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cronicas-->6. CARTA ABERTA A TODA A HUMANIDADE -- 15/09/2002 - 07:17 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Aos quinze anos de idade, impressionavam-me os crimes hediondos que feriam as pessoas inocentes. Estudioso, descobri que as guerras causavam males tremendos aos povos, cada vez mais às mãos do poder bélico. Os prisioneiros cadavéricos expostos ao mundo pela cinematografia me deixaram aterrado, tanto que resolvi escrever uma carta endereçada a todos os homens e mulheres responsáveis no mundo.

Em mais de quinze laudas de papel almaço, em letra miúda, execrei todos os vícios e apontei culpados, principalmente os governantes e o alto comando das forças armadas.

Terminava assim:

"Se Deus não os mandar para as profundezas dos infernos, será porque vocês vão aprender o caminho sozinhos."

Cinco anos depois, achei aquele escrito juvenil no meio de uns cadernos de rascunhos e sorri desapontado, já que não encontrara meios de publicar o libelo.

Li o texto e encontrei muitas incoerências, terminando por suspeitar que o melhor mesmo foi guardar o trabalho, esperando amadurecer a inteligência e a sensibilidade. Por desfastio, busquei corrigir os exageros do estilo veemente e abreviei a composição, mantendo o tom reprovador, acrescido de outros muitos acontecimentos ainda mais funestos para os humilhados.

Concluía assim:

"Outros tempos virão em que os homens saberão honrar seus compromissos para com a verdade."

Um chamado telefónico me fez esquecer a preocupação de caráter universal, acabando a missiva escondida na mesma pasta jogada no fundo do armário.

Formei-me, casei-me, desquitei-me, tornei a casar-me, gerei três filhos e, aos trinta e cinco anos de idade, de mudança para uma casa maior e mais confortável, revirando os pertences antigos, deparei-me com a tal carta reescrita.

Não me lembrava do conteúdo mas sabia tratar-se de um impulso juvenil. Sem emoção, antes de jogar fora o produto de minha jovem concepção do mundo, percorri rapidamente o texto. Fui estimulado a refazer o conteúdo, crendo-me absurdamente mais confiante no poder de compreensão do espírito humano.

Comecei riscando frase a frase, substituindo parágrafos inteiros por meras anotações esparsas. Ao cabo de algum tempo, estava diante de um rol de termos essenciais para levar à consciência da humanidade um sentido bastante profundo, filosoficamente arquitetado.

Elaborei alguns pensamentos, recomendei aos leitores que se esforçassem para não praticarem nada de que pudessem arrepender-se mais tarde e encerrei assim:

"Façam o que quiserem, desde que mantenham as pessoas cónscias de seus deveres e obrigações."

Aos setenta anos, ainda cheio de viço, experiente nas lutas contra a miséria humana, auxiliar dedicado nos serviços de assistência de uma casa espírita, tendo precisado de espaço para guardar as obras que ia adquirindo, topei com a tal pasta das cartas derradeiras.

Puxei pela memória, mas não pude situar-me perante as três versões, parecendo-me que não passavam de um exercício escolar qualquer. Não atinei com a progressão textual, já que pouco havia restado dos dois primeiros exemplares. Apenas o terceiro estava completo.

Li buscando criticar o autor, sem me preocupar muito com o destinatário. Achei meio burlesca a recomendação final e coloquei a papelada toda no lixo, considerando intimamente:

"Se cada qual fizer o que escreveu em seu programa de vida, dando oportunidade a que o bem supere a maldade cristalizada por várias existências desperdiçadas, todos os homens e mulheres poderão progredir, segundo as suas próprias obras. Deus cuidará do Universo."

Não achei aquela meditação definitiva. Parecia-me que algo não estava batendo com as teses doutrinárias que vinha estudando há uns quinze anos. Embatucado por não decifrar exatamente onde se situava a falha do pensamento, resolvi escrever o pensamento, colocando-o como marcador dentro de "O Livro dos Espíritos", de Kardec.

Agora tinha constantemente sob a vista a reflexão de um dia. Contudo, terminei o estudo da obra, levando-a a um lugar de destaque na estante. E lá ficou a observação pessoal esperando pela sorte de ser encontrada.

Pouco antes de abandonar a carcaça, julgando necessário distribuir pelos netos e pelas instituições que frequentava todos os meus pertences, topei com a anotação. Procurei minha lupa, que a vista estava deveras arruinada, mas logo me apareceu um bisneto, exigindo de mim que o levasse ao parque. Foi a última lembrança que guardei daquela folha amarelecida.

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