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Ensaios-->CACIQUE GURUPI, UMA CRIAÇÃO DO IMAGINÁRIO -- 03/06/2007 - 15:35 (Moura Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O CACIQUE GURUPI NUNCA EXISTIU

*MOURA LIMA

- “Índio aqui, em Gurupi? Pra quê? Só se fosse para morrer de fome, num chapadão medonho de pedra – canga como este! Ora bola! Ainda mais Cacique Gurupi... Isso é estória de peado de ema, de quem não tem o que fazer!”
Moisés Lustosa Britto


& 61656; Permitido a reprodução, desde que citado a autoria. (Protegido pela Lei de Direitos Autorais.)



As cidades, como os seres humanos, têm uma personalidade, uma aura que encanta ou apavora, e um ciclo cósmico de vida, que vai delimitando a sua história. Podendo ser pobre, grandiosa, humilde, contraditória, curta ou vertiginosa, aos olhos da antropologia social, ou dos cânones da cultura espontânea.

Assim, com uma polarização de aura superior, como um meteorito que riscou os céus equatoriais, nasceu Gurupi e emergiu com vigor, dos cerradões imensos do Norte Goiano, hoje Tocantins. A velocidade cíclica foi espantosa, que não deu tempo de criar as suas tradições, o seu folclore, as suas festas populares como ocorreram com a centenária Natividade, o Peixe e Porto Nacional. E, deste modo, o foram às outras 33 cidades, que nasceram ao longo da Belém-Brasília, ou BR-153. Mas, pelo que pesquisamos, apenas Gurupi padece da síndrome da identidade cultural da fundação. Com essa ferida erodente no ego, de origem emocional, quer sim, quer não, abriu-se um calabouço para os mitômanos, e alambicados criarem uma história tendenciosa ou forçada. Nessa circunstância ambivalente, como um fantasma que anda nas sombras, veio sorrateiro à tona o Cacique Gurupi. Uma mentira de perna curta, curtíssima, e a verdade histórica o desnuda ao sol, como ferrão de mutuca que tira boi fujão do mato.

Mas, para avançarmos na busca investigativa, com uma visão sociológica sistematizada do imbróglio criado, da confusão babélica, torna-se necessário que nos reportemos à história da fundação do Peixe, que dominava essa região de sertão agreste da bacia do Santo Antônio, hoje município de Gurupi. E essa assertiva se estriba no fato histórico de que o Peixe nasceu 161 anos antes de Gurupi, no século XIX, exatamente em 31 de junho de 1846, por força da lei Provincial n° 13. E para garantir a passagem dos viajantes no porto do rio Tocantins, que demandavam Natividade, Arraias, Cavalcante, onde era constantemente atacado pelos ferozes índios Avás-canoeiros, o governo tomou medida militar.

Os Avás-canoeiros, ou caras-pretas, eram Grupos de índios barbudos, acaboclados, nômades, que não fixava em lugar nenhum. Uma mistura, ou caldeamento de raça, dos índios carijós com escravos africanos. E eram temidos por todos os outros indígenas do Norte Goiano, que pelavam de medo desses aguerridos tapuios. Daí a razão de nunca ter existido índio, na base territorial de Gurupi,de forma permanente, a não ser de maneira esporádica, de passagem, nas andanças erráticas; pois essa imensa área agreste, que ia até as matas do sertão de tesouras, Amaro Leite, hoje, Mara Rosa, margem do rio Maranhão, Paranã, Porangatu, formoso e Peixe. Era o palco das tropelias e assaltos desses guerreiros errantes, às fazendas, boiadeiros e tropeiros. Outras etnias não ousavam penetrar nos seus domínios, que se estendeu do século XVIII até o início do XX. Contudo, dir-se-ia que foram os precursores da tática de guerrilha.

Veja leitor, no meu livro Mucunã, no conto -Tapera da Caveira -onde faço um acurado estudo da sociedade primitiva desses guerreiros andantes, suas traquinadas e incursões pelas fazendas do antigo Dunga, hoje Porangatu, e o terrível genocídio praticado pelo governo goiano, para exterminá-los.

Por conseguinte, voltando ao tema, o governo da província de Goiás, para evitar tais abusos, dos Avás-canoeiros, no porto do rio Tocantins; mandou pra cá o alferes Alfredo Ramos Jubé, com 20 soldados, para fundar o posto militar estratégico, que logo se transformou com a expulsão dos índios, no arraial de Santa Cruz das Itans. Recebeu inicialmente o nome Itans, conforme os registros históricos, porque havia ali, segundo os antigos, um roteiro do tesouro dos Jesuítas indicando que, na mais alta pedra do rio Santa Tereza, no lugar denominado Itans, estava enterrado o maior tesouro dos Jesuítas. A palavra Itans é uma palavra tupi, e significa - Pedra das Conchas, pois no rio Tocantins, naquela longínqua época, encontrava-se as referidas conchas. Com o passar dos anos, o arraial recebeu outras denominações: Vila de Santo Antônio do Peixe, e foi elevada à categoria de Distrito do Município de Palma (hoje, Paranã), finalmente – Peixe.

Portanto, o leitor atento e estudioso da história de Gurupi, que me acompanha, tenho certeza, percebeu logo, o desavergonhado esbulho histórico dos seguidores do autor do livro Gurupi, que, simplesmente, deslocou a lenda do tesouro dos Jesuítas do rio Santa Tereza para o rio Santo Antônio, para criar uma falsa magia na história de Gurupi; postergando assim, o legítimo direito histórico da cidade de Peixe.

Veja bem, culto leitor, de acordo com os registros do Arquivo Público de Goiás, nas chamadas fontes primárias e secundárias da história da Capitania goiana, compreendendo o período de 1640 a 1850, incluindo aí os criteriosos aldeamentos dos nossos índios, levados a efeito no Norte Goiano, hoje Tocantins, não encontramos uma linha, ou vestígio da existência de tribo de índio Gurupi, ou do fantasioso Cacique Gurupi, bem como, na centenária história do Peixe, que registra apenas os Avás-canoeiros.

Na época em que estávamos montando a estrutura geográfica e histórica do romance - CHÃO DAS CARABINAS-CORONÉIS, PEÕES E BOIADAS, de nossa autoria; obra por sinal, estudada pelos acadêmicos de ciências humanas da ULBRA-Palma, sob a orientação da Professora Maria de Fátima Rocha Medina, doutora em Filologia Hispânica do Centro Universitário Luterano de Palmas - CEULP/ULBR, foi obrigado, por dever de ofício, a visitar o Peixe, cenário do livro, onde vasculhei cartórios, processos criminais e ouvi velhos anciões da terra, para reconstituir o terrível massacre dos Barbosas; procurei também investigar a história de Gurupi. E ouvindo o octogenário e lendário coronel Bena, que alcancei vivo, no seu sisudo semblante fechado, respondeu-me: - “Aqui, no Peixe, ninguém conhece essa estória de Cacique Gurupi. Isso não passa de lorota, que não pode ser levado a sério. E fechou o diálogo no seu costumeiro bordão: - Compreendeu?”

Que o leitor me desculpe, por abrir este parêntese, que tem uma só finalidade: mostrar à ética e a seriedade da minha obra literária, que nasceu sob a égide da originalidade, e foi colhida nos sertões tocantinenses, bem longe dos gabinetes de ar- condicionado. Foi buscada in loco, no chão tocantinense, ao longo dos anos, na árdua tarefa de regularização fundiária das terras devolutas do Norte de Goiás, hoje Tocantins. Foram anos intensos de busca, de viagens, pesquisas, anotações, nos grotões distantes, ao sol do equador, para coletar os costumes, a linguagem regional de nosso povo. E todos os meus livros publicados, a começar do romance Serra dos Pilões-Jagunços e Tropeiros, que teve o mérito de colocar o Tocantins, no mapa da literatura brasileira, conforme apreciações de Assis Brasil (RJ), Clóvis Moura(USP) e Moema de Castro(UFG), foram devidamente registrados; conforme legislação pertinente, na Biblioteca Nacional, para proteger meus direitos autorais contra os oportunistas, com as conseqüentes indenizações morais. Toda a arquitetura verbal da minha obra literária é inspirada nos sertões tocantinenses, porque o que estou escrevendo não foi escrito antes, e tem uma agravante: o sucesso incomoda, e tira o sono dos néscios, invejosos e medíocres. O meu compromisso é com a verdade histórica e o engrandecimento da cultura tocantinense, já reconhecido e aplaudido pela critica literária especializada dos grandes centros do país. E isto é o que basta! Se agora estou contribuindo com a história de Gurupi, é porque sou um gurupiense, que alcançou ainda vivo os pioneiros fundadores, e com eles gravei várias horas. E no meu livro “A Conquista do Sertão de Gurupi”, amplio bastante os fundamentos históricos, com desenvoltura e segurança, pois não faço parte de facções partidárias, ou grupos foguetórios, a apoteosar o próprio egotismo. A minha tribuna é criativa, independente, com sinete personalizado - a liberdade de escrever!

