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Cronicas-->8. O CONTROLADOR DO TEMPO -- 17/09/2002 - 07:45 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Precavido quanto a respeitar os limites de tempo estabelecidos para esta transmissão, elaborei um texto de gosto duvidoso, embora absolutamente íntegro no que respeita a verdade de minha existência.

Antes de aqui chegar, precisamente há quarenta e três anos e meio, vivi quase cem anos na Terra, na verdade, noventa e nove anos e dez meses...

Bastam estas referências para demonstrar minha obsessão por controlar a passagem do tempo, ou melhor, por dar-me oportunidade de realizar sempre algo a que objetivava e que tinha por princípio jamais deixar para trás.

Vivi de relógio à vista, assinalando até os segundos que demorava para executar os mínimos serviços, por mais corriqueiros e repetitivos fossem, como o abotoar do paletó, o riscar do fósforo com precisão, para não ter que fazê-lo mais de uma vez, e assim por diante.

- Que importància poderá ter para nós tal relato? - hão de perguntar os leitores.

Pois eu explico.

Quantos anos em média vivem os homens? Cerca de sessenta, sessenta e cinco, talvez um pouco mais numa região, bem menos noutra, e por aí vai. Quantos têm noção exata do que significam sessenta segundos para a formação de um minuto? Desperdiçam quase todos a maravilhosa invenção do gênio, para se aterem a cumprir as tarefas segundo as batidas do próprio coração, sem atinarem para o fato.

- Ainda não ficou claro o porquê de tanta ênfase para o resgate dos segundos, dos minutos ou das horas.

Um pouco de paciência, por favor. Não digam que não têm tempo a perder com quem está experimentando fazê-los compreender algo valiosíssimo.

Pois bem, quando se estabelecem rigorosos roteiros de trabalho, dentro de muito pouco tempo a pessoa passa a agir coordenadamente, tornando simples e direto tudo quanto faz, impedindo a repetição inócua dos movimentos, dos gestos, dos pensamentos, para adquirir habilidades automatizadas ou mecànicas, de forma a liberar o cérebro para a filosofia ou para o estabelecimento de diretrizes de procedimento fundamentadas nas leis morais superiores.

- Desculpe-nos, mas não nos parece que haja estreita correlação entre a medição constante do tempo e o fato de padronizarmos o comportamento pelas virtudes essenciais que ornamentam os espíritos mais evoluídos. Ainda que mal perguntemos, existem relógios no etéreo?

Cada vez menos, conforme vamos progredindo, isto porque vamos introjetando na personalidade o controle espontàneo do tempo.

Explico.

Quando aqui cheguei e me encontrava desorientado, apareceram-me (se não houvessem aparecido, eu os teria criado) muitos relógios, cada qual marcando um tempo diferente. Demorei para descobrir que mediam várias realidades concomitantes, como o tempo na região dos encarnados, o tempo na escuridão das cavernas, que não dava mostras de avançar, o tempo em que meu pensamento formulava as teorias fundamentadas nos tópicos doutrinários espíritas, cujos ponteiros se moviam com extrema velocidade, e assim por diante.

- Achamos que o amigo estava, sim, angustiado, sofrendo a desdita da excessiva meticulosidade quanto a impor-se até ao desenvolvimento natural dos fatos biológicos, químicos, físicos, orgànicos etc. Pela experiência que temos quanto aos testemunhos de diversas entidades espirituais, nenhuma estabeleceu como norma de conduta para nós a denotação temporal dos feitos que nos predispomos a empreender. O máximo que nos pedem é para não perdermos tempo, já que os dias e as noites se contam para nós, positivamente, na soma dos anos produtivos, ao contrário de tantos que deixam passar, por ócio e por despreocupação, os momentos oportunos para realizarem o bem ou adquirirem as propriedades morais que os elevariam na escala espírita. Mas isto nada tem que ver com relógios...

Foi pensando assim que cheguei à conclusão de que era importante avaliar o quanto poderia ainda estar faltando para completar tais ou quais tarefas de cunho redentor. Correndo o risco de parecer ridículo, quando completei noventa e dois anos de idade, considerei que ainda poderia estabelecer programas de avanço intelectual, caso tivesse pela frente alguns anos. Foi o que sucedeu, tanto que, ao falecer, trazia a consciência temerosa de não haver cumprido tudo que planejara, já que me faltava adquirir a noção exata da condição algébrica do tempo.

Mas isso se esclareceu ainda antes de ser trazido para esta colónia, já que me foi possível avaliar o quanto de inteligência precisaria acrescentar à minha lucidez, para efetuar aqueles cálculos.

É bem verdade que ainda não possuo suficiente discernimento para entendê-los, uma vez que meus mestres insistem em que devo pensar seriamente na natureza do tempo, havendo um, pelo menos, que me fez ver que existe a possibilidade de não existir o tempo como categoria, mas apenas como função, o que é muito mais complicado do que estar atento ao transcurso das horas para a consecução dos objetivos.

- Caro amigo, quer parecer-nos que a sua preocupação não chegou até nós como problema a ser resolvido, pelo menos no que nos diz respeito. Se você estiver contente apenas com o fato de haver agitado um tema que o tem infernizado, não espere que fiquemos atormentados com isso. Se quiser um aviso de muita responsabilidade, podemos dizer-lhe que sua maneira de esclarecer os fenómenos naturais carece de estudos mais aprofundados na área do fazer o melhor possível, no mais curto espaço de tempo.

Agradeço-lhes haver acompanhado a minha modesta dissertação, contudo, devo observar-lhes que a expressão "espaço de tempo" importa na junção de duas condições compatíveis entre si, mas totalmente improcedentes quanto a...

Tendo esgotado o tempo do ditado, peço-lhes que encerrem a leitura com a bela prece dominical.

Deus esteja conosco!

Ramiro.

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