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Contos-->RELATOS DO INVEROSSÍMIL - PARTE VI -- 09/12/2002 - 15:23 (Wellington Macêdo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
À cada dia a confabulação entre os cães vai e tornando mais envolvente. Os diversos temas por eles abordados, se não bastassem serem revestidos de profunda sapiência, demonstram acurado sendo de observação no que diz respeito aos fatos que se desenrolam no dia a dia. Enquanto a maioria dos humanos usa grande parte dos seus momentos vividos em conversações fúteis desprovidas de uma maior profundidade os cães, ao que nos está sendo permitido depreender, utilizam-os na abordagem de assuntos da mais alta relevância.
Exímios observadores e sobremaneira perspicazes, têm no âmago das ocorrências um campo fértil de inesgotáveis ensinamentos. São os cães, por mais inacreditável que no pareça, dotados de aguçada sabedoria. Aparentemente alheios ao que se desenrola à cada momento são, na realidade, pensadores de vigorosa grandiloquência.
Na qualidade de observador privilegiado afigurou-se-nos, no entretanto, que a nossa presença cada vez mais próxima dos referidos interlocutores poderia se tornar motivo de inibição para eles. Para que tal fato não ocorresse tentamos nos posicionar por trás de um jornal, simulando que o nosso interesse naquele local estaria voltado, exclusivamente, para o noticiário alí inserido e não na flagrante curiosidade quanto aos assuntoss que porventura seriam abordados.
Quase imperceptivelmente o cão rico, juntamente com a sua dona, aproveitanto-se da amenidade daquela tarde de verão e no frescor da brisa acariciante, chegam à praça onde já nos encontramos nós e o cão pobre. O cumprimento entre os cães antes revestidos de marcante cerimônia, adquiriram um elevado grau de intimidade deixando-os inteiramente à vontade.
----- Olá meu amigo ----- exclama o cão rico ----- que tarde convidativa para uma boa conversa !
----- Por certo ----- responde-lhe o cão pobre. Qual não seria o contentamento da maioria dos humanos se ao invés das constantes preocupações que lhes acompanham no dia a dia, se acumpliciassem das belezas contidas numa tarde como essa ! Observe aquela criançada a correr de um lado para o outro em festiva algazarra; numa abundância de alegria repleta de tanta expontaneidade. Como seria a vida se cada um dos humanos tivesse novamente dentro de si um coração de criança !
----- Ah, meu amigo, com certeza a maldade; a concupiscência desenfreada; a hipocrisia seriam alijadas dos corações dos homens. A solidariedade; a fraternidade alavancariam o ber estar social não dando margem à tanta miséria entre os povos.
----- Outro dia, no silêncio da minha costumeira introspecção, estava avaliando com tristeza a alta incidência de mortalidade infantil Crianças que morrem antes de completar o primeiro ano de vida em decorrência da fome; da subnutrição, da epidemia de doenças já totalmente erradicadas nos países do primeiro mundo; sucumbem devido principalmente à falta de saneamento básico. Cá entre nós, se não houvesse o descaso das autoridades responsáveis; se não houvesse a prevaricação de muitos; se fosse coibido o vergonhoso desvio de verbas que deveriam ser destinadas para suprir as necessidades básicas da população desassistida, as nossas crianças cresceriam robustas e saudáveis. Teríamos mais salas de aula com professores melhor capacitados e com salários menos aviltantes. Não haveria essa abominável miséria. Alguns, mesmo pobres, teriam suas necessidades básicas satisfeitas; enfim, pobres mas com dignidade ----- conclui o cão pobre.
----- Nas tudo isso ao que o amigo se refere me parece uma utopia diante de tão arraigado egoísmo dos humanos. De que adianta a posse de verdadeiras fortunas se perdem a liberdade. Vivem reclusos em suas casas que mais parecem fortalezas medievais. Amedronta-lhes o direito de andar livremente quando da perspectiva de um assalto; do sequestro de um de seus familiares ou mesmo, em casos extremos, de verem a vida de seus entes queridos ceifadas de forma a mais torpe. Se houvesse uma melhor distribuição de renda a violência que assistimos hoje em dia diminuiria por certo. Os crimes hediondos passariam a constituir fatos de extrema raridade. Os vultosos investimentos alocados para a segurança pública e ao sistema penitenciário seriam utilizados na melhoria da saúde, da educação, dos meios de transporte e assim por diante.
-----O que me assusta, mesmo que estejamos imunes por natureza, é o tráfico e o consequente consumo de drogas alucigenatórias, sobretudo pela juventude ----- enfatiza o cão pobre. As autoridades se vêm cada vez mais incapazes de combatê-las. Jovens sem escola; sem oportunidade de trabalho; sem opção de lazer; sentindo-se desamparados pelos governantes, são inclinados a enveredar por caminhos tortuosos que os conduzem à prática de ações delituosas. Tdo, diante da falta de oportunidade que os conduzam a formação e solidificação de princípios morais compatíveis com a vida em sociedade.
----- Se bem que a toxicomania não seja privilégio das camadas menos favorecidas. Abundam na sociedade dos humanos exemplos de jovens pertencentes às camadas mais opulentas; jovens que nada lhes falta de material e que na ausência de uma perspectiva de vida se deixam consumir por tão deplorável dependência. Lá em casa, um rapaz da família infelizmente se deixou levar por tal vício. Por intervalos cada vez mais curtos a família o interna numa clínica especializada no tratamento de dependentes de drogas com a finalidade de proceder a sua desintoxicação sem, no entanto, alcançar o objetivo desejado. Assim, após cadas alta obtida ele envereda pelo mesmo caminho. Porém, o que mais me penaliza é que todo o dinheiro que ele consegue através dos seus familiares é imediatamente repassado aos criminosos traficantes para a aquisição de mais drogas. Às vezes, numa ânsia incontrolável de suprir a sua dependência, chega a vileza de furtar objetos lá de casa e vendê-los em seguida, na maioria das vezes por preços issisórios e o produto utilizar na compra de drogas sem, no entanto, conter a sua insaciabilidade.
----- Que bom seria se os humanos tivessem a sensibilidade que lhe é peculiar ----- diz o cão pobre. A nossa conversa de hoje, onde abordamos alguns assuntos que nos interessam de perto, foi deveras agradável a ponto de não percebermos o passar das horas. Nos permita Deus que tenhamos outras oportunidades assim com tanta proficuidade onde possamos expor as nossas idéias.
----- É, da minha parte nem percebí o adiantado das horas. Provavelmente nos veremos amanhã à tarde já que a minha dona está me chamando. Que você tenha uma boa noite.
----- Prá você também, meu amigo ----- replicou o cão pobre. Desejo lá do fundo do meu coração que a nossa amizade perdure através do tempo dentro da mais pura e sincera cordialidade. Boa noite.
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