Livro: VERTIGEM
Fantasma
Embala-me a tarde, agora
que o sol cansado deitando
o dia vai transportando...
minh alma ao sol que a devora
cedendo à mágoa que a corta
faz-se um fantasma choroso
que há de bater a tua porta
co um relinchar tenebroso...
À noite eu sei que do frio
loucamente te agasalhas
jogando as roupas de estio.;
mas eu garanto, a mortalha
que cobrirá o meu passado
há de envolver-te no leito
jazendo-o podre e gelado
enregelando o teu peito...
A tarde morre sentida
deixando sombras e dor,
deixando adeus de partida
meu corpo em vil dissabor.;
e eu grito na sombra densa
último grito ferido
que sei, após ter partido
a ti será recompensa...
CPE-MS, 15.05.85 - 16:40
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