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Poesias-->Hoje -- 12/02/2003 - 23:31 (Francisco Nazareth) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Hoje

 

Hoje não:

Não tenho mãos e a alma está densa,

Solta, sem forma, caída para lado nenhum

Presa a si e embrulhada, desembrulhada

Toldada. Por aí não vou, não sou dono de mim,

Não escolho, não sei.

Saber é dizer o que já não é ...

Eu estou na ignorância, na minha e na tua

Se ela existe, para mim, para ti, para o mistério.

Na rua quem fala são os sinais e eu deixo-os dizer:

Dizem o que sinto na pele, o vermelho de um não

Que me deixou,

A dor amarela presa ao silêncio de poder ser.

Vou partir ... parto sempre, com as mãos presas ao que deixo,

A palavra lograda num texto sem preço algum.

Hoje sim: hoje estou aqui.

Hoje talvez seja.

Talvez possa dar no meu sorriso

Os milhões de olhares que deixei presos ao mundo

Sem sequer pensar em os agarrar.

 

Montra

 

Pelas ruas da cidade vejo vultos

Nem por isso pouco comuns.

Deixou de haver diferença visível,

Ela esconde-se no medo de ser revelada

Não se dá solta, não se mostra

Não é divergente.

E é por aí que eu passeio,

É por aí que sou e não me escondo.

Volto-me de repente e ela está lá:

A mesma e já outra

A igualdade cristalizada,

Sombreada, igualitarizada

Num nada sem tempo,

NUM tempo que é este, que é um,

O mesmo espaço, o mesmo dado

Sem oferta, transiente, pleno e perdido.

Volto-me e ela já lá não está,

O que não é importante, nunca foi,

Mas merece a palavra

Essa outra de si mesma, envolta num lugar sem “si”

Que sabe dizer não.

 

Mão

 

As vozes que se dão sem questões

Deram em permanecer.

São as vozes que

Esquecem a justiça,

Vozes altas de afirmação,

Imensas, moles maiorias sem braços

Que me rodeiam sem cessar.

Por ti gritarei forte

E darei a minha cor sem medo.

Volto-me para o mundo,

Olho-o de frente e não esqueço

Que as madrugadas um dia ditas

Tiveram um propósito,

Ou vários, talvez perdidos

Mas não esquecidos,

Talvez mais tácitos, menos explícitos,

Mas meus

E de todos os que acreditam

Nesse murmúrio que sabe valer a pena falar

Enquanto por aí passear

A sombra triste da dor.

 

 

 

Brilho

 

Dar é poder. Poder já não é dar.

Olhar é dizer. Dizer, sem olhar, é sempre dizer, é não calar.

Dou. Olho. Escrevo.

Entretanto paro. Dou ... não propriamente: Dou por mim, isso sim. Parei de pensar e olhei. No teu corpo estão inscritas as formas de vida que circulam no meu. No teu corpo deixaram de existir as pressões que marcam o meu.

De dia não tenho cor e olho o mundo sem o fixar. A noite traz-me um paz renovada ... já foi assim, antes era assim. No meu mundo as barreiras acabam onde começam, no lugar da pele onde também está o pensamento. Nas mãos nervosas em que escrevo o que olho: ... “file ... save” língua da tecnologia, específica, que não flui, que esquece a magia de um só dizer servindo muitos. Mas eu não vou por lá, eu resisto aqui, falando de dentro do meu lugar, lugar de vários lugares, muitos dados ao silêncio, lugar de onde falo, de onde parte a minha voz para dentro do mundo sem esperar retornos. E é teu também esse lugar. Hesitas nele, admiras a cor nervosa dos olhos límpidos que em mim colocas, ficas perplexa e gostas, sem eu saber como gostas ou de onde parte o teu gostar. Pelo dia, que descubro na noite brilhante em ti deixada, passam cenas nervosas dum passado que é só meu, que ainda sou eu. Dás-me a mão. Eu paro.

 Dar é poder. Poder já não é dar.

 

Newtown

 

Hoje e agora.;

O dia desta noite

A sombra que esmorece

Sobre um olhar a fenecer.;

Na dor dos meus passos não há silêncio.

As vozes são dadas em festim,

Ocaso duplo de mãos soltas

Envoltas num ar sem cor

Amordaçado por silêncios que te foram dados,

Já sem remédio, sem fuga.

Na tua pele há uma inscrição que não é minha:

Um voz sáfica e bela inebria-me

No “como será” desta minha tristeza

Tão maldita que já não tem som.

Contemplo-te, imagino-te noutro corpo,

Feminino também

Doce como o teu ar límpido

De lua perdida em que as nuvens passam

Sem reparar.

Em frente das mesas havia alguém.

Eu não reparei:

Duas mulheres riam,

Cruzavam as mãos em ternura,

Abandonavam-se.

A minha carne cheira a espera,

O meu corpo acordou e não tem manhã,

Não há fim, nem porto nem luz

Só esta carícia que chega ...

Que chega pela noite

E não se entrega ... espera.

Contemplo-te, imagino-te nesse corpo,

A tua morada,

A tua pertença,

E tu nem sabes,

Ou já sabes?

Deste-me um pouco da tua noite

Um ponto que chega,

Um ponto que vai.

Parei só no sinal que me leva a casa,

Numa luz sem dó,

Sem dizeres que eu ouça no lugar da minha morada.

Boa noite bonita ...

