O território da sede do município de Barbacena é cortado ao meio pela estrada de ferro, Linha Centro, que liga o leste brasileiro ao centro/oeste de Minas Gerais. Até o início dos anos setenta o forte da ferrovia –Estrada de Ferro Central do Brasil- eram os trens de passageiros: o Rápido, O Noturno e o Misto, este último transportando passageiros e cargas, todos eles com uma máquina a vapor e quatro ou cinco vagões no máximo. O tráfego de trens era, portanto, muito pequeno. Depois é que começou o transporte de minério de ferro.
Em 1973 foi feito um estudo por um consórcio de firmas de planejamento e projetos para o estabelecimento de uma ligação ferroviária entre Belo Horizonte e São Paulo, com ramal para o Rio de Janeiro, para escoamento do minério de ferro a ser exportado e para suprimento das aciarias do sudeste. O projeto previa a construção dessa ligação num total de 834 quilômetros, com via dupla e eletrificação do trajeto.
O projeto sofreu alterações, tendo sido construída em via única a denominada Ferrovia do Aço, também conhecida como a Ferrovia dos Mil Dias (este era o prazo para sua construção) que ligava Belo Horizonte ao Estado do Rio de Janeiro, com um percurso bem menor do que o do planejamento inicial. A ferrovia foi terminada em 14 de abril de 1989, tornando-se assim na ferrovia dos 5.098 dias.
A partir de então, as composições carregadas de minério de ferro para o abastecimento interno e para exportação são feitas pela Ferrovia do Aço. As composições descarregadas voltam pela Linha Centro, esta que corta o território da sede do município de Barbacena ao meio, hoje controlada pela MRS Logística. Assim começa o inferno em Barbacena.
Barbacena não merece isto!...
Cada composição integra centro e trinta e dois vagões de aço, tracionados por duas ou três locomotivas movidas a diesel, com 3.000 cavalos vapor cada uma. São vinte a trinta composições a cada dia, que provocam uma barulheira ensurdecedora. Além dessa barulheira infernal, a trepidação das composições desloca as telhas dos telhados das casas vizinhas à linha, relaxando a estrutura de portas e janelas que passam a bater durante a passagem dos trens. É o inferno em Barbacena.
Barbacena não merece isto!...
O barulho é um som indesejável. A exposição contínua a níveis de ruído superiores a 50 decibéis causa deficiência auditiva, estressamento e causa instabilidade à saúde das pessoas. As composições que cortam Barbacena ao meio produzem ruídos superiores a 200 decibéis. Ainda existem alguns maquinistas tarados que passam buzinando. Então os decibéis devem ultrapassar a mais de 1.000. Haja ouvido para agüentar isto. É sabido que de 55 a 65 decibéis as pessoas ficam em estado de alerta, não relaxam, diminuem o poder de concentração e prejudica a produtividade do trabalho intelectual. De 65 a 70 decibéis o organismo das pessoas reage para tentar se adequar ao ambiente, minando as defesas orgânicas. Acima de 70 decibéis o organismo fica sujeito a estresse degenerativo, além de abalar a saúde mental. Os habitantes de Barbacena visinhos da Linha Centro (10.000? 20.000? ou mais), trabalhadores que normalmente trabalham muito e ganham pouco, depois de um dia exaustivo chegam em casa para descansar e começam a ouvir a barulheira dos trens de minério. Donas de casa, depois de tanto trabalho diário querem ver televisão ou ouvir um rádio e não conseguem em razão do infernal barulho dos trens. Estudantes que querem estudar, não conseguem se concentrar adequadamente. Os cidadãos passíveis deste sofrimento são aqueles mesmos que cumprem com suas obrigações tributárias, pagando a maior carga de impostos do mundo, e cumprem também com suas obrigações eleitorais. Eles votam.
Barbacena não merece isto!...
A passagem destas 20 ou 30 composições a cada dia nada mais é do que um sofrimento moral intenso que pessoas são submetidas em Barbacena, ou seja, um processo permanente de tortura. E esta tortura a que são submetidas as pessoas de Barbacena é muito pior do que as torturas medievais infligidas por Tomás de Torquemada durante a Inquisição aos infiéis espanhóis. Mas o Papa interveio e aposentou o inquisidor-mor Torquemada. Será que não existe alguém que possa fazer algo para solucionar esta tortura a tantos cidadãos barbacenenses? O Legislativo Municipal? O Ministério Público? Ficam as indagações.
