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Contos-->Incógnita incerta -- 11/12/2002 - 17:12 (Raquel Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Se um dia você me perguntar como eu passei a minha longa vida, não vou saber como responder com detalhes. Já vivi muito e, embora tenha plena consciência de tudo que faço, não me lembro muito bem de tudo por que já passei até hoje... Não que eu já esteja morta! A minha autora morre de vontade de escrever um livro do estilo de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", mas eu não fui a personagem escolhida para ser o morto narrador personagem e minha querida autora só escreve pequenas histórias.
Meu nome é Joana e tenho quarenta e dois anos em cada perna! Vivi a minha vida rodeada de coisas tão encantadoras que nada pode apagar da minha memória. Mesmo quando eu chegar no meu fim de vida, não vou me esquecer nunca de tudo que já vivi. Mesmo quando eu ficar ruim das idéias e quando eu não lembrar mais de ninguém, ainda assim, eu levarei a minha vida tão sofrida nas veias, na alma. Não tenho como contar quantas vezes eu chorei, mas não tenho como falar o quanto valeu casa pequeno sorriso que provoquei.
Nasci em uma pequena cidade em Minas. Fiquei lá até os meus dezesseis anos, quando perdi meu pai e mãe em um acidente. Não tinha irmãos, por mais que isso parecesse estranho numa época em que não havia televisão. Não sabia ler ou escrever, então, fui para um bordel a fim de conseguir me manter, o dinheiro que meu pai deixou não deu para muito tempo. No bordel, conheci muitas pessoas e muitos senhores distintos que largavam suas mulheres em casa, tomando conta das crianças e iam esquecer da raiva e descarregar o estresse de todo dia com as prostitutas. Só hoje eu vejo como os homens são cretinos...
Nesse bordel, eu conheci um homem, chamado Almeida, que me prometeu coisas que, antes, eu nunca imaginara ter . Casa, carinho, luxo... O que uma barregã não faz por dinheiro? Mas eu era diferente. Estava naquela vida imunda, porque não tinha como viver. Até que eu engravidei.
Quando eu fiquei grávida, parei de trabalhar. Fui para a casa de meus pais, que já estava jogada às traças. Aprendi a tricotar e fui tentar me manter fazendo casaquinhos de tricô para mulheres e crianças. De quando em vez, Almeida aparecia para me dar algum dinheiro, afinal, o filho era dele. Quer dizer, eu acho que era, né? Nesse época não tinha muito como a gente... Como é mesmo que se diz? Ah, fugir da raia.
Meu filho nasceu com saúde. E eu me mudei para a casa do Almeida, que me assumiu quando se mudou para Belém do Pará, bem longe de Minas.
Eu tive mais seis filhos com ele. A minha vida tinha mesmo muito luxo e conforto, mas não tinha um pingo de afeto! Imagina: o cara só falava comigo quando queria me comer! Não era um bruto? Mas, bem ou mal, enquanto estava com ele, aprendi a ler e escrever e a bordar. Cuidava dos meus filhos e ficava tomando conta da moça que trabalhava lá na casa em que morávamos pra ver se ela não fazia besteira ou se ela não se metia a besta de tentar roubar alguma coisa.
Depois de muito tempo com Almeida, resolvi visitar umas primas em Ouro Preto. Viajei com duas das crianças, as mais velhas, com o plano de passar um mês em minas. Foi muito boa a viagem, matei a saudade de muita gente.
Acabei voltando mais cedo. Quando cheguei, havia sete vagabundas, na minha cama e com o meu marido. Só agora eu vejo como as mulheres dos meus clientes sofriam!
Mandei tudo pro inferno e recomecei a do zero! Agora, eu tinha sete crianças pra sustentar sozinha... Bom, pelo menos não apanhava mais como uma condenada e só me comiam quando eu queria ser comida! Eu sabia tricotar e bordar... E foi isso que eu fiz até os meus filhos conseguirem conciliar o trabalho e os estudos. Passávamos uns apertos, de vez em quando, mas a daí?
Quando já tinha três dos meus filhos casados, casei de novo. Fiz a maior merda de novo! Levei uma galhada muito bem dada! Mas dessa vez, não consegui sair da estória! O cara me espancava e me controlava o tempo todo... Tive de esperar o maldito morrer para ser independente de novo! E, por sinal, quando ele morreu foi muito bom! Eu fiquei rica! Até que valeu a pena esperar, né? Depois de apanhar tanto da vida, alguma coisa boa tinha de cair na minha cabeça.
Adorei a vida de viúva! Isso porque eu não fui oficialmente casada com Almeida. Ele mentia pra todo mundo dizendo que éramos casados, mas não éramos. Isso me foi muito útil! Quando conheci o Álvaro, meu segundo marido, falei pra ele que era viúva. Aí nos casamos! E, no final, eu fiquei rica! E fiquei com todos os negócios dele, que me fizeram prosperar mais ainda...
Não me casei de novo não. Cheguei a conclusão que não precisava de mais confusão. Comecei a ler e viajar. Passei o resto da minha vida lendo e viajando... Li Machado, José de Alencar, Clarice Lispector, Fernando Sabino... Meu neto mais novo me deu uns livros de uma tal de Anne Rice. Me amarrei naquelas coisas vampirescas! Conheci Paris, Roma, Londres, Orlando... Adoro rock, techno, tudo o que é moderno! Adoro calças, tatuagens e aqueles brinquinhos que o pessoal põe no umbigo, nariz, etc. Não uso, é claro, mas levei todos os meus bisnetos mais velhos para colocarem um ou fazer uma tatuagem muito irada!
Minha filha diz que sou uma adolescente eterna! Diz que eu sou teimosa e desbocada como as filhas dela. Mas eu fui tão ferrada na vida, que realmente não acho tão grave uma senhora falar um palavrão aqui, uma gíria ali... Não tenho ninguém pra me julgar ou controlar! Não devo nada a ninguém, mas me devem muito.
Eu tive tempo de fazer muitas das coisas que eu queria fazer. Mas não fiz tudo e você pode não ter tempo de fazer nada! Corra atrás do tempo! Viva para o hoje, o amanhã é só uma incógnita incerta!

Raquel Lima- 2001
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