Usina de Letras
Usina de Letras
19 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62285 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5458)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6209)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Use o seu Celular para fazer reclamações -- 13/09/2002 - 16:28 (Wilson Gordon Parker) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Use o seu Celular para fazer reclamações

Eu detestava telefone celular, mas, atualmente, estou convencido que esse negócio é a maior invenção de todos os tempos. A popularização do mesmo me deixou alegre.

Qualquer brasileiro que não esteja naquela faixa dos trinta e dois milhões de miseráveis que não tem o que comer pode comprar. O pobre que não seja miserável pode ter um, pois é só comprar créditos telefónicos quando tiver algum dinheiro sobrando. Como nunca sobra, ele terá que comer menos, ou quase nada, durante uma semana, e desta forma ele poderá comprar um cartão de dez reais.

Mas o pobre em geral só recebe chamadas, porque ele economiza as ligações, reservando os seus créditos para as emergências que surgem no seu dia a dia. Como rico não "liga" para pobre, e quando aparecem aquelas tais emergências o pobre não tem para quem ligar, ele fala muito pouco no celular.

O celular tem uma grande vantagem para o pobre, porque faz bem para o seu ego portar um na cintura e, a qualquer hora, ele pode telefonar para quem quiser, mesmo sabendo que ninguém gosta de atende-lo, inclusive se do outro lado da linha estiver outro pobre que sempre esta esperando receber a chamada de um rico.

O pobre poderia usar o celular para reclamar, porque na maioria dos números de atendimentos ao cliente a ligação é gratuita. Então vamos fazer um movimento para tornar o celular um objeto útil para a sociedade.

O telefone móvel, conhecido aqui no Brasil como "celular", pois brasileiro adora ser diferente do europeu, mas é "crazy" para copiar o americano, às vezes é realmente muito útil.

Sexta-feira passada, 11 de Janeiro, na mini rodoviária que fica no centro do Rio de Janeiro, num lugar chamado Castelo, perto do Aeroporto Santos Dumont, como sempre faço nos finais de semana, fui comprar a minha passagem.


Como o "frescão" (ónibus com ar condicionado) já estava cheio, resolvi comprar passagem para o "convencional" (sem ar condicionado), que sai as 18:15 h. Como sempre faço, sentei-me num dos bancos de espera, sob um calor escaldante, pois o local fica como que no subsolo de um edifício-garagem chamado Terminal Rodoviário Menezes Cortes.

Fui logo cercado pelos pivetes da área, que reclamaram por eu ter chegado em cima da hora de viajar, pois eles adoram ouvir as minhas histórias. Interessante é que os meus casos amorosos eu só conto para eles. Já me chamaram para ir visitá-los no lugar onde moram, que é no subsolo de uma rua no centro do Rio, e eu sempre falo para eles que vou lá no inverno. Após o rápido bate papo, fui para o ónibus. O motorista, já conhecido, ficou com o canhoto da passagem e entrei. O trànsito estava um engarrafamento só.

O meu celular tocou quando estava colocando a pasta no bagageiro que fica dentro do ónibus. Era um cara de Manaus exigindo que eu parasse de ligar para a mulher dele. Ponderei que morava no Rio, e o sujeito disse que sabia, mas que não entendia porque eu com tantas mulheres gostosas aqui telefonava para a merda da mulher dele lá. Falei que não era eu que ligava, e tudo deveria ser um grande equivoco, ou um clone do meu numero do telefone. Ele ameaçou me matar e desligou.

Logo depois do ónibus sair do terminal em direção à Nova Friburgo, olhei para o relógio do ar condicionado no painel do motorista que marcava 27 graus. Um calor infernal, e abafado.

Conforme disse, havia comprado passagem para o convencional, mas colocaram um com ar condicionado que tem as janelas vedadas. Tudo fechado. Não entrava ar nenhum, a não ser pela tubulação.

O motorista só havia ligado a circulação do ar, que saia pelos tubos que ficam em cima das poltronas, mais parecendo o vapor que sai do bico de uma chaleira de água fervendo.

Levantei-me, e fui pedir ao motorista para que ligasse o ar condicionado, pois como o ónibus não tinha janelas para serem abertas, o calor estava insuportável, e dentro em pouco alguns estariam passando mal, pois a temperatura interna tenderia a aumentar. Mesmo naquela hora, o calor nas ruas do rio ainda era sufocante. O motorista tentou ligar o ar, e falou:

- Não está funcionando.

- Então vamos ter que dar um jeito nisto, porque senão muita gente vai passar mal aqui dentro.

Nenhuma resposta. O visor da temperatura marcava 29 graus.


Fui para a minha poltrona, olhei o numero de atendimento ao cliente que eles são obrigados a ter em local visível.

Auto Viação 1001 - 0300 313 1001

Disquei.

Uma voz supersimpática atendeu.

- Boa noite, Claudia, em que posso servi-lo?

Narrei para a nossa adorável recepcionista o que estava acontecendo a bordo do ónibus de número 108164, horário 18:15, Castelo-Rio, e disse que iria também ligar para a Policia Rodoviária Federal na ponte rio Niterói e para o jornal "O Globo". Ela ficou espantada com o que eu narrava, e disse que ia comunicar o ocorrido à supervisão da empresa. Pediu o numero do meu telefone celular e o meu nome completo.

Na saída da ponte Rio-Niterói o ónibus foi interceptado, e direcionado para uma das garagens da empresa 1001 que fica em Niterói. O forno ambulante foi trocado por um ónibus muito bem refrigerado. E todos seguimos a viagem muito satisfeitos.

Disto tudo tenho que comentar o seguinte:

A maioria dos passageiros tinha telefone celular, mas nenhum deles pensou em ligar para fazer a sua reclamação, e ninguém se dirigiu ao motorista para perguntar porque ele não ligava o ar condicionado.

Serei mais homem que os que lá estavam? Não! Esta não é a questão. O fato é que o brasileiro, que nunca foi muito chegado a protesto, desaprendeu totalmente de faze-lo durante o tempo em que fomos encurralados pela ditadura militar que nos desgraçou durante 25 anos.

O regime militar despolitizou o povo, amordaçou os formadores de opinião, prendeu e torturou os contestadores, idiotizou parte da geração que surgia, e, assim sendo, no inicio dos anos 90 entregou ao Brasil um rebanho de cordeiros.

O poder foi entregue na mão das elites, a mídia se juntou por inteiro para apoiar este processo, e o rebanho todo vota em quem os poderosos querem.

Pobres não votam em pobres, votam em ricos.

O património nacional é sucateado e dado de presente aos grupos estrangeiros que aqui aportam. O trabalhador vai perdendo os seus direitos, e o cabo Anselmo que está na presidência da república vive sorrindo lépido e fagueiro.

Os pobres pagam mais imposto de renda do que os ricos.


E ninguém protesta, nem pensa em pegar o celular e ligar para o Palácio do Planalto, ou algum serviço de reclamação de qualquer ministério e órgão público, e dizer que a vida aqui no Brasil está insuportável e sufocante, e só tende a piorar.

Gente, não deixem que os argentinos comecem a espalhar por aí que somos uma república de bananas, literalmente falando.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui