FURÚNCULO
Que me desculpem os leitores a deselegància da palavra. Quando chegou em minha cidade o enorme alemão, fiz o primeiro contato com a sua inflamação de origem estafilocócica, vulgarmente conhecida como furúnculo. Estava participando de uma pelada quando - surgido não sei de onde - meteu-se no jogo aquela figura desajeitada. Tinha o dobro do tamanho de cada um da turma. Não entendia quase nada de português, mas foi ficando, se agregou ao time adversário. Numa hora - juro que não foi por querer - ao disputar uma bola, dei com o pé na sua canela, bem em cima do vistoso furúnculo. Jogou-se ao chão, torcido de dor, e antes que pudesse desculpar-me, entrou em campo outra figura, tão exótica quanto ele, e me expulsou do jogo. Era sua irmã mais velha.
Isso foi apenas o começo. Houve também o episódio do cuspe (que não há espaço para narrar aqui). Noutra ocasião, o galego andava atrás de mim por causa de uma fraude na troca de gibis. Furibundo, gritava no seu linguajar: eu te pega, misserrável! Levei um tempão cortando caminho por um morro, evitando passar diante de sua casa. Mesmo assim, num dia em que fui com meu amigo Zé comprar biscoitos, dou de cara com o alemão, me esperando no topo do morro: agorra eu te pega!
Meu amigo, maneiro, colocou-se a uma distància prudente, de onde me gritou: - não se preocupe, os biscoitos estão salvos! E me deixou sozinho diante do enorme germànico. Depois de recomendar ao Zé onde enfiar os biscoitos, passei a dar fintas de corpo em meu oponente, enquanto ele se exasperava, tentando me agarrar. Até que me cansei da brincadeira. Quando ele arremeteu como um boi raivoso, abaixei-me de repente e seu corpo voou por cima do meu, indo estatelar-se no chão. O galego dava urros de dor ou de ódio. Eu já estava longe. Então voltei-me e vi aquela sanguera toda - adivinhem onde? Depois disso, nunca mais o vi, tinha voltado para a Alemanha. Minha despedida também fora em cima do famoso furúnculo.
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