Todo livro policial americano, daqueles clássicos, tem pelo menos uma coisa em comum com uma boa terapia psicológica: o amor à verdade. Psicológica, não: psicanalítica.
Não lembro da frase de Sigmund Freud, mas uma frase em um romance policial recente a recria em espírito, apesar de não em estilo: 'quem quer que tenha medo da verdade é pior do que titica de galinha'.
Assim, a honestidade e a coragem são necessárias para um detetive e um paciente de psicanálise. Uma coisa típica dos detetives clássicos é se apaixonar pela bela cliente. Neste caso a investigação vai fundo dentro dos afetos do detetive. Apenas seu amor à verdade permite que ele deslinde os últimos nós do caso, mesmo magoando e sendo magoado. Talvez por alguma inexorável honestidade -- típica do calvinismo ? -- ele segue em frente.
Talvez algo assim possa ser dito da escrita. Mas o importante é que o escritor, detetive e paciente têm que ser mais corajosos, ser sensíveis à verdade, espertos para deslindá-la.
Neste caso, o psicanalista vende seus serviços explicando que apenas sua formação de analista é capaz de abrir seus olhos e que, mesmo sendo honesto e corajoso, o paciente ainda é cego.