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Contos-->COITADO DO MINEIRO -- 09/12/2002 - 00:17 (JOÃO EVANGELISTA DE SÁ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
COITADO DO MINEIRO

Quase tudo acontece cum o mineiro.
É uai. Outro dia, ieu peguei um ônibus na cidade grande, vai daí cumecei a oiá uma moça do outro lado da portrona. Ela de veiz in quando dava uma oiada pru meu lado. Antonce pensei: Acho qui ela tá gostando do vei aqui.
Num demorou muito já tava no ponto de parada daquela assanhada. De repente o ônibus parou e ela passou perto de mim e disse:
- Até quinta – E lá se foi.
Fiquei todo alegre, pensando que a bicha ia pega o ônibus na quinta-feira próxima, antonce cumecei a contá nos dedos assim: Segunda, terça, quarta, quinta.
Foi só quando fexei os dedos é que pude percebe onde é qui ela tinha me mandado toma, uaí.
O povo dá de gozação quando vê um mineiro caminhando nas avenidas de São Paulo, pior ainda é quando um mineiro pega um avião, mas mineiro num é bobo não, teve um dia desse que inventei faze um vôo pur riba de São Paulo. Dentro daquele trem tinha mais uns três paulistas. Aquela coisa tava lá no alto, quando incherguei o Murumbi, uma coisinha deste tamaninho (MOSTRA O DEDO FECHADO) Antonce perguntei prum deles que foi logo respondeno aquilo qui ocê ta vendo daqui de cima é o retrato do seu (MOSTRA O DEDO FECHADO) do mineiro. Cumo mineiro num é bobo antonce pensei, isto num é coisa boa. É uai! Aí antonce falei prele qui quando chegasse lá em baixo a fotografia com certeza parecia com o (MOSTRA O DEDO FECHADO) dele. Ah! sê acha qui mineiro é bobo sô.
Agora pia só. Ieu tavo sucessegado na Praça do Correio, em São Paulo, dando mio aos pombo, quando aproximou de mim um paulista e fechô o dedo indicador com o polegar e perguntou o que era aquilo, arrespondi logo qui era um “O”, antonce ele disse qui num era “O” nada, qui era a o tamanho do meu butão. Mineiro num é bobo não sô! Ieu arrespondi prele qui só se fosse o dele pur quê o meu era assim. (MOSTRA A MÃO FECHADA)

UMA PESTANA
Uai! Sô. Trem danado é o tar de sono. Mas tombém nunca tinha feito um viagem longa.
A saída ia sê lá pelas dez da noite. Antonce, cumo sou mineiro e cumo mineiro num perde o trem, fiz questão de chegá lá donde dá a partida, mais cedo. Eles chama aquilo de rodoviária. É isso mermo, rodoviária. Cheguei pur lá ainda dava de marcá num relógio grande, dipindurado no teto da istação, umas nove horas mais ou meno.
Antonce cumo já lá ia dizendo, o ônibus ia saí lá pelas dez, e cumo tinha chegado as nove, de modo que sentei nuns banco pur ali. Fiz um pito de paia, pitei. Dispois dei de assisti televisão, pois a danada da hora num passava...Teve um momento que cumecei a dá umas pescada. Paricia que o sono tava dando de querê tomá conta de mim.
Foi aí que tudo cumeçou. Logo veio um guarda, deu uma catucada dibaixo do meu braço e perguntou:
- O Sinhô vai viajá?
Antonce eu arrespundi:
- Uai! Vou. O trem já foi? Quer dizê o ônibus já foi, seu guarda?
Cum toda gentileza o guarda arreparou ieu de baixo im cima e adiantou:
- Não. Mas tá quase na hora. Vê se num cochila.
Num demorou muito, dei de iscutá, “Senhores passageiros com destino a Capital dirijam-se à plataforma de embarque”.
Aquele sono qui dava de dirrubá inté cavalo im pé diluiu todo, fiquei ispantado, peguei meus apetrecho, saí arreparando onde tava o onibus Xarilú, o que ia para a capital, ieu qui num sou de muitas letras, quase qui ia perdendo o danado se não fosse um vendedô de água na garrafa que passava pur ali. Foi só perguntá e ele deu a informação.
Antonce, já sentado naquela portrona macia. O motor do carro já roncando. Iscutei: “Senhores passageiros com destino a capital tomem seus lugares. É hora da partida. Boa viagem!”.
A lotação num tava completa, não. De forma que busquei incostá na janela, pra mode tomá um arzim na cara quando desse de querê injuá. Só senti mermo foi os primeiros solavancos, o resto foi na maciota.
Fiquei a oiá os postes de luz passando, as casas tombém. Num demorou muito já havia pegado a istrada. Tudo ficou iscuro.
Rodemo assim coisa de mais ou menos meia hora, meus zoi cumeçou a pesá. Antonce dei de tirá aqueas pescada parecendo cavalo vei. Trem danado é o tar de sono. Guando vem, vem dirrepente.
A viagem foi se dando. De veiz inquando um farol batia nos meus zói, antonce ieu tomava aquê susto, mas virava pru outro lado e pronto.
Já tava lá pela metade do caminho, quando sentou de meu lado uma loira, toda cherosa, cum um sorriso parecendo meia lua, arvo como a brancura do dia nevoso.
Ieu fui arredando, arredando, pra mode num incostá nos braço dela, mais oia só, sem falá uma palavra a danada lançou o braço incima de minha perna e foi descendo e subindo, descendo e subindo.
Uai! O quê qui ieu fiz? Cumo num sou bobo de todo, fui deixando a cabeça cair pru lado dos ombro daquela gostosona, assim cumo quem tava drumindo.
Se ela tava gostando? Acho qui sim. Num falou nada. Nadica de nada.
O ônibus fez umas duas a três parada, mais cumo aquilo tava ficando cada fez mais quente, num desci ni ninhuma, não.
Fiquei cum medo mermo foi do cobradô, o home qui confere as passage. Fiquei cum medo de qui ele visse a gente naquele rela-rela e dispois querê dá de descê a gente no meio do caminho.
Pur sorte minha e daquela loirona, ele ficou lá na frente junto cum o motorista.
A gente foi intão daquele jeito. Só o qui ieu tava achando ingraçado é qui a danada da loirona num dava uma palavra. Mais qui tava gostoso, tava.
Quiria qui aquela viagem num acabasse nunca mais. Aquê ar gostoso saindo da boca dela ia se misturando com o perfume ispaiado pelo corpo. Mas agora num sei o qui aquela muié quiria cumigo! Vei cumo sou e ainda pur cima cum cheiro de pito de paia e pó rapé, sei não. O que qui aquela muié viu neste caipirão aqui? Teve hora qui fiquei mei cismado cum aquilo. Antonce nesta hora de cisma tomava aquê susto, mas era um susto passagero.
Aquilo foi indo a viagem inteira. Viagem que demorou coisa de umas oito horas. De maneira que já raindo o dia, já quase chegando na capital, num percebi mais a presença daquela muierona perto di mim, não. O perfume dela já tinha ido tombém.
Antonce vai qui daí mais ou meno umas duas horas o ônibus tava incostando na istação da capital. Só havia percebido qui tinha chegado pur quê deu aquê solavanco cumo na saída qui inté quase qui bati a cabeça naquês ferro. Ai fui que dei pur alívio e aliviado. Aquela loirona tava sentada perto de mim não. Era tudo sonho.

FIM

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