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Ensaios-->Saúde, padecimento e morte em GUIMARÃES ROSA -- 09/05/2008 - 18:34 (Ana Lúcia Magela) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Em homenagem ao Centenário de JOÃO GUIMARÃES ROSA


Saúde, padecimento e morte em GUIMARÃSES ROSA

* “Sorôco, sua mãe, sua filha”

*A edição de “Primeiras Estórias” utiizada nas citações é a 11ª edição pela José Olímpio de 1978

O vagão que leva a mãe e a filha de Sorôco “não era um vagão comum de passageiro, de primeira, só que mais vistoso, todo novo [...] num dos cômodos as janelas sendo de grades feito as de cadeias para presos'. [...] O carro lembrava um canoão no seco, navio. A gente olhava: nas reluzências do ar, parecia que ele estava torto, que nas pontas se empinava. O borco bojudo do telhadinho dele alumiava em preto. Parecia coisa de invento de muita distância, sem piedade nenhuma, e que a gente não pudesse imaginar direito nem se acostumar de ver, e não sendo de ninguém”. (p.13) Só a aparência do carro-vagão já diz da estranheza desta viagem, do desconhecido que se apresenta, da sua função. Nele não vão passageiros. As janelas de grades denunciam um objetivo não usual. Como “um canoão emborcado”, fora d’água, parecendo entortado, produzido longe da pequena cidade, diferente de tudo que parecesse familiar, “sem piedade nenhuma.” Objeto assustador, que além de estranho vai servir para um triste fim necessário - transportar as duas loucas até o manicômio de Barbacena. Elas não vão sozinhas: “Nesta diligência os que iam com elas, por bem-fazer, na viagem comprida, eram o Nenêgo, despachado e animoso, e o José Abençoado, pessoa de muita cautela, estes serviam para ter mão nelas,[...] ajudavam também no carro uns rapazinhos, carregando as trouxas e malas, e as coisas de comer, muitas, que não iam fazer míngua, os embrulhos de pão. Por derradeiro, o Nenêgo ainda se apareceu na plataforma, para os gestos de que tudo ia em ordem. Elas não haviam de dar trabalhos.”(p.15) O aprontamento do vagão também não foi descuidado: “O agente da estação apareceu, fardado de amarelo, com o livro de capa preta e as bandeirinhas verde e vermelha debaixo do braço – ‘Vai ver se botaram água fresca no carro’... – ele mandou. Depois o guarda-freios andou mexendo nas mangueiras de engate.”(p.14)

Sorôco, naquele dia, não calçava as alpercatas, mas “hoje calçado de botinas, e de paletó, com chapéu grande, botara sua melhor roupa”. (p.14)

Na descrição do cenário, nas atividades das personagens, assim como no comportamento cauteloso, quieto, em suspensão, de Sorôco, “E estava reportado e atalhado, humildoso”, nos seus trajes, há um certo esmero, a demonstrar que não se trata de uma situação trivial. É um acontecimento que atravessa a tênue fronteira do privado para o público. O drama de Sorôco, com a velha mãe e única filha enlouquecidas, é da ordem do privado. Todavia, numa cidade interiorana, pequena; pela pobreza de Sorôco que precisou contar com a ajuda do governo que pagou tudo, mandou o carro para conduzir as duas mulheres, o fato se torna público. A partida das duas loucas é um acontecimento social. A pequena multidão, todavia, se comporta respeitosa: “As pessoas não queriam poder ficar se entristecendo, conversavam, cada um porfiando no falar com sensatez, como sabendo mais do que os outros a prática do acontecer das coisas. Sempre chegava mais povo – o movimento”. (p.13) É preciso que se fale com sensatez, que o saber, com mais domínio da situação, faça todos e cada um ver que são curiosos, não loucos. Que participam de um evento, mas não fazem o espetáculo, são gente curiosa que solidariza-se com Sorôco, mas não são como “elas”. Esta demarcação é protetora, resguarda o nicho de sanidade e a diferencia da “loucura”. A dor daquela cena precisa ser afastada. Lembremos-nos dos velórios onde piadas são contadas e ouvidas com agrado a boca pequena, se ri e, entre um ou outro comentário sobre a nobreza do morto, fala-se de trivialidades, bebe-se, come-se e, assim, os vivos, os “saudáveis” se colocam no contra-fluxo da tristeza. A comensalidade aí se põe como um rito de passagem que agrega transitoriamente os participantes e os separa do luto, como uma ilha de organizada normalidade.

