônio Jesus Pfeil. Com a experiência de ter vivido distante do Brasil por quase quarenta anos posso afirmar que os anos vividos na Alemanha não foram nem suficientes nem capazes de fazer Roberto Szidon esquecer sua terra natal. O grande pianista gaúcho faleceu em Düssendorf, na Alemanha, em 21 de dezembro de 2011. 


Comentarios

Barbara Rottmann Chasteen  - 23/02/2020

Adorei ler este texto. Sou parente distante do Roberto, acho que vi ele pela última vez nos anos 90, na minha adolescência. Eu ficava maravilhada vendo ele tocar o piano da casa da mãe dele quando vinha pra Porto Alegre. Além de grande músico, posso dizer por experiência própria que foi um ser humano raro, de um coração imenso.

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