A eliminação do time de Mano Menezes na Copa América não deveria espantar ninguém. Com um pouco de esforço, bem pouco, é fácil lembrar-se dos fiascos anteriores dos brasileiros nessa mesma competição. O Brasil levou a pior no torneio Sul Americano muitas vezes. Talvez a incapacidade de converter os pênaltis contra o Paraguai tenha sido a razão de tanto alarde sobre a derrota. Deixando o ufanismo de lado, um analista isento e mais equilibrado seria forçado a dizer que o resultado de domingo passado foi apenas a confirmação de que, felizmente, o cenário do futebol na América vem mudando em favor dos times antes menos expressivos. Esse rearranjo, diria o analista, fica favorecido pela total falta de interesse dos jogadores brasileiros, sobretudo dos estrangeiros, em mostrar trabalho com a camisa amarela.
A imprensa, longe de ocupar o lugar do analista do primeiro parágrafo, deitou e rolou sobre mais esse fracasso da seleção, na chamada Era Mano. Houve até quem pedisse a cabeça do técnico e, quem diria!, a volta de Dunga. A síndrome do “nós éramos felizes e não sabíamos” contaminou os jornalistas, e não apenas os especialistas em esportes. Mais uma vez, a imprensa mostrou que tem grande dificuldade de exercitar a objetividade e o distanciamento, que, em teoria, são a base do trabalho de um jornalista. Confesso que me preocupo mais com essa volubilidade da imprensa que com a incompetência da seleção.
Se essa conduta excitada se revelasse apenas na cobertura dos eventos esportivos, não perderia meu tempo e o seu discutindo esse assunto. Acontece que essa maneira de abordar os diversos temas sempre de forma alarmada, apaixonada e, por consequência, leviana é vista nas matérias de todas as editorias. O culto ao escândalo é mais perceptível na TV, mas a imprensa escrita também sofre do mesmo mal. A hipérbole e o disfemismo deixaram de ser figuras de linguagem episódicas no discurso jornalísticos e passaram a fazer parte de um cânone. Para que a notícia “pegue” tem que ser fantástica.
Houve um momento em que a imprensa se ocupava apenas dos eventos considerados novos e bombásticos. Desastres, mortes, escândalos sempre foram a preferência dos editores. O que ocorre hoje – e a cobertura da eliminação na Copa América é um exemplo – é que a mída ultrapassou esse estágio em que se contentava com o papel de obervadora/repórter do apocalipse. Vitaminados pela tecnologia, os jornalistas não apenas relatam a explosão, mas transformam tudo e todos em bombas, mesmo que não passem de traques de festa junina.
Há um livro do filósofo Christoph Türcke chamado “Sociedade Excitada”, da Editora Unicamp, que mostra como a excitação passou a ser um padrão de comportamento do ser humano. Encerro essa reflexão com as palavras de Türcke: “o meio audiovisual necessita mobilizar todas as forças específicas de seu gênero e ministrar a notícia com toda a violência de uma injeção multissensorial, de forma que atinja o ponto que almeja: o aparato sensorial ultrassaturado dos contemporâneos”.
Jefferson Cassiano é professor e publicitário. Ocupa a cadeira 31 da Academia Ribeirãopretana de Letras