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Contos-->RELATOS DO INVEROSSÍMIL - PARTE XII -- 16/12/2002 - 09:42 (Wellington Macêdo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Debaixo de vivo interesse e sob concentâneo posicionamento, mais uma vez no encontrávamos na expectativa de uma nova conversação entre os cães a qual se auspiciava das mais proveitosas.
Preliminarmente, cumpre-nos asseverar da nossa ambição em oportunidades futuras pesquisar se fatos semelhantes ocorre entre outas espécies de animais que não a canina. Não saberia dizer se pretensão descabida mas pressentimos algo nos intuindo da possibilidade, sem que os relatos até então descritos venham sofrer solução de continuidade.
Por analogia, somos fortemente impelidos a acreditar em semelhante possibilidade já que, de modo peremptório, o hábito da conversação antes tida como apanágio exclusivo dos humanos também se desenvolve entre os caninos, o que afianço-lhes sob juramento. Em tais condições por que apenas essas duas espécies de animais teriam tal privilégio ? Não seria marcante incongruência de nossa parte relegarmos as demais a uma situação de inferioridade incompatível com a mais simples forma de comunicação entre si ? Não seria fato notório a comunicação entre semelhantes ? Por certo, afigura-se-nos que a razão do desconhecimento ao fato prende-se à imperfeição dos nossos sentidos de percepção. A jactância de que somos detentores é que nos induz a um posicionamento sobre falso pedestal de superioridade, ofuscando-nos quanto a sua veracidade. Apesar dos inomináveis progressos científicos, o conhecimento dos humanos ainda não conseguiu deslindar a maioria dos incomensuráveis ditames da criação.
Oh Deus, como nos apequena o pejo da vaidade ! Concede-nos, se para o nosso bem e acima de tudo se da Tua vontade mais uma vez um coração de criança. Coração este, crédulo e ternamente insaciável de conhecimentos para que possamos nos despojar das mais comezinhas dúvidas diante da grandiosidade da Tua obra. Sede mais uma vez condescendente e sobejamente benevolente, nos expurgando das incertezas que nos afligem. Permite-nos, a nós outros, em nome da virginal curiosidade que nos envolve penetrar no mais íntimo do desconhecido.
Já quase final da tarde. Prenúncio de uma noite onde o céu se engalana de miríades de pontos áureos cintilantes. Nos confins do horizonte, na magnitude de sua imponência, desponta a lua refletindo sobre nós toda a luminosidade que emana do sol que no poente se despede do dia que se ultima. É a natureza que na exuberância da sua sabedoria intercala dia e noite; luz e trevas sem a pequenez do alarde.
Nesse exato momento desponta na praça o cão rico acompanhado da sua dona, exibindo toda a sua elegância que a pureza do sangue lhe confere.
----- Boa noite, meu caro amigo ----- exclama o cão rico. Há muito tempo que não sentia o prazer de passar algumas horas da noite aquí na praça. Desconheço quais os motivos que fizeram a minha dona preferir passear à noite. Já havia me desacostumado.
----- Boa noite ----- responde-lhe o cão pobre. Quase não me contive diante da ansiedade que me afligira. Seguidamente, à cada momento, aguardava pela presença do amigo. Os nossos encontros têm sido tão frequentes que já fazem parte do meu dia a dia. Aprendí, fora de qualquer dúvida, a apreciá-los com o mais vivo contentamento. Se bem que uma amizade quando alicerçada sob fortes laços de sinceridade; quando sobre pilares sólidos persiste independentemente da presença de quem nos é caro.
----- Disso também não tenho dúvida. Não lembro desde quando me fora dada a ventura de apreciar uma noite tão maravilhosa. Acredito que não se vê país algum sob um céu de tanta beleza e angalanada por exuberante luar.
----- Eu que o diga ----- exclama o cão pobre. Pois essa é uma dasa razões que jamais me farria trocar esse lugar por nenhum outro. Extasio-me com a exuberância de beleza duma noite de verão como esta, onde o luar e as estrelas se revestem do mais alto esplendor.
De repente o cão pobre percebe que o seu amigo, o cão rico, deixa transparecer a tristeza que lhe invadira a alma, apesar da magnitude de uma noite como há muito não se vira. A princípio, assoma-lhe a invulgar curiosidade aguçando-lhe o desejo de saber o acontecera ao amigo. Mas, em razão da circunspecção da qual os cães são dotados, o cão pobre se mantem na expectativa de que o seu amigo resolva contar-lhe.
----- Como o amigo percebeu, há dias me encontro consternado com o estado de saúde daquele senhor a respeito do qual lhe falei dias atrás. Apesar de não desconhecer a gravidade do mal que o vitima entristece-me, sobremodo, o seu sofrimento. Há uns quatro ou cinco dias foi o mesmo internado numa unidade de terapia intensiva devido ao agravamento do seu estado clínico. Segundo comentários ouvidos lá em casa, ele se encontra na fase terminal da doença onde os sinais vitais estão sendo mentidos graças à utilização de aparelhagem altamente sofisticada. Um sobrinho da minha dona, médico integrante da equipe que lhe vem dispensando os cuidados necessários, declarou que os batimentos cardíacos, respiração, funções renais e neurológicas principalmente, estão sendo mantidos artificialmente. Intui-me, na verdade, já haver ocorrido morte cerebral.
----- Realmente, meu amigo, cada um tem a sua jornada; aurora e crepúsculo; cada um de nós vive apenas à custa do envelhecer. Degradação biológica não é demolição, mas ascensão. Na juventude tudo é exuberância de forças vitais. Depois tudo vai se esgotando; extingue-se inexoravelmente. Assim, não será decadência o envelhecimento individual se se souber reviver, renascendo continuamente através do espírito.
----- Se bem que os familiares ainda não decidiram se autorizam a retirada daquela aparelhagem que o mantem sob extrema artificialidade ainda vivo, que o impede de extinguir-se.
----- Sem esconder o seu pesar, o cão pobre assevera ----- como sabemos, a maior preocupação hoje em dia nos hospitais é com o que diz respeito ao ar, luz, higiene, limpeza, etc. No entanto, esses locais são frios como gelo. Esquecem que nesses ambientes de dor não existe apenas o corpo de um animal mas, sobretudo, a alma de uma criatura. Acredito que seria de maior proficuidade flores, música e, principalmente, palavras de bondade, afatuosas do que essa quantidade de análises microscópicas e radiológicas; esse desmesurado cuidado de esterilização e de ostentação de ciência. Melhores e mais efetivos cuidados deveriam ser dispensados a alma. É fato notório que a natureza não teme nem tampouco evita a morte porque ela é condição de vida. Pois é ao nascer que damos o primeiro passo para a morte.
No auge da conversação, alguém se aproxima da dona do cão rico e, discretamente, segreda-lhe algo e se retirando em seguida.
Sem dissimular a sua surpresa com a notícia que acabara de ouvir o cão rico se despede do seu amigo com um breve aceno de cabeça, exclamando:
"consummatum est", retirando-se em seguida.
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