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Contos-->Iogurte de pêssego -- 17/12/2002 - 00:42 (igorcabral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uma vez me disseram que se eu saísse para pintar a cidade, eu descobriria o sentido de tudo, decobriria a felicidade. Mas eu pensava : “Não sei, e se a tinta acabar?”
Conheci meu pai quando eu tinha dezessete anos, foi muito…. Quando mamãe estava grávida ele foi embora.
Uma vez me disseram que se eu tomasse banho de iogurte meus cabelos não ficariam brancos, mas eles ficaram…
Quando meu pai foi embora, mamãe chorou, chorou tanto que…
As coisas acontecem estranho, ela nunca falou muito sobre ele, eu tinha vergonha de perguntar… Só dizia que era bonito, e outras poucas coisas… Nenhuma foto.
Numa noite de Outubro eu saí para pintar a cidade pela primeira vez, levei tinta, da cor do iogurte…
Meu pai nunca escreveu uma carta sequer, isto me deixava triste. Um dia cheguei do colégio, e naquele tempo eu só pensava na Andreza da minha turma, e nas novelinhas do jornal,… e claro nos jogos do Maracanã… Então entrei em casa, eu já tinha a chave, e sentado no sofá amarelo estava aquele homem de terno. No rosto ele não disfarçava um sorriso, amarelo.
Embaixo do poste fiquei olhando a latinha de tinta, de noite a cor estava diferente. Sem querer sujei minhas mãos. “ Faz parte.”
Cumprimentei aquele homem rispidamente, subi para meu quarto, a escada de madeira fez seu barulho habitual.
A Andreza era bonitinha, sempre usava sutiã preto, gostava de pêssego. Eu sempre conseguia pêssegos para ela. Naquele tempo ainda não havia iogurte de pêssego, se existisse com certeza eu também levaria para gente…
Eu estava escrevendo FLAME… por que o Flamengo tinha vencido no Domingo, estava até gostando de escrever, meus amigos um pouco longe fizeram sinal para mim, mas eu não vi.
No meu quarto, pendurei o chaveiro no preguinho…
Ainda havia bastante tinta. Só ouvi o barulho do tiro. Depois : silêncio. Pensei na Andreza…
“ Mamãe ! ”. Desci de novo pela escada barulhenta. A sala estava vazia. Silêncio.
Escrevi num bilhete e entreguei no começo da aula. Ela leu, sorriu, olhou muito rápido para mim. Durante a classe, olhei quatro vezes, mas nada, nenhum olhar, nenhuma resposta…Então ela levantou para ir ao banheiro. Acompanhei-a com o olhar, e fora da sala, já no corredor, ela virou na minha direção e me fitou por três, quatro segundos. Entendi tudo. Claro que no bilhete eu não contei a história do cabelo branco, afinal não era por causa disto.
Só tenho alguns flashes na memória, lembro do chão, do céu estrelado, da lua minguante, Diego, o meu melhor amigo gritando, lembro da ambulância, lembro da tinta que não acabou. Tudo muito rápido.
Foi nesta vez que Andreza esqueceu o sutiã no banheiro lá em casa, mamãe achou, e até gostou do modelo, pelo que percebi em seu olhar.
As imagens foram clareando, parecia um hospital, mamãe chorava um pouco, e aquele homem acariciava sua cabeça. “ Mamãe, o que aconteceu? ”. Então ela me disse. Aquele homem era meu pai.
Outubro. Andreza estava linda. Iogurte no sorriso.
“ Sua mãe ficou bem de sutiã preto…Aqui, eu trouxe um pêssego para você ”. Nunca eu tinha visto um pêssego tão bonito, dava pena de morder. Mas eu já sabia que estava maravilhosamente gostoso. Não hesitei muito.
Logo logo saí do hospital.
Chorei muito quando abracei aquele homem,… meu pai.
Sabe que um mês depois alguém completou o que eu havia começado a escrever? Gostei, mas hoje nem existe mais aquele muro.
E a Andreza?
Passou a variar mais as cores do sutiã. Principalmente vermelho flamejante.
***
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