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Humor-->A VERDADE SOBRE A CRIAÇÃO -- 08/09/2002 - 22:16 (Helinton Pires Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ele imaginava como seria quando o seu dia finalmente chegasse e então tivesse a oportunidade de encontrar com o Senhor. E, como quando isso acontecesse, lhe daria um trago tão violento de vinho sagu, que ele contaria toda a verdade, sem pudores e falsos moralismos, da Criação. Vocês sabem, os bastidores, o erros de produção, o que deu certo e o que ficou assim mesmo por falta de tempo e baixo orçamento. Afinal, 7 dias para executar uma super produção não é para qualquer um.

Pois bem, esse dia chegara. Por dentre a névoa branca, Gumercino Santos Inhonteftz, vulgo Zeca, caminha em direção ao vazio. Inconscientemente sabia exatamente onde estava indo, e era ao encontro dele.

De repente, uma imagem começa a se formar frente a Zeca. É um bar. Na verdade está mais para um buteco podreira. Por ali conversam e circulam vários tipos estranhos e alternativos. Motoqueiros em jaquetas de couro, mulheres da vida (no caso, já sem vida), anjos de asa quebrada, e mais um cem número de tipos estereotipados. O que faz Zeca pensar sobre a falta de criatividade na concepção dos personagens até quando é o sub-consciente que os monta.

Em meio a pouca luz, uma figura destoava do resto, um velho barbudo com olhar sapiente vestindo um amontoado de panos disformes, encontrava-se sentado em uma mesa ao fundo, solitário. Não havia dúvidas, só podia ser ele. Aproximou-se, apresentou-se, e descobriu que era apenas um velho barbudo com cara de sapiente vestindo um amontoado de panos disformes sentado em uma mesa ao fundo, solitário. Perguntou-lhe sobre o Senhor e ele apontou para um piá negrinho em outra mesa que tomava um milkshake.

Aproximou-se novamente e perguntou:
- Senhor?
- Quê? Ah já sei, quer um autógrafo né? Será que não se pode mais sentar tranqüilamente em um bar e encher a cara de açúcar?
- Não, não, na verdade não sou um fã, quer dizer, respeito muito o seu trabalho mas, acho que te passastes em alguns pontos. Sabe, muito efeito
especial, pouco conteúdo...
- É o fim da picada mesmo, a gente cria, alimenta, dá todo amor e carinho pra depois ter que ouvir isso quando crescem.
- Não me entenda mal, mas certos pontos são tão obscuros que fica difícil...
- Não adianta, vocês nunca estão satisfeitos. Só o que fazem é questionar, argumentar, achar furos, erros de continuidade.
Nesse momento Zeca faz um olhar de quem está preste a fazer um pergunta já erguendo a dedo levemente
- E nem pense em perguntar qual é o sentido da vida. Acabaria com todo o mistério. E a última vez que falei sobre isso, deu guerra. Não adianta, a informação acaba sempre vazando.
Zeca faz uma cara de decepção e continua:
- Mas existem tantas questões mal explicadas, tantas dúvidas não resolvidas. A vida lá embaixo não fica nada fácil assim.
Cutucando o nariz com o dedo, Deus fala:
- Ah, imagina que tédio seria sem em vez de dez mandamentos, eu tivesse dado um tutorial da vida, com perguntas mais freqüentes e help amigável. Ah não, é preciso manter o sabor das pequenas descobertas. O frescor do desabrochar da sabedoria. Ou não.
- É disso que eu estou falando, tudo é muito dúbio na sua obra guri, digo, Senhor.
Enquanto Gumercino fala, o Todo Poderoso ergue a mão em um gesto grandiloquente e todas as luzes do bar começam a falhar, os copos e garrafas a tremer e um sopro de vento forte surge do nada. Trovões soam ao fundo e uma luz áurea é irradiada através do seu corpo. Com uma voz penetrante e grave, capaz de causar medo nos corações dos homens, Ele ergue o dedo, chama o garçom e pede um hambúrguer. O alvoroço cessa.
- Tu viu só, isso sempre acontece, não posso nem levantar o braço sem causar uma calamidade. Sabe o terremoto de El Cascanhoco? Pois é, fui me coçar e deu no que deu. Mas falavas sobre a dubialidade da obra. Pois bem, admito que algumas coisas ficaram com dupla interpretação, mas o importante é olhar para a grandiosidade da coisa e contemplar as belezas do Mundo, que modéstia à parte, eu que fiz tio, digo, mortal.
- Sei... Bom, mas mudando de assunto, e o bendito, quer dizer, maldito do Diabo? Qual é dele afinal? Se é que ele existe.
- A questão é a seguinte, eu inventei isso em uma época em tava muito estressado. Diagnostiquei que isso era raiva contida, essa história de só ser bonzinho, benevolente e justo, não faz bem pro coração não, é preciso aliviar as tensões. Porque, convenhamos, vocês enchem o saco ein! Daí, eu criei essa persona. Sempre que preciso desestressar um pouquinho, jogo um raiozinho aqui, uma mandinga ali e assino com o pseudônimo de Lúcifer. Diabo é um apelido carinhoso que inventaram depois. E aí, como sou onipresente, consigo ser os dois ao mesmo tempo. Até joguei bolinha de gudê comigo mesmo esses dias. Mas o diabo é que jogar com Lúcifer é um inferno, ele só rouba!
- Hum, tá explicado. Agora, cá entre nós, certas coisas fizestes só de sarro né? Tipo o ornitorrinco, que bicho é aquele? Existe um bom contingente de pessoas que diz que a inclusão da barata foi puro preciosismo teu. E, ah, os 7 dias foram realmente 7? Ah, fala sério.
- Olha o respeito, eu estou nesse papel de menor aqui, simplesmente porque essa é a aparência que o teu subconsciente me deu, mas lembre-se que sou mais antigo que o tempo, já estava aqui quando o Mundo ainda usava fraldas. Que fiquem bem claros os papéis aqui! Além do que, tens de admitir que a criatividade na Criação imperou. Admito que os personagens são muitos, mas nas novelas também e ninguém reclama. Isso é perseguição! Aliás, ainda hoje, quando me entedio, ponho um inseto novo aqui, um peixinho ali, nada muito ostentador para não chamar a atenção. Daí o pessoal descobre, fala sobre um novo espécime, e já diz que está em extinção. Faço isso para não cair em um vazio criativo, me acomodar. Já "os 7 dias" foi coisa do pessoal do marketing, que achou que pegava bem mostrar competência através dos números da produção. Na verdade foram três anos e teve uma paralisação no meio da obra. Olha, a conversa está muito boa, mas já passou em muito a minha hora de dormir. Hum, acho que comi muita porcaria, vou ter pesadelos de novo, daqueles em que estou caindo da nuvem.
- Ok, até que foi muito elucidativa essa conversa, espero revê-lo.
- Não conte com isso, não costumo fazer visitas pessoais, senão todo mundo ia começar a pedir. Se bem que já pedem.
Antes de sair, Deus parou próximo à porta, olhou para trás e disse:
- Tá, tá, eu admito, o Ornitorrinco eu fiz de sacanagem mesmo.
- Eu sabia!
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