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cronicas-->Há um ano atrás, mataram Geisa no dia dos namorados ! -- 17/09/2002 - 08:47 (Wilson Gordon Parker) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há um ano atrás, mataram Geisa no dia dos namorados !

O Alfredinho Boca Livre é dessas pessoas que você nunca parece encontrar por acaso. Ele sempre surge na sua frente, nas situações e lugares mais estranhos do mundo. Pela reação que sempre tem, ele passa a impressão aos menos avisados, que aquilo foi um encontro marcado com bastante antecedência.
Um grande sorriso, abraço envolvente, e sempre uma frase cheia de calor humano : "Que saudade! Delicia te ver ! Como vai a familia? Todos bem?Você está bem? Está bem mesmo?"
Ele é comovente !
Tempos atrás escrevi algumas coisas sobre o Alfredinho, e lembro desta:" Já entrei com o Alfredinho em algumas Igrejas. Ele filosofa. Não reza. As lágrimas muitas vezes escorrem de seus olhos. Sem brincadeira, acho que em muitas ocasiões ele se aproxima da santidade. Lembro de um dos dilemas filosóficos de Albert Camus, quando ele indagava se o homem poderia ser Santo sem Deus."
Alfredinho é um filósofo do amor. As mulheres ficam alucinadas por ele. Ele ama todas. Diz que um amor tão forte não pode ser direcionado apenas para uma mulher. Ele acha que seria uma injustiça. Uma violência. Ele representa o homem livre, descompromissado, sem fronteiras, alma de criança, perspicácia de adulto, romàntico, místico, enfim, Alfredinho tem tudo aquilo que os manuais que regem o sucesso do homem moderno não tem.
Semana passada, no dia 12 de junho, encontrei com o Alfredinho no centro do Rio de Janeiro. Fui agraciado com aquele abraço majestoso. Subitamente, ele faz sinal para um taxi, me puxa, e diz: "Vamos". E lá fui eu.
"Igreja da Gloria motorista",disse ele. Como já conhecia as atitudes impulsivas do amigo, nada falei. Lá chegando fomos direto para o interior do templo. Estava vazio.
Conforme já havia descrito o Alfredinho naquela crónica anterior, ele se diz um ateu convicto, mas quando tem tempo, seu lazer preferido é entrar nas igrejas, templos ou mesquitas, e nelas descansar. Sempre convida os amigos para acompanha-lo. Detesta frequentar estes locais na hora de alguma missa ou algo parecido. Gosta de curtir a solidão dos mesmos.
Sentamos calmante no meio daquele silêncio ensurdecedor. Olhávamos fixamente para o teto calmo e estático. Nada parecia se mover. Alfredinho levantou-se, foi para o altar de N. S. da Glória, ajoelhou-se, acendeu uma vela, e depositou um papel ao pé da santa, no qual estava escrito a seguinte mensagem:
"Minha querida Geisa Firmo Gonçalves, perdoe-nos. Até hoje, estou muito triste com a sua morte. Antes dela acontecer, eu nem fazia idéia da sua existência. Quando ouvi o seu nome pela primeira vez, você já estava à caminho da eternidade.
Quem a matou foi um policia militar. O atirador faz parte de uma tropa de "elite", que tem o nome de "força de operações especiais". Estão sempre em busca da perfeição para matar. Uma adrenalina mortal fervilha nos seus cérebros, enquanto uma saliva sêca escorre de suas bocas. Olhos enlouquecidos, estão sempre procurando alguém que, supostamente, mereça ser morto.
Geisa, você foi enterrada lá no Ceará. Jovem, cheia de vida e sonhos, morreu vitimada por causa de uma série de absurdos que acontecem em nossa sociedade há uma eternidade de anos. E os homens do poder nunca fizeram absolutamente nada para acabar com isto. Impotente, choro por não ter podido fazer nada para evitar o seu assassinato."
Levantou-se, e quando ia saindo da Igreja, peguntou-me:
"Lembra-se da moça ?"
"Sim", respondi, "aquela que foi morta no sequestro do onibus 174, lá no jardim Botanico".
"Pois é...hoje faz um ano...dia dos namorados. Chorei muito quando o cara a matou. Estas coisas estúpidas, sem sentido, me deixam triste. E também não me conformo com a vala do esquecimento universal onde as pessoas que morrem injustamente são jogadas. Lógico que as pessoas tem seus dramas particulares, suas próprias tragédias, e não podem sair por aí chorando por todo mundo. Mas acho que deveriam pensar e refletir sobre todas as mortes sem sentido que acontecem no nosso mundo."
"Mas qual o sentido de vir colocar a mensagem na Igreja da Glória?", perguntei.
"Eu sou um ateu com raízes místicas...creio em tudo que é bom...acho que uma boa ação, iniciada por um simples impulso, sem nenhum interesse, produz algum efeito no resto do mundo em geral. Se milhões de ações deste tipo fossem feitas ao mesmo tempo, acho que alguma coisa seria mudada no universo. Muitas pessoas vão passar por aqui, e na hora de rezarem para a N. S. da Glória, vão ler a minha mensagem, e rezarão pela Geisa também. E vai chegar num ponto em que outras pessoas, mais distantes daqui, também irão começar a lembrar da moça."
"É a tal teoria do centésimo macaco", disse eu.
"Correto! Quando mais de cem macacos passam a lavar as batatas que comem, retirando delas a areia, o hábito se espalha para todo o universo dos símios que estão naquela região. As vezes eu penso que deveriamos voltar a ser macacos" falou.
O celular do Alfredinho toca. Ele olha para o visor, sorri, e se afasta. Conversa olhando o morro do Pão de Açucar. Aparenta felicidade. Volta, me puxa pelo braço, olha para os lados, e me diz sorridente :
- Esta é a minha Ultima História De Amor !
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