Precisar da ajuda demarca a indigência, a necessidade, demonstra que Sorôco é um deserdado do sertão, sem acesso a cidadania. Por outro lado, faz do “governo” o grande pai caridoso a socorrer os necessitados. A “ajuda” não passa de esmola, nem mesmo um arremedo de justiça social a tornar o hipo-suficiente ainda mais humilhado.

Ocorre, a partir daí, um certo planejamento das ações que culminarão no transporte das duas mulheres para esta longa viagem. As matulas, os acompanhantes, pessoas de tino, obsequiosas e desenvoltas, a pequena comunidade á espera da partida das loucas, respeitosa e unida, demonstra uma ordem planejada, em contraposição à desordem mental da mãe e da filha de Sorôco.

A chegada dos três, Sorôco e as duas mulheres, lembra “um casório”, tal a formalidade da cerimônia, mas tem a tristeza de um enterro. Aí se pode perceber uma ritualística. O rito é o mito posto em movimento. Os comportamentos ritualísticos têm por base crenças míticas. Há toda uma gramática, que varia de uma para outra cultura e que disciplina nossos comportamentos frente a ameaças simbólicas, que determina comportamentos de fuga, nojo, medo, repulsa, entre outros e nos deixa muito pouco espaço de liberdade de escolha. Na dinâmica das ações o mito se atualiza, se põe em cena.

É um rito de passagem o que se pode detectar na partida, em qualquer partida ou chegada. Nesta situação específica a ritualística de desagregação se coloca com toda a sua dimensão de dor. Qualquer movimentação, particularmente uma movimentação geográfica, física, que afasta o indivíduo de uma área conhecida para uma desconhecida, ou não tão conhecida como aquela que ele deixa, cria uma situação especial de flutuação ou de “margem”, como propõe Gennep (1977) quanto ao embarque e desembarque. Sorôco, vem entre elas, cada uma de um lado, de braços dados, como elos de uma corrente, corrente num momento de “margem” que em breve será desagregada, também uma simbologia de um “casório”, mas que é um “enterro”.

Recorremos aos rituais de ordem como forma aliviadora da angústia da finitude. O planejamento confere uma ordem mínima a tudo aquilo que está fugindo do controle. Pode-se perguntar na presente situação descrita no conto: A que controle? Não se está aqui falando de uma ordem social ou familiar usual, partilhada na “normalidade” da vida cotidiana das pessoas e das famílias. Há uma “ordem” possível do acostumado, da trivialidade, do vivido pela família Sorôco, que foi deteriorando-se até o insustentável. Mas, mesmo nesta situação, havia uma certa espacialidade partilhada, um convívio que, se não prazeroso, se impunha pela necessidade e pela falta de outras opções.

A atual situação é de ruptura e todos os presentes sabem que não é a solução do problema. Também não é um enigma. Se o fosse, poderia ensejar alguma expectativa. Elas vão para um manicômio, para um depósito de loucos, não para uma instituição de tratamento. Não há esperança de que, um dia, elas voltem, muito menos de que voltem mais saudáveis. Como toda ruptura, corta laços, joga o ser humano no desconhecido, muitas vezes no insólito. Mesmo quando o que se corta é um laço indesejável, sempre é assustador, desestabilizante. Para elas pode não haver consciência clara do desconhecido. Talvez elas só se atenham às suas fantasias, desorganizadas para os ditos “normais”. Para Sorôco o não mais partilhar do convívio com elas é ambivalente. Há dor misturada ao alívio, agravada pela certeza de que elas não estarão melhor do que estão, só segregadas, excluídas, afastadas dos “normais”, logo elas que já têm um mundo próprio onde se escondem.

A filha “tinha pegado a cantar, levantando os braços, a cantiga não vigorava certa, nem no tom nem no se-dizer das palavras – o nenhum. A moça punha os olhos no alto, que nem os santos e os espantados, [...] A moça, aí, tornou a cantar virada para o povo, o ar, a cara dela era um repouso estatelado, não queria dar-se em espetáculo, mas representava de outroras grandezas, impossíveis [...] Mas a gente viu a velha olhar para ela, com um encanto de pressentimento muito antigo E, principiando baixinho, mas depois puxando pela voz, ela pegou a cantar, também, tomando o exemplo, a cantiga mesma da outra, que ninguém não entendia. Agora elas cantavam juntas, não paravam de cantar” (p.15)

O canto desconexo, no tom e nos dizeres, primeiro da moça. Depois a ela se junta a velha. A cantiga é a mesma, como um coro incompreensível. O que cantam carece de sentido aos ouvintes, cantam para elas mesmas. Habitam, ambas, um universo paralelo, alienígena, inumano, de acesso impossível. O código é outro, intransitivo, diverso.

À demonstração explícita dos transtornos das duas mulheres as pessoas ajuntadas reagem com um constrangimento respeitoso: “Todos ficavam de parte, a chusma de gente não querendo afirmar as vistas, por causa daqueles trasmodos e despropósitos, de fazer risos, e por conta de Sorôco – para não parecer pouco caso.” (p.14)
A estranheza é incômoda, pois ameaça a ordem constituída. A ordem mantêm o liame que, às vezes, mais do que unir estabelece o cerco, a prisão. Mas que seria de nós, pobres humanos racionalistas, sem as prisões que construímos para nos proteger? – Frágeis “Simões Bacamartes”,(Assis,2002) seres extra murus, sem referências, ameaçados!

A desordem, na loucura das duas mulheres, põe a nu esta ameaça. A ordem precisa se mostrar então presente para fazer frente ao perigo da alteridade. Sanidade x enfermidade, razão x loucura se põem como pólos de enfrentamento. Há uma real preocupação com as medidas práticas como segurança, alimentação, boas condições para a longa viagem, todavia, sob os obséquios e cuidados técnicos se esconde o medo da diversidade, do diferente e de sua alteridade. Separar o “doente” é uma medida social higienista. “O propósito principal, então, das crenças e práticas higiênicas é fixar modelos para o comportamento das pessoas, impedindo que transgridam limites e desorganizem a ordem simbólica[...] os microorganismos patogênicos ameaçam mais a vida social que a vida orgânica, e, são objeto de ritos purificatórios.” (Rodrigues,1975, p.134) Daí a necessidade de que a ordem assuma seu papel hegemônico, marque presença preponderante e rechace a desordem. Isto faz o diferente ainda mais diverso e, conseqüentemente, objeto de exclusão. “Não é improvável que possamos encontrar um paralelismo acentuado entre a tendência a identificar, no corpo humano, o ‘vil’ e o ‘nojento’ com o ‘inútil’, e a atitude pragmática do sistema capitalista, que procura valorizar no corpo o que tem de aproximado aos instrumentos e ferramentas.” (Rodrigues, 1975,p. 159)

É esperado, na apreciação de uma melodia que haja uma combinação de sons captado pelo ouvido humano como uma sensação agradável. Tal sensação deve elevar o espírito, conduzir ao êxtase, através da alegria ou da catarse. Quando a melodia une-se à palavra estabelece-se um sentido que precisa ser compreendido, vale dizer, exige coerência para que o receptor possa decodificá-la. A cantiga da filha “não vigorava certa nem no tom nem no dizer das palavras – o nenhum”. A avó segue a cantiga da neta, “que ninguém não entendia”.(p.14) É um desafio não intencional, mas que, a contragosto, se põe entre elas e o povo circundante, uma comunicação que não se decodifica. Para os presentes a cantiga era “o nenhum”, a ausência de qualquer possibilidade de laço social, fora de qualquer alcance.

“A moça punha os olhos no alto, que nem os santos e os espantados, vinha enfeitada de disparates, num aspecto de admiração. Assim com panos e papéis, de diversas cores, uma carapuça em cima dos espalhados cabelos, e enfunada de tantas roupas ainda de mais misturas, tiras e faixas, dependuradas – virundangas: matéria de maluco. A velha só estava de preto, com um fichu preto, ela batia com a cabeça, nos docementes. Sem tanto que diferentes, elas se assemelhavam”. (p.14) As duas loucas se diferem dos demais também pelos trajes. Vestem-se e têm comportamentos sui generis, chamam atenção, embora não quisessem “dar-se em espetáculo”. A velha trajando-se mais discreta, toda de preto, com seu chalé preto, mas “batia com a cabeça, nos docementes.” Ambas portam no corpo, quer pelas indumetárias, quer pelo comportamento, aquilo que os gregos definiram como estigma. “Sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresenta”. (Goffmam 1963, p.11) A filha tem um ar sobrenatural “que nem os santos e os espantados”. Esta última traz nas vestes “matéria de maluco”, trapos, tiras, roupa sobre roupa, panos e papéis amarrados ao corpo. Cabelos desgrenhados que todos reconhecemos como assinatura da sandice!

