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Artigos-->ELIZEU MOREIRA PARANAGUÁ - O PÁSSARO DE PEDRA -- 07/03/2002 - 00:01 (José Inácio Vieira de Melo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ELIZEU MOREIRA PARANAGUÁ — O PÁSSARO DE PEDRA



Ele se atrasou mais de uma hora. Aliás, chegar atrasado é uma das principais características do poeta Elizeu Moreira Paranaguá, criador e apresentador do projeto Imagem do Verso, que na última primavera agitou o cenário da poesia baiana. Em 14 apresentações, não começou sequer uma no horário marcado. Ele diz que esse negócio de hora é coisa do capitalismo, e que se chega em algum lugar quando tem que chegar ou se tiver de chegar, portanto não adianta ter pressa.

Andar despreocupadamente a catar pedras pelas ruas da cidade é uma das coisas que mais gosta de fazer. “Tenho mais de 2800 pedras em casa”, vangloria-se Moreira Paranaguá, que mora sozinho, em Nazaré, em um quarto. “As pedras não estão mortas, elas têm uma energia muito especial, consigo entender a filosofia que elas contêm”. Para onde quer que vá, sempre carrega em seus bolsos algumas pedrinhas como amuleto ou para presentear os amigos.

Para este poeta autodidata, da cidade de Castro Alves, o trabalho é a literatura. Vive mergulhado em livros, seja de filosofia, poesia, metafísica, prosa, qualquer coisa – sendo que os dois primeiros itens lhe despertam mais o interesse. Ao ser indagado de como consegue se manter, pois não exerce nenhuma atividade que lhe proporcione uma renda – a não ser quando consegue vender algum livro antigo a um acadêmico ou a um padre – responde com os olhos esbugalhados, o que passa uma certa sensação de espanto mesclada a um inexplicável deslumbre: “como consigo sobreviver nem eu mesmo sei, mas vai se dando um jeito. A poesia também é alimento”.

Ao falar de sua infância, conta que foi a mais divertida possível, cheia de traquinagens pelas ruas e ladeiras da cidade de Castro Alves, brincando de bola de gude com outros meninos e roubando manga no sítio de Jorge, que os perseguia com uma espingarda cartucheira, arma de fogo mais conhecida, naquela região, como soca tempero.

Um fato de sua vida o deixa entristecido, não saber quem é seu pai – e neste momento puxa da carteira a identidade, onde consta apenas o nome da mãe. “Confesso que a ausência da figura paterna é algo que me perturba bastante”, diz em tom reflexivo e, logo em seguida, conclui animadamente: “bom, o que importa é que estou aqui, bem criado por três mulheres maravilhosas: avó, mãe e tia; as duas primeiras já falecidas”.

"Poema Terra Castro Alves" é o único livro publicado pelo bardo. Editado, na década de noventa, pelo Círculo de Estudo Pensamento e Ação (CEPA), grupo do qual Moreira Paranaguá fez parte durante mais de 12 anos. Neste período organizou, ao lado de Germano Machado, vários concursos literários. Suas últimas atividades no CEPA foram nos anos de 1999 e 2000, quando coordenou com José Inácio Vieira de Melo, quatro números da revista CEPA/Poesia.

No livro "Poema Terra Castro Alves" são cantados as ruas e becos de sua cidade, num nostálgico processo mnemônico, fruto de 12 anos de ausência do seu rincão. As peripécias de sua infância ficam subentendidas em cada verso que constrói, e, mais uma vez, fica evidenciado o gosto do poeta pelo caminhar, por botar o pé na estrada em busca da pedra filosofal e esquecer os passos, de andar como quem voa, pois para ele o andar está para o homem como o voar está para o pássaro.

Ao lhe oferecerem um emprego fixo – das 08 às 17h – respondeu: “você está louco, quer me matar. Além do mais estou trabalhando no meu novo livro e na programação da segunda etapa do projeto Imagem do Verso, em março tem de estar tudo pronto!”. Acende um charuto Cavalo de Ouro, solta a fumaça tranqüilamente, analisa se a brasa ficou boa e conclui: “Temos que ascender. Para isso precisamos de pouca coisa, melhor dizendo, precisamos de nos livrar de muitas coisas”. Segue pela noite afora a esquadrinhar – com os olhos – as calçadas, em busca do preciosismo das pedras.





José Inácio Vieira de Melo

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