Esse texto é uma teimosia que certamente irá me cansar.
Estou fazendo o possível para não pensar na idéia que
irei escondê-lo, ou destruí-lo, para que assim não seja
lido por ninguém.
Dizem que sou imprevisível, discordo, porque na minha
cabeça já existe, na maioria das vezes, uma mapa do
que pretendo fazer ou desfazer. Todavia, sei que os
textos que tento escrever são como no xadrez: todas
as conseqüências de um simples lance, duma mera
decisão, são impossíveis de se prever. Assim, o
leitor - e eu sempre sou meu primeiro leitor - de
acordo com as palavras que uso, pode chorar, sorrir,
pensar, sonhar, sujeitar-se, mandar-me para o inferno,
enfim.
Sinceramente não me agrada o conhecimento que
adquiri. Às vezes penso que se não soubesse de
determinadas coisas seria outra pessoa, talvez menos
hipócrita.
Tenho percebido, sem muito querer enxergar, que
quanto mais se sabe, mais fácil é se sentir vil, por nada
fazer, na incrível maioria das vezes.
Pois afinal, quem se importa pelos vários homens
aflitos, que já perderam a esperança e a fé?
Quem se importa pelo vendedor de balas:
"Tenho filhos e não tenho emprego, por favor,
ajude-me..." que trabalha na avenida, pendurando
sua mercadoria nos retrovisores dos carros, enquanto
o semáforo está vermelho, e que foi atropelado e
discriminado, massacrado, por algum motorista
apressado??
Quem se importa pelo homem que puxa a carriola e
que disputa com carros importados um espaço no
trânsito, que leva seu filho, no meio do papelão,
em forma de ninho, e quando não é o filho, é um
cão sujo, seu único amigo - e os donos dos carrões
importados passam, tirando fina, dando com os
ombros e com as buzinas?
Ora, não me peça para se menos radical - pois já
estou sendo, senão escreveria muito mais.
Também não me peça para ser romântico e crer
que tudo um dia ficará bem.
Apenas faça o favor de olhar ao redor e ver que
não há novidade alguma nem meus olhos espantados;
faça o favor de me perdoar e se não quiser não
perdoe. Aliás, se for o caso mande-me ao inferno.
Afinal, quem esse tal de Anderson pensa que é?!
|