Há fé na morte que dá a vida, vida eterna
Há morte da fé, que condena a vida, vida efêmera
Há duas mortes, a do corpo e a da alma
Há o cheiro da morte,
A alma que se liberta, perfume
Há o cheiro do morto,
O corpo que se extingue, podre
Há uma escolha, uma esperança
Que se lança além desta folha, além das palavras
Que te convida para uma vida além desta vida
E te resguarda da morte, que te mata mais do que o corpo
Te mata a cada dia, e te faz matar aos poucos
Cada um que se acerca de ti
Na falta de amor, na alta vaidade
A condenação diária que segue, te atira à lenta morte
Estéril e sem sentido, te faz passar os dias
Como se gasta uma sola de sapato
Gelo que se consome ao sol, e só
Ao fim, queixa-se a sorte
O cheiro do morto abafa o cheiro da morte
E a morte da alma, triste destino
Rompe o fino vínculo que te une a Deus
Teus pobres olhos já não alcançam ver
As trevas choram cada vão momento
Que em troca de prazeres rápidos
A vida eterna se afastou de ti. |