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Contos-->Sobriedade é coisa que vira fobia -- 15/12/2002 - 21:21 (Wagner Teixeira Dias) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Minha mulher se vira pra mim na cama e diz secamente: “Estou grávida”. Era uma piada. Tinha que ser uma piada. Não era. “Como assim ‘estou grávida’? E todas aquelas merdas anticoncepcionais que usamos?” “Parece que falharam”. “Parece que falharam? Isso é impossível!” Irritado, desço da cama e me visto. “Onde vai a essa hora?” “Dar uma volta pra arejar a cabeça.”
Entre uma cachaça e outra no bar, reflito no que fazer. Sem trabalho, sem dinheiro e agora mais um filho: o décimo quarto. Onde vamos parar? A cada ano, uma nova boca. E ela ainda responde na maior tranqüilidade “parece que falharam”. Aquilo não é mais uma mulher, é uma fábrica. Como pode? Fizemos de tudo pra evitar. Deve estar é me traindo, aquela vaca. Isso explicaria tudo, principalmente o menino com cara de chinês que tivemos no ano passado. Eu devia é pegar uns três ou quatro pimpolhos e vender no mercado negro, talvez ela nem desse pela falta. Não, não posso fazer isso. Ela perceberia.
Bebo até a manhã seguinte e vou direto procurar emprego, sem nem passar em casa. Em uma agência, um elefante cor-de-rosa me diz que não há nenhuma vaga hoje e vendo meu estado, pergunta se está tudo bem. Claro, está tudo ótimo. Estou apenas desempregado e bêbado, não poderia estar melhor. Nas outras agências, a mesma história. Depois de vomitar na fonte da pracinha, apago no meio da rua, ao lado de uma lata de lixo.
Acordo quando um dos transeuntes sem querer pisa na minha cabeça. Levanto devagar, todo emporcalhado. Tem mais lixo em mim que na lata. Sento no meio-fio. Minha cabeça pesa como se o mundo estivesse sobre ela. Não posso continuar assim, chega de levar porrada. É hora de tomar uma atitude. Já sei o que fazer. Vou para o lugar onde está a solução de todos os problemas. O puteiro.
Alguns minutos depois, estou de volta ao buteco, totalmente relaxado. Puta é que é mulher de verdade. Você paga, ela te atende, te ouve, não reclama, não quer satisfações e o melhor, se ficar grávida não é problema seu. “Mais um copo?” – oferece o dono do local. “Copo? Me dá a garrafa de uma vez”. Ah, nada melhor que uma boa pinga. Não volto pra casa tão cedo. Aliás, nem devia voltar, já que hoje gastei todo o dinheiro que ainda restava. Por que todos os prazeres da vida ou são caros ou são proibidos ou fazem mal ou são passageiros? Trepar beber fumar cheirar comer sorrir sonhar. Por que viver não pode ser uma grande farra ao invés de uma grande ressaca? Lembro de quando o pastor foi lá em casa e disse que o segredo da felicidade é ter Jesus no coração. Levanto a garrafa acima da cabeça e falo para os presentes: “Irmãos, celebremos àquela que é a salvação eterna”. Todos a olham como se fosse um ídolo sagrado e levantam seus copos, como que para receber uma dádiva divina. Água benta, aguardente, qual a diferença? Jesus no coração e cana na cabeça. Brindemos.





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