Antes de concluirmos este breve ensaio, torna-se imperioso que façamos uma lépida rememoração crítica normativa dos termos FOLCLORE, LENDA e FICCÇÃO, e, em observação criteriosa de suas implicações no contexto da narrativa, advinda da cultura espontânea.

Folclore vem do inglês folk-lore, quer dizer, sabedoria do povo. Para que um fato seja folclore, não pode ter autoria, paternidade, dono criador; tem de ser anônimo, isto é, nascido livremente da fala popular, do imaginativo, sem nunca ter existido; mas tem de ser repetitivo no campo das tradições, das festas populares; se isso não ocorrer, não será folclore. Porém a Lenda é uma narrativa oral ou escrita, que conta fatos imaginosos, cheios de fantasias, sendo sua marca a repetição ao longo dos anos. Contam que Heródoto, o pai da História, teve uma dificuldade imensa de separar os relatos verossímeis dos fantasiosos com aparência de verdadeiros. Já a FICÇÃO é o ato ou ação de criar, dentro da imaginação, algo imaginário, que nunca existiu, com aparência de verdadeiro.

Agora, de posse de tais conceitos, podemos dizer, com toda convicção, que o CACIQUE GURUPI, não é folclore, ou lenda, jamais existiu, e que o mesmo é uma ficção, fruto da imaginação, com autoria, paternidade e dono. Registre-se, sendo o seu legitimo proprietário, com direitos autorais e tudo, o escritor Adauto Cavalcante, autor do livro Gurupi, que residiu temporariamente, por um mês, na nossa cidade, diga-se de passagem, era propenso à repioca, ao fogo eterno. Talvez com a mente em delirium, tangido pela necessidade, como leitor contumaz de José Alencar, e vendo a baixa escolaridade de nossos povoadores, não perdeu tempo, compôs no afogadilho, ou melhor, escrevinhou uma pequena estória, de caso pensado, nos moldes do mestre indigenista, e tacou, lá nela, como personagem principal, a sua fantasiosa criação- o Cacique Gurupi! Quão grande literatelhos e quejandos!

Para as mentes pouco letradas, foi fabuloso, fantástico, o conto da carochinha! E nos dias que correm, pessoas de inteligência mediana, sem conhecimento de teoria literária, ou visão analítica da criação ficcional, desbragadamente embarcaram na canoa furada do Cacique Gurupi! E lá se vão, a galope, a cacicar, imitando o pai do Cacique Gurupi...
Senhores leitores: acautelai-vos! O Cacique Gurupi nunca existiu, de carne e osso! É tão-somente, uma ficção, que foi embrulhada no balcão da mentira como fato histórico ou lenda! E lembrai-vos de Nietzsche – A principal mentira é a que contamos a nos mesmos!

Contudo, outro ponto fundamental, que não poderíamos deixar de lado, são os relatos de cronistas e viajantes do século XVIII, que realizaram a travessia dos sertões do Norte de Goiás, bem como, os documentos históricos dos setores de pesquisas goianas antropológicas das Universidades Federal e Católica, que em exaustivas pesquisas, mapearam com precisão todas as tribos indígenas do território, notadamente do Norte Goiano, hoje Tocantins, algumas extintas, a saber: Acroás, afotigés, apinajés, aricobés, karajá, carijós ou canoeiros, kraós, gradaús ou kaiapós, naraguajés, xambioás, xavantes e xerentes e, em nenhum documento apareceu o fantasmagórico Cacique Gurupi e sua aldeia de índios, como ente histórico, folclórico ou lendário.

E, em respeito ao sábio leitor devo confessar, que não registrei o Cacique Gurupi no meu livro – NEGRO D”ÁGUA-MITOS E LENDAS DO TOCANTINS, que foi premiado nacionalmente, porque não o considerei como um mito da nossa cultura espontânea, mas, tão-somente, como uma brincadeira de mau gosto e fantasiosa de seu criador.

O leitor nesta altura há de concordar comigo, que é hora de fazermos o desterro, a expulsão de nossa história, deste mostrengo bicharoco, com pisadas de paquiderme, chamado Cacique Gurupi, para a terra do jamais e do nunca... Porque ele nunca existiu. É claro, pela segunda vez, pois da primeira, ele foi sepultado com o nosso estudo, no meu livro ZÊNITE- GURUPI, UMA PALAVRA ORIGINÁRIA DO TUPI, que não significa diamante puro, mas, sim, - O RIO DAS ROÇAS. Para ser diamante puro, teria que trocar o nome da cidade para ITABERABETÊ. O ensaio referido foi exaustivamente debatido e estudado pelos acadêmicos de pedagogia da UNIRG, que contou com a orientação e supervisão do competente e brilhante professor de lingüística, Mestre Plínio Sabino, que vem prestando através de sua cátedra, relevantes serviços à educação e à cultura do Tocantins.

Todavia, com relação ao livro Gurupi, do escritor Adauto Cordeiro Cavalcante, deve ser considerado como obra ficcional e não histórica, em razões da verborragia fantasiosa e nefelibática.

É hora de separar o joio do trigo, o falso do verdadeiro, para não cairmos no ridículo do atraso cultural. E, para concluir, nada melhor do que ouvirmos a sábia advertência, do alto dos seus 95 anos, do nosso saudoso amigo Moisés Lustosa Britto, que conheci em vida, e que me deixou quatro horas gravadas sobre a fundação de Gurupi; era o pioneiro mais culto da fundação de Gurupi, ouça-o:

- “ Índio aqui, em Gurupi? Pra quê? Só se fosse para morrer de fome, num chapadão medonho de pedra – canga como este! Ora bola! Ainda mais Cacique Gurupi... Isso é estória de peado de ema, de quem não tem o que fazer!”
Assim sendo, Gurupi – A Capital Universitária do Sul do Tocantins, do alto de seu progresso, com ares de metrópole, a brilhar no coração do Brasil, está a exigir de cada um de nós uma postura séria, digna e respeitosa para com sua história.

Publicado no site: www.usina de letras.com. br e www.recanto das letras.com. br


*Moura Lima é membro fundador da Academia Tocantinense de Letras, advogado, pós-graduado em Língua Portuguesa, romancista, contista e ensaísta. Autor de 10 livros publicados. Pertence também, à Academia Piauiense de Letras




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Fontes Primárias

Correspondência da Diretoria Geral de Índios da Província de Goyaz, 5 de maio de 1874.
Informação do Dr. Juiz de Direito do Porto Imperial sobre as aldeias de Pedro Afonso e Piabanha, 1878.

2. Fontes Secundárias

AUDRIN, José Maria – Entre Sertanejo e Índios do Norte.
Chaim, M.M. Os Aldeamentos Indígenas: Goiás, 1749-1811. São Paulo-Nobel, 1983.
Galvão, B.F.Ramiz. Subsídios para a história da Capitania de Goiás-1756-1806.
Gardir, George – Viagem ao Interior do Brasil. 1830
Godinhoi, Durval – História de Porto Nacional.
Magalhães, Couto. O Selvagem-1889
Martins Mário - Dicionário Biobibliográfico do Tocantins-Kelps- Goiânia -2001.
Mattos, Raymundo José Cunha. Chorografia histórica da Província de Goyaz 1874
Moura Lima – ZÊNITE –A Linguagem dos Trópicos-Cometas-2007
POHL, Johann Emmanuel – Viagem no Interior do Brasil. 1817.
Póvoa, Liberato – História Didática do Tocantins-Goiânia-KELPS-1999.
Póvoa, Osvaldo Rodrigues- História do Tocantins-L. Três Poderes - Goiânia-1994.
Saint-Hilaire, A. Os Indígenas do Brasil perante a história. 1860.
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