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Artigos-->Depois dos terremotos -- 02/11/2012 - 15:59 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Depois dos terremotos



 



O chão tremeu outra vez num país qualquer e miserável. Muita gente achou que foi uma benção: não havia muito mais para desabar, e milhares de pessoas já - e ainda - estavam sem teto mesmo, não corriam o risco de ver tudo ruindo sobre elas outra vez. É... O ser humano sabe como dar um jeito de ver normalidade no anormal, de se acostumar, acomodar-se sem cômodo. Dizem que a vida tem que continuar, e, para quem está vivo, essa é uma afirmação que pode soar como castigo ou prêmio. Tudo depende do peso que as perdas contabilizadas representam para cada um. Quanto mais cedo se conseguir retomar a rotina, ou fingir que se retorna a ela, menos o peso e as perdas incomodam.



            Um terremoto, como algumas crises da vida em terra firme, exige que se resolvam problemas que nunca tinham sido sequer incômodos.  Em quase todos os países atingidos por tremores,  fica-se sem água por dias. Cedo ou tarde,  alguém tem a ideia de identificar canos da rede subterrânea de água e quebrá-los. Conseguem água. De um jeito precário, matam a sede que poderia matá-los. Helicópteros cruzam os céus e jogam sacos de comida. Quem consegue pegar algum pacote acaba, também, com o problema da fome. Ainda há corpos nas ruas, mas crianças jogam futebol nos descampados.  Sem sede e sem fome, mulheres montam salões de cabeleireiro improvisados e atendem clientes que querem ficar... mais bonitos? Mais humanos talvez.  Nada voltou ao normal no horizonte apocalíptico, mas a vida continua para os que vivem, ao menos para boa parte deles. 



           Quais seriam as outras opções pós-terremoto? Enlouquecer? Suicidar-se? Gritar protestos pela rua? Há quem faça isso. Como há quem siga tentando ajudar feridos, doