Eu queria a vida
Com o mesmo fogo intenso que ela possuia,
Eu queria aqui comigo
A mesma paixão que me conduziu por tão longa data.
O mundo se tornou previsível demais,
Meus Deuses foram caindo por terra um a um
E um a um fui deitando todos aqueles sonhos
Que queimavam como fogo...
Tudo foi se desmoronando e para tudo
Foi surgindo uma máscara,
E assim, fui tendo pouco a pouco
A certeza de que Deus não havia
Reservado nada de especial para mim como eu tanto acreditava,
E que eu teria que calar esse espírito pulsante
Para viver meus dias conformado com a normalidade
De uma vida humana razoável...
Me calei,
Vivi cada dia sufocado e desiludido,
O tempo me trouxe vários cabelos brancos,
Rugas, uma pele flácida e a certeza de que a morte
Me vigia a cada dia com mais afeto...
Ah, hoje sou um velho!
Sei que muitos me consideram um homem de sorte;
Acumulei riquezas, filhos, netos, vários e vários amigos...
Mas quando fecho meus olhos, ainda vejo aquele jovem
Cheio de incertezas sonhando alto, tão alto
Que nem seu próprio peito era capaz de se conter.
Ainda vejo aquele jovem inteligente com a certeza de que
O mundo só não era seu ainda por uma questão de tempo,
E que até o universo, mesmo que tardiamente, um dia
Lhe faria reverência...
Tudo, absolutamente tudo que tinha em meu peito perdeu-se!
Dentro das poucas alegrias a que me reservo hoje,
Cultivo especialmente o gosto de ensinar
Para o meu neto mais moço, Edio Junior, (que possui
um brilho nos olhos muito parecido com o que eu tinha
quando jovem) que não importa de que forma se dará,
Um dia o mundo esmagará todos seus anseios
E o rejeitará como filho,
E que então ele estará sozinho
Sendo conduzido a caminho da morte
Por uma estrada vazia,
Vendo o mundo defecando sonhos
Que ele custou tanto para edificar...
Agindo assim me sinto feliz!
De nada vale um sonho grandiosos (e sei que
Esse guri possui vários),
Tudo se destruirá
Por uma simples questão de tempo...
...e em breve a morte começará a rondar sua porta
com uma aparência bastante gentil.
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