Sempre ouvi esta máxima: os jovens mudam o mundo. Acho que ela foi construída com base na percepção de que vamos querendo mais sossego quando estamos perto do mezzo del cammin di nostra vita. É comum que se confunda a falta de ânimo para as baladas e badaladas noturnas, um sintoma da idade que avança, com o desinteresse em desafiar o status quo.
De tanto se debater pela vida, é verdade que os seres humanos acabam por achar um lugar que seja confortável o suficiente para que não se queira, por nada, sair dali. Chega o dia em que não se tem mais entusiasmo para entrar em qualquer farra. É melhor ficar em casa, vendo o Corinthians ganhar jogos, ao mesmo tempo em que se cultivam amigos, livros e discos. Esse sossego é uma conquista de anos de labuta. É o momento de só se interessar pelas coisas que, de fato, interessam.
Talvez os jovens tenham sido o motor de mudanças num passado mais florido. Os anos 1960 foram marcados por manifestos de moleques mobilizados em torno de uma ideia de mundo mais fraternal. Sei lá se foi o excesso de canabis ou a overdose de Lucy in the Sky with Diamonds ou a força da grana que ergue e destrói coisas belas que fez tudo isso mudar, mas essa história de que jovem transforma o mundo é uma tremenda balela.
Os jovens estão previamente confortáveis. Se puderem ficar sob a batuta paterna ou materna até os quarenta, eles preferem. Aventura, para eles, só no acampamento de férias, com monitores para tutelar e show de banda cover no fim do dia. Na vida vivida, jovem quer mais é ficar “de boa”, curtir “sussa”. A faculdade é um objetivo muito mais geracional (“se todo mundo faz, eu vou fazer também”) que uma escolha. Poucos são os jovens que se permitem, concluído o ensino médio, bradar a pergunta: o que farei agora? Ser bacharel é o caminho para o qual a família o empurra. E ele aceita. Não se rebela, não questiona. Sabe que, se reclamar, corre o risco de ter que assumir as rédeas da própria vida, batalhar grana e segurar legal a barra. Fica quieto, aceita e, assim, pode seguir enchendo a cara nas festas da galera, financiado pelos pais.
Pausa. Reflexão. Braço a torcer. Pergunta: Será que um dia isso foi diferente? As exceções sempre existiram, mas o grosso da juventude, ao longo da história, não foi sempre um mingau de inércia e indolência? Se consultar minha biografia, por mais que tenha boa vontade com o passado, posso dizer que o que faço hoje é mais transformador do aquilo que realizava, fosse lá o que fosse, quando tinha vinte e poucos anos e não me desfazia dos meus sonhos.
Jovem nunca mudou o mundo. Jovem foi, no máximo, massa de manobra (ai, meus tempos de “cara-pintada”). Seja pela revolução, seja pela evolução, quem faz o mundo mudar tem sempre mais de trinta. Anos e dentes.
Jefferson Cassiano é professor e publicitário. Ocupa a cadeira 31 da Academia Ribeirãopretana de Letras |