 

 

 

“AUX” a ouvir os “Cure”

 

Este é o meu caminho:

Pelas ruas de cidades sem nome,

De terras sem esperança

E corpos despedaçados

Pela ausência de tudo o que sempre tive,

Esculpi sem reservas

A face de toda a minha

Volátil, errante, perdição.

Fartei-me

Dos corpos que não viram o amor

Das raivas que não têm perdão.

Pelas praias despojadas

Em que os vultos comprados se erguem

Olho sempre a distância

E nada vejo.

Nas manhãs em que a despedida se anuncia

Dispo a pele em que sirvo outros eus

E feneço,

Adormeço de novo,

Sem esperar acordar,

Sem essa manhã na qual te vi

E pensei, sem sacrifício,

Que o corpo da luz me dava

A hora de sorrir.

 

Coisas

 

A sala cheia de luz,

O PC ligado,

E o Michael a cantar:

“If you hear these voices calling”.

Um espelho escuro

Onde não quero olhar,

Um copo de tinto,

Meio vazio

No silêncio

Da minha espera

Já decidida.

Dois telefones

Não chegam,

Uma TV sem luz – nunca teve – sem cor

Que por vezes tem.;

“Do my eyes seem empty”

Diz ele

E eu deixo-o

Aqui, aí,

Em ti

Em nós

“Have you been, have done, will travel”

Por aí

Sem dó, sem pressa, sem presa

Na fluidez do meu olhar

Que não fixa,

Dá-se sem ser e regressa:

À sala cheia de luz,

Ao PC ligado

E ao Michael a cantar:

“All the way to Reno ...”

Desafiando as leis da mudança

(Isto é dele mas eu traduzi)

“You´re gonna be a star”

Mas não eu.

 

Dedicatória

 

Que a entrega seja feita

Em nome de um desejo:

Não a função certa do poder.

Que a palavra seja dada

Em nome de uma verdade:

Um sorriso meigo por criar.

Que a luz seja vivida

Na sombra ténue que vê sorrir:

Nunca o desprezo solto, a cair.

Que em todas as coisas

Guardadas nas palmas

De uma só mão

Caibam as lutas e vitórias

De um só dia

Pleno, solto,

Todo ele sentido

Nunca o nada que corrói, que dói

E se faz dia

Em sombras múltiplas

E reflexos sem cor.

 

Noite

 

Juntámos os lábios

E a minha mão correu o teu corpo

Livre, em glória,

Solta como um tempo que não recordo,

Que deixou de existir

E parou: olhou-nos nos olhos,

Deixou-se ficar sereno, sem luz,

Nas nossas mãos soltas

Que despem barreiras

E erguem vitórias,

Húmidas como todas elas,

Em suspiros segredadas, dadas,

Entregues no ar e na penumbra

De um arder forte,

Que muitos julgam proibido.

Com a boca quente e em dor

Procuro-te, entro em ti,

Nos teus silêncios, Na tua luz

Nos negros espaços

Dos teus medos amordaçados

Por histórias que não queres contar.

No fim deste fim,

Talvez de muitos fins,

Abraço-te e dou-te o meu,

Esse sim, o meu silêncio,

Sem te querer despertar

Deixando-te partir em mim,

Na minha pele,

Neste corpo que é o meu lugar.

 

Safo

 

Hesito sempre em perguntar

E não resisto: como era ela?

Doce luz que a ti soubeste dar.

Imagino

A tua nudez entrelaçada

E sorrio,

Como se fosse eu, sendo tu,

Como se estivesse e não estivesse,

Doce perversão, último suspiro,

Terna imensidão.

No teu corpo tens inscritos

Os sinais de uma longa dor.

No teu corpo estão ditos

Outros gritos,

A mesma cor e muitos ritos

Desse passado silenciado

Que te cumpre revelar.

Dou por mim a sorrir

Nas formas da tua mão:

Tímida de me ver

Tão masculino, firme,

Sem saber quando partir

E desejando ficar.

 

 

 

(Un)ending

 

Hoje, ao telefone, autorizei-me

O fim,

O que, de facto, não tem importância

Nenhuma:

Do fim há sempre

Algo que continua,

Não se sabe o quê,

Não se deseja definir.

Hoje vi uma cidade

Imaginária

Toda azul, de esferovite:

Imaginei-te lá,

Dei-te uma vida



E tu ficaste,

Dizendo-me, com um sorriso,

Que eras livre

No labirinto que eu

Criara:

Confrontei-me com palavras

(“that is one of the mysteries

in all this …”Veil Granö, Customs House

1/6/02)

E encontrei um texto antigo

E este dizia:

(Incorporo-o agora: é meu, eu quero-o

aqui)

Um pensamento que promova a ruptura de barreiras entre realidade e ficção, entre literatura e ciência: não se trata de negar o real, mas de afirmar que ele está imbuído de narrativas que nele se jogam e o constituem, assim como cada ficção é uma visão do mundo que é real porque EXISTE e é afectada pelos mundos circundantes, assim como os afecta a eles. As narrativas e ficções (científicas ou não ... será que importa?) usam metáforas e contam histórias exactamente porque se consagram como perspectivas instrumentais que são afectadas por “conceitos concretos”, assim como a literatura se consagra com perplexidade que é jogada num mundo de incertezas ...”

Parti com um sorriso

Nos lábios

E a face vazia.

Ontem, noutro jogo,

Entre muitos “jogos”,

Alguém dizia

Coisas sem sentido

E eu entendi

Que aqui,

Onde eu falo,

As pessoas são como alguns “jogos”:

Não conhecem posições no campo.

Este meu beijo

É uma dádiva:

Tu estás,

Estarás sempre

Nele.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



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