Minha doce e amável Giuliana
já estou daquele jeito
que não tem mais conserto
ou levo você pra cama
ou desperto...
tenho vontade de dizer não
tantas vezes
até formar um nome...
Dentro de mim mora um grito.
De noite ele sai com suas garras, à caça
De algo para amar...não encontro...
onde está você , agora?
por aqui , todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora...e
você , quando vens?
Eu te amo
como um colibri resistente
um incansável beija-flor que sou ,
batedor renitente de asas
viciado no mel
que me dás
depois que atravesso o deserto,
pingas na minha boca
umas gotas´
poucas
do que nem é uma vacina ,
eu um homem ,
um bicho , um menino ...
assim chacinas
o meu tempo de eremita :
Quebras a bengala onde me apoiei ,
rasgas minhas meias ,
as que vestiram meus pés
quando caminhei as areias
Eu te amo
como quem esquece
tudo diante de um beijo :
As inúmeras horas desbeijadas
os terríveis desabraços
os dolorosos desencaixes
que meu corpo sofreu
longe do seu
Elejo sempre o encontro ,
ele é o ponto de crochê .
Penélope invertida
nada começo de novo ,
nada desmancho ,
nada volto ,
teço um novo tecido
de amor eterno
a cada olhar
seu de afeto ,
não ligo para nada
que doeu .
Só para o que deixou de doer
tenho olhos ...
Cego do infortunio ,
pesco os peixes dos nossos encaixes ,
as confissões de amor,
as palavras fundas de prazer,
as esculturas aztecas
que nos fixam,
na história dos dias...
onde me assusta
e me acalma ,
ser portador de várias almas ,
de um só som ,
comum eco,
ser reverberante ,
espelho ,
semelhante ,
ser a boca ,
ser o dono
da palavra
sem dono,
de tanto dono
que tem...
Ris Catherine
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