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Contos-->RELATOS DO INVEROSSÍMIL - PARTE VIII -- 10/12/2002 - 12:35 (Wellington Macêdo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nos dias seguintes, em razão das copiosas chuvas que desabaram sobre a cidade, a praça ficou deserta sem que aparecesse viv alma. Foram chuvas torrenciais naqueles dias, sobretudo na parte da noite, deixando a cidade alagada. Um verdadeiro caos se instalara em decorrência do temporal determinando grande alagamento nas ruas e praças, prejudicando sensivelmente o fluxo de veículos, sobremaneira nas de maior movimento, provocando gigantescos congestionamentos. Aquí e acolá se viam veículos danificados gerando grande tumulto. Ainda como mais lum complicador da inusitada situação caótica, os semáforos não funcionavam normalmente tendo em vista as constantes interrupções do fornecimento de energia elétrica. Muitas pessoas se viram impedidas de comparecer ao trabalho dada a inexistência de ônibus. Tudo isso associado aos transtornos das áreas localizadas na periferia da cidade, com ênfase especial as regiões dos morros e ribeirinhas. Nestas, a avalanche das águas ivadira os miseráveis casebres sem dó nem piedade. Naquelas, por sua vez, não bastasse as inúmeras dificuldades enfrentadas diuturnamente pelas pessoas alí residentes, os prejuízos foram marcantes como resultado das queda de várias barreiras, levando ao desabamento de inúmeras casas, sobretudo as mais humildes, culminando no triste soterramento dos mais infortunados.
Grande contingente da população dessas áreas representada por gente humilde, de repente se viu desabrigada, sem contar com a perda total dos seus modestos pertences adquiridos na maioria das vezes com extrema dificuldade. Pessoas trabalhadoras e honestas lançadas num verdadeiro estado de penúria.
Uma vez normalizada aquela situação catastrófica e a cidade retornando ao seu rítmo costumário, dá-se o reencontro dos cães. Antes, porém, levado por uma ansiedade cada vez maior, já nos encontrávamos alí postados no banco de sempre, com toda a atenção dirigida para a perspectiva do reinício da conversação interrompida por motivos óbvios.
----- Olá, meu caro amigo ----- dirige-se o cão rico ao cão pobre ----- exultando ao revê-lo naquele momento, são e salvo diante das recentes instempéries que se abateram sobre a cidade.
----- Boa tarde, amigo ----- responde-lhe o cão pobre. Na realidade foram momentos de grande preocupação da minha parte, haja vista jamais haver presenciado algo de tal natureza em todos esses anos em que me encontro por aquí. Afora alguns episódios de chuvas abundanates que me fora dado testemunhar, nunca tivera oportunidade de presenciar coisa semelhante como a que ocorrera recentemente. Foi deveras assustador e sobretudo preocupante.

----- Na oportunidade, se faz necessário dizer-lhe o quanto temí por sua sorte e da preocupação que me invadira. Enquanto eu estava lá em casa tendo um teto para me abrigar afligira-me, sobremaneira, a incerteza da real situação na qual o amigo se encontrava quando das constantes chuvas caídas recentemente, seguidas de relâmpagos, trovões ensurdecedores e queda de raios. À cada momento, a programação televisiva era interrompida, sendo substituída pelo noticiário informativo a respeito dos danos causados pelas chuvas, alagamento de residências, desmoronamento de encostas e, provavelmente, algumas pessoas vitimadas. Foram momentos de verdadeira angústia diante das notícias alusivas e, principalmente, pela ausência de notícias do amigo ----- discorre o cão rico.
----- Se lhe afirmasse que não temí diante das recentes ocorrências, estaria faltando com a verdade ----- retruca o cão pobre. Apesar da calma que me é peculiar em situações assemelhadas, ocorreram momentos de inusitada apreensão. Somente não entrando em pânico em razão da fortaleza de espírito da qual sou dotado. Entretanto, asseguro-lhe haver passado por momentos de extrema preocupação ao perceber a aproximação das águas invadindo a praça, na iminência de deixar-me ao desabrigo. Foram momentos verdadeiramente angustiantes.
----- Com toda sinceridade ----- diz por sua vez o cão rico ----- afianço-lhe que tive por ímpeto levá-lo para a nossa casa, somente não o fazendo em virtude do abominável preconceito de que são possuidores os que lá residem. Ah, como alguns humanos são destituídos do sentimento de solidariedade, sobretudo em momentos como aqueles que põem em risco a integridade física de alguém. Provavelmente acreditam que estarão sempre em segurança sem imaginar que qualquer um de nós, a qualquer momento, estará sujeito a dificuldades dessa natureza e que adversidade não é privilégio de uns poucos jamais lhes atingindo.
----- Agradeço-lhe penhoradamente no mais íntimo do meu coração a sua lembrança com relação a minha situação naqueles momentos aflitivos. São atitudes típicas de seres altruístas. Que Deus lhe conserve esse sentimento de magnanimidade.
De súbito, alguém se aproxima do cão pobre e, após um breve afago na sua cabeça, lhe oferece uns poucos pedaços de carne que sobrara do seu almoço. Se tratava de homem de estatura mediana, de cor branca, cabelos grisalhos, idoso e extremamente simpático que se afeiçoara ao cão pobre.
-----Sem esconder a sua perplexidade o cão rico indaga ao seu amigo de quem se tratava:
----- Esse senhor ----- responde-lhe o cão pobre ----- é o novo zelador da praça recentemente investido nas suas funções. Trata-se de um homem simples, bondoso, cujo trabalho consiste em zelar por esse local no sentido de evitar que os vândalos repitam aquelas ações reprováveis cometidas antes da reinauguração. Não somente as crianças como também os adultos têm grande simpatia por ele, uma vez que o mesmo trata-os com respeito e extrema polidez.
----- É, diz o cão rico. Na verdade sempre ouví dizer que os humanos mais humildes; os mais pobres são muito solidários uns com os outros. Geralmene estão sempre dispostos a prestar a sua solidariedade aos menos afortunados. Apesar das suas carências no que respeita a bens materiais, mesmo assim, do pouco que possuem procuram dividir com os mais carentes no sentido de minimizar o sofrimento dos seus semelhantes. Mesmo quando de nada dispõem, oferece-lhes uma palavra de conforto; dispensam-lhes um gessto de carinho como meio de externar a sua solidariedade. Daí acreditar que ninguém, por mais pobre que seja, não tenha pelo menos um sorriso para dar.
----- Concordo plenamente com o que o amigo acaba de afirmar ----- replica o cão pobre. Afigura-se-me, entretanto, ser o altruísmo uma das características dos menos afortunados, enquanto que os ricos, por sua vez, indiferentes ao sofrimento dos mais pobres são de uma avareza sem limites. Se apegam com unhas e dentes aos bens de que são possuidores, provavelmente com receio de perdê-los e se tornarem pobres. No entanto, o que mais me revolta é saber que, na maioria das vezes, a fortuna de alguns foi construídas através de meios ilícitos; de forma desonesta; auferida mesmo por meio de transações fraudulentas. Se bem que como para toda a regra há exceção, existem humanos que apesar de prósperos; apesar de ricos, detentores de fortunas consideráveis, ainda se prreocupam com os irmãos necessitados. Colaboram com donativos significativos para hospitais, creches, programas de amparo à velhice desamparada e tantas outras obras de caridade. São atitudes bastante louváveis. Outro dia, apesar de me encontrar distraído com as peraltíces de um grupo de crianças, tive a oportunidade de ouvir uma senhora comentar com uma sua amiga a respeito do assunto. Afirmava, a referida senhora, ser mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino do céu.
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