Já estava abafado o quarto, Joana precisava apagar as luzes, mas o impulso de escrever continuava. Sócrates e Platão lhe fazia companhia e de vez em quando opnavam em suas anotações. Sua sombra já tinha ido embora, e ela continuava como se o relógio não tivesse ponteiros.
O que fazer se a angústia lhe corroia o peito. Migalhas se espalhavam pelos cantos, e até as baratas já tinham se recolhido. O dever lhe chamava, mas sua mente não queria escutar, seu mundo era muito mais importante do que os afazeres domésticos. O corpo gordo pedia descanso, e a mente continuava, suas engrenagens funcionavam a todo vapor.
Às vezes lembrava-se da infância tranqüila e feliz, correndo livremente pelos quintais e banhando-se nas águas mornas do rio. Só sabia que estava procurando algo que não conhecia e mesmo assim nada lhe satisfazia.
Seus filhos dormiam, e logo iam despertar e ela corria o risco de se prender de novo a realidade.
O céu a terra, o ar, mistérios indecifráveis era a sua inspiração.
Onde estará a sua liberdade?
Como poderia nesse paradoxo estar livre, se sua liberdade era ali, entre quatro paredes, a portas fechadas no silêncio e na solidão?
Katherine Rabelo
Sugestões, críticas, etc, envie seu e-mail para:
katrabelo@zipmail.com.br
|