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Contos-->RELATOS DO INVEROSSÍMIL - PARTE XIII -- 16/12/2002 - 10:39 (Wellington Macêdo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Na condição de assíduo frequentador daquela praça e cada vez mais perplexo diante do que se nos afigurava como um fato dotado de incoercível raridade, nos sentíramos deveras contristados com a ausência do cão rico. Já de algum modo habituados com a frequência de que se revestiam os encontros entre os cães, caracterizados pelos mais interessantes diáçogos, íamos sendo invadidos por uma frustrante sensação. Inquietava-nos, mesmo, a mais sutil possibilidade de um final desolador que viesse interromper nossa inusitada fonte de pesquisa. Por outro lado, era flagrante a ansiedade demonstrada pelo cão pobre diante da prolongada ausência do seu amigo o cão rico. Portanto, se não bastasse a nossa angústia determinada pelo brusco cessar dos referidos diálogos, acrescente-se a tristeza que nos cominava a indisfarçável ansiedade do cão pobre.
Em tais circunstância os dias se revestiam de intensa monotonia. Nem mesmo o frescor da brisa que soprava nas manhãs ensolaradas de primaveril elegância; nem o despertar das flores em exuberantes matizes a exalar penetrantes aromas; nem o cadenciado bailado dos pássaros com os seus acordes sisnfônicos, eram suficientes para reverter aquela insólita sensação de vacuidade. Semelháveis, também, as tardes se revestiam de invulgar melancolia onde o sol por entre plúmbeas nuvens contribuía para aquela doída tristeza. Vivíamos, à cada dia, no que considerávamos ser realidade e assim, quanto mais pensávamos a esse respeito mais a vida parecia assemelhar-se a um sonho. Como humanos temos por hábito magnificar os fatos; mesmo as insignificâncias; até elas se tornarem importantes a ponto de controlar nossas vidas. Esquecemos, por outro lado, que nada mais somos que habitantes temporários na superfície de um planeta estranho.
Mas como a todo crepúsculo se segue uma aurora, eis que surge o cão rico naquele seu caminhar imponente conferido-lhe pela purezxa do sangue, sempre na companhia da sua dona, trazendo consigo o lenitivo à saudade imposta por uma ausência prolongada.
----- Que Deus se amerceie de nós, não permitindo tão prolongada ausência do caro amigo pungindo nossos corações de inefável tristeza ----- exclama o cão pobre.
----- Ah meu dileto amigo ----- responde-lhe o cão rico. Apesar da benevolência que me é dispensada, trago n alma cicatrizes indeléveis da liberdade cerceada. Impedem-me o sagrado direito do livre arbítrio.
----- Na verdade, a possessividade inerente à maioria dos humanos agride frontalmente a lei da permissividade em detrimento à conquista do direito de ir e vir ----- assevera o cão pobre.
----- Contrafeito, fui obrigado a acompanhar a minha dona, juntamente com os seus familiares, à fazenda em cumprimento ao pedido do chefe da família recentemente falecido. Segundo informações obtidas, era inalienável desejo que a sua inumação se realizasse em terras pertencentes a fazenda onde já se encontravam sepultos os restos mortais dos seus ancestrais. Tradição que não deveria sofrer solução de continuidade. Portanto, essa fora a razão de tão prolongada ausência.
----- É-me sobremaneira compreensível que muitas vezes somos impelidos a situações que não obedecem à nossa vontade ----- retruca o cão pobre. Em inúmeras ocasiões o dever no impõe a tomada de atitudes em frontal descompasso com a nossa vontade, tornando-nos insatisfeitos. Mas, em contrapartida, há que assevere que habituar-se a satisfazer-se enfraquece a satisfação.
----- Sem dúvida, essa pulsilanimidade da satisfação é vista com frequência lá em casa. As pessoas, com ênfase especial às crianças, vivem num constante estado de insatisfação, mormente quando os seus desejos; os seus anseios são prontamente satisfeitos. Têm suas ambições materiais concretizadas mesmo em detrimento de quaisquer benefícios que possam trazer.
----- Mas pelo que pude depreendeer, me permita o amigo a observação, foi uma viagem que apesar de longa deve ter sido benéfica não só para o corpo quanto para a mente. Nessas ocasiões quando se muda de ambiente, mesmo por poucos dias, os benefícios advindos são inestimáveis.
----- Se bem que nenhuma viagem é demasiado longa quando se está voltando para casa ----- completa o cão rico. Em contrapartida a satisfação de um passeio realizado, a úlstima despedida a um ente querido que acaba de partir para outra dimensão é, sobremodo, compungente. Vale lembrar que na cultura dos humanos tudo o que se relaciona com a morte parece abominável. Muito embora saibamos que a morte não trás prejuízo ao princípio da vida; permanecendo esta intacta e até rejuvenescida com esse renovar-se constante através da morte.
----- Mas o verdadeiro objetivo da família na viagem empreendida à fazenda deveu-se a abertura do testamento que o velho deixara, devidamente registrado em cartório e confiado à guarda do seu advogado particular que se fizera presente para proceder a sua leitura. Indescritível era a ansiedade dos que lá se encontravam. Cada semblanate traduzia inominável apreensão no que dizia respeito ao que cada um viria a ser contemplado. Parecia que o recinto havia sido invadido por um bando de abutres a crocitar diante dos restos de um animal em adiantado estado de decomposição. Nenhum sentimento elevado se percebia naqueles que compunham um cenário tenebroso.
----- É meu amigo ----- exclama estarrecido o cão pobre ----- infelizmente enquanto houver homens sobre a terra, diz o bom senso que devemos nos acautelar dos canalhas. Ladrão não é somente aquele que usurpa o bem alheio; rouba, também, quem vive de bens hereditários, no ócio; rouba do mesmo modo quem não dá a sociedade todo o rendimento da sua capacidade. Para evitar esses males é preciso criar homens que façam do trabalho não uma condenação mas um ato de valor de de conquista.
Não obstante o entusiasmo dos cães em relação aos assuntos discorridos asté aquele momento, dona do cão rico se retira levando-o consigo. Mais uma vez se desfaz o diálogo.
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