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Cronicas-->5. UM CASO SEM GRAÇA -- 14/09/2002 - 09:17 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sem graça mas cheio de ensinamentos, conforme puder ser apreciado por pessoas medianas, que não queiram ou não possam assimilar profundas teorias espíritas, tantas são as lições que se contêm nas obras doutrinárias.

Vi-me, certo dia, diante de forte dilema de vida: ou comprava um automóvel novo, ou me casava com aquela com quem namorava há alguns anos.

Parece um problema tolo, do ponto de vista masculino, mas perguntem à moça se era assim que ela via a minha hesitação e irão saber que havia fortes emoções envolvendo a nossa relação.

Dois anos depois, acreditem, estava casada com outro, de carro novo, de casa nova e até de operação plástica recente. Eu é que bati meu automóvel, sem seguro, e me vi de cara no chão, arcado sob o peso da burrice.

Tanta falta de sorte (segundo me parecia), fez-me buscar consolo na religião. Como morava diante do portão de um centro espírita, para cujos dirigentes minha mãe prestava alguns serviços, como o de abrir e fechar as portas para a faxineira, guardar os pacotes da correspondência mais graúda, atender às pessoas que encontravam o estabelecimento fechado, fui levado, também pela curiosidade, a ouvir as palestras ministradas toda quinta-feira.

Não me conheciam o caso amoroso nem o desastre financeiro. Considerei o fato bastante excitante para ser contado, como o fiz na abertura desta mensagem. Pensava que aquelas pessoas poderiam, avisadamente, explicar-me os acontecimentos à luz dos conhecimentos extrafísicos que esperava encontrar ali.

Mas, para obter audiência, precisava comparecer em dias de reuniões fechadas, de estudo ou de orientação mediúnica. Alistei-me em ambas, crente de que teria oportunidade de manifestar-me quanto ao tema de meu interesse.

Um dia, estando o grupo dos estudos debatendo o acaso ou a inexistência dele, arrisquei:

- Que vocês dizem do fato de eu haver escolhido comprar um carro a casar-me?

A pergunta não provocou o rebuliço que esperava. Achando que não havia elaborado a questão em termos adequados, repeti:

- Terei feito a coisa certa, segundo os termos da lei do amor, do trabalho e da justiça? Terei cumprido a determinação que se acha na lei da defesa?

O diretor da aula esclareceu:

- Você quer dizer: lei da conservação?

- Exatamente.

Achei que iria ser esclarecido, mas o coordenador atalhou-me o desejo:

- O que você fez, como entendi, foi fruto de seu livre-arbítrio, portanto, foge ao tema da aula. De qualquer modo, acho que você mesmo poderá refletir sobre isso e trazer a resposta na próxima semana.

Fiquei admirado com a minha perplexidade. Não esperava que me dessem explicação canónica de última geração, mas ser quase ignorado não me satisfez. Não preciso dizer que, na semana seguinte, faltei à reunião, comparecendo apenas à sessão de instruções para desenvolvimento da mediunidade.

É de se supor que tenha meditado bastante a respeito do problema que me dominava a mente, acabando por descobrir que poderia ouvir a resposta pretendida diretamente no fundo da consciência, como informação advinda na forma de intuição. Também supus que, havendo, entre os instrutores e colegas, médiuns poderosos, seria possível aos espíritos, principalmente ao meu anjo guardião, ditar um recado dirigido a mim.

Tendo aprendido com a decepção da outra turma, calei-me e não descrevi nada do que se passava no íntimo.

Depois de três semanas, não tendo ouvido nenhuma resposta pessoal nem recebido comunicação falada ou por escrito dos mensageiros habituais da casa, também deixei de frequentar as aulas. Permaneci, porém, fiel às exposições das quintas-feiras, ouvindo com interesse as teses explanadas, todas eivadas de boas sugestões e recomendações morais de muita valia. Queria ver se passava um ónibus cujo itinerário me levasse ao ponto em que almejava descer.

Mas as coisas que ocorrem furtivamente tendem a revelar-se, porque, se se mantiverem ocultas, não há vantagem nenhuma que existam. Foi assim que aquele mesmo instrutor da sessão de estudos, encontrando-me no auditório, procurou-me para perguntar:

- Por que você desapareceu? Ou melhor, por que não veio trazer a resposta à interessante questão que nos propós?

Desfaçado e curioso, inquiri-lhe:

- Qual foi mesmo a questão?

- Você estava interessado em saber se estava amparado por seus protetores espirituais quando preferiu a compra do automóvel a casar-se. E também nos interrogou se havia recebido um castigo por ter optado contra a moça que namorava.

Notei de imediato que ele também havia pensado no assunto. Arrependi-me de não haver comparecido aos estudos e prometi-lhe que não perderia mais nenhuma sessão.

Assim se conta a história sem graça de como me tornei um dos mais fiéis seguidores da doutrina espírita no bairro.

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