Diversas no trajar, diversas na idade, todavia se assemelhavam. Unidas neste padecimento comum, alardeiam a alteridade da doença mental. O rosto da moça é a contradição posta: “a cara dela era um repouso estatelado”. De uma loucura que subverte, seu rosto atônito é uma máscara de não-presença. Ela não quer se dar em espetáculo, porque não está ali. Quais seriam as “outroras grandezas impossíveis”? Quem poderia responder? Senão alguém também mergulhado nestas águas, como a avó? Quem sabe vem daí esta semelhança entre as duas? Daí, quem sabe, este olhar da avó de um “amor extremoso”, este “encanto de pressentimento muito antigo” que todos viram e não entenderam?

“De repente, a velha se desapareceu do braço de Sorôco, foi-se sentar no degrau da escadinha do carro. – ‘Ela não faz nada, seo Agente...’ – A voz de Sorôco estava muito branda: - ‘Ela não acode, quando a gente chama...” (p.15) Elas são “doidas mansas”, Sorôco sabe disto. Necessárias as precauções de segurança? Grades nas janelas do vagão? Para impedí-las de quê? De cantar? Ou para delimitar o estigma da desordem? A falsa segurança contra a ameaça simbólica! .

“Agora mesmo, a gente só escutava era o arcoçôo do canto, das duas, aquela chirimia, que avocava[...] A tristeza do canto incompreensível podia doer na gente, sem jurisprudência de motivo nem lugar, mas pelo antes, pelo depois”.(p.15) A dor que se derrama no canto incompreensível agora pode ser de todos, sem marca de razão... Não é preciso “jurisprudência de motivo nem lugar”. Esse por-se em comum é a vivência do trágico, no sentido grego, dionisíaco. “Dionísio é, efetivamente, uma espécie de interposição entre a natureza e a cultura, ao permitir, ao mesmo tempo, o acesso ao instintual e o aprofundamento da socialidade” (Maffesoli,1985, p.140) É um estado de “religare” um “cimento social” que se mostra em toda sua potência e vitalidade. Já não é só uma chusma de gente, mas uma socialidade que descobre a forma de enfrentar coletivamente o desafio do limite e a dor é agora de todos.

O embarque é rápido que Sorôco nem espera sumir, nem olha, é uma imagem desolada, uma tristeza esmagadora... “Ao sofrer o assim das coisas, ele, no oco sem beiras, debaixo do peso, sem queixa, exemploso”.(p.16) Sorôco é a imagem da desolação muda,“oco”. Esvaziado como quem parou de ser. Há uma emoção de lagrimejamento nos presentes “vistas neblinadas”. As palavras que buscam consolar estão soltas ao vento, não há consolo possível nos ditos, mas, nos não ditos...”De repente, todos gostavam demais de Sorôco.”(p.16) Percorre o âmago daquela comunidade um estado de ser-estar-junto, nunca dantes suspeitado. Um estado proxêmico de coesão que não é da ordem da consangüinidade, nem da pena, mas do religare, da proxemia. Ali, naquele momento e lugar, em face do evento que foi presenciado e das circunstâncias em que se deu, estabelecem-se relações afetivas que os seres humanos desenvolvem a partir de um território de pertencimento, seja este território espacial ou simbólico. Uma “socialidade de base” como denomina Maffesoli,(1988,p.113) “o querer-viver espontâneo que, através de representações imagéticas, reordena o tempo e o espaço, permitindo o enfrentamento coletivo do trágico do tempo que passa e a angústia da finitude.” Um estado de ser-estar-junto, sem obrigatoriedade, sem finalidade disciplinada, pela solidariedade orgânica, imposta pelas rotinas da vida cotidiana, em posições moralista de um dever-ser. (Durkheim,1986) Mas sim, manifestada no próprio ato de pertencimento, uma sensibilidade coletiva. “essas redes de amizade, que não têm outra finalidade senão reunir-se sem objetivo, sem projeto específico e que cada vez mais compõem a vida quotidiana dos grandes conjunto” (Maffesoli,1987,p.35)

Sorôco está voltando para casa como se fosse para longe, sem a mãe e sem a filha, mas com toda a cidade que o acompanha. As palavras de conforto são dispensáveis... o canto as substitui: “ele começou a cantar, alteado, forte, mas sozinho para si – e era a mesma cantiga, mesma de desatino, que as duas tinham cantado [...] E foi sem combinação, nem ninguém entendia o que se fizesse: todos, de uma vez, de dó de Sorôco, principiaram também a acompanhar aquele canto sem razão. E com as vozes tão altas! Todos caminhando, com ele, Sorôco, [...] os mais de detrás quase corriam, ninguém deixasse de cantar” (p.16) Mais, muito mais que de dó de Sorôco, o povo canta com ele, a mesma canção destrambelhada das duas loucas. Como um coro de ditirambos que, no teatro grego clássico, declamavam e cantavam, em delírio, para louvor do deus Dionísio. Ali Sorôco é o cantor principal, o corifeu, acompanhado de todas as outras vozes, “ninguém deixasse de cantar'. 'O coro como uma muralha viva de que se cerca a tragédia a fim de se separar do mundo real e salvaguardar seu domínio ideal e sua liberdade poética [...] o coro ditirâmbico é um coro de transformados que perderam totalmente a lembrança de seu passado civil” .(Nietzsche,1992 p.59) “O ditirambo “oferece o espetáculo de uma comunidade de atores inconscientes que se contemplam a si mesmos, metamorfoseados entre os outros” (p.66) Nesse canto de possessão dionisíaca, todos se irmanam para “levar Sorôco para a casa dele[...] ia até aonde que ia aquela cantiga” (p.16). Não importa mais que a cantiga seja “nenhum”, não tenha tino, nem seja compreendida – ela é agora compartilhada. Há uma irresistível identificação entre todos os que cantam com Sorôco, numa sabedoria dionisíaca do enfrentamento dos limites, como um retorno à natureza.





Referências Bibliográficas

1- ASSIS, Machado. O alienista. 2 ed., Porto Alegre: Mercado Aberto, 2002.

2- GENNEP, Arnold van. Os ritos de passagem. Trad. Mariano Ferreira. Petrópolis: Vozes, 1997.

3- DURKHEIM, Emile. Les formes élèmentaires de la vie religieuse. 7 ed., Paris: PUF, 1985.

4- GOFFMAN, Erving. Estigma. 4. ed., Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.

5- MAFFESOLI, Michel. A sombra de Dionísio, contribuição a uma sociologia da orgia. trad. Aluísio Ramos Trinta. Rio de Janeiro: 1985.

6- ___________O conhecimento comum. Trad. Aluísio Ramos Trinta. São Paulo: Brasiliense, 1987.

7- ____________ O tempo das tribos, o declínio do individualismo nas sociedades de massa. Trad. Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987.

8- NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

9- RODRIGUES. José Carlos. Tabu do corpo. 2 ed., Rio de Janeiro: Achiamé, 1983.

10- ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. 11 ed., Rio de Janeiro: 1962.




Referências Bibliográficas

1- ASSIS, Machado. O alienista. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2002.

2- GENNEP, Arnold van. Os ritos de passagem. Trad. Mariano Ferreira.
Petrópolis: Vozes,1997.

3- DURKHEIM, Emile. Les formes élémentaires de la vie religieuse. 7. ed. Paris: PUF, 1985.

4- GOFFMAN, Erving. Estigma. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.

5- MAFFESOLI, Michel. A sombra de Dionísio, contribuição a uma sociologia
da orgia. Trd. Aluízio Ramos Trinta. Rio de Janeiro: Graal, 1985.

6- MAFFESOLI, Michel. O conhecimento comum. Trad. Aluízio Ramos Trinta.
São Paulo: Brasiliense, 19887

7- MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos, o declínio do individualismo nas
sociedades de massa. Trad.Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro:
Forense-Universitária, 1987.

8- NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia. Trad. J. Guinsburg. São
Paulo: Companhia das Letras, 1992.

9- RODRIGUES, José Carlos. Tabu do corpo. 2. ed. Rio de Janeiro: Achiamé,
1983.

10- ROSA, J. Guimarães. Primeiras estórias.11. ed. Rio de Janeiro: 1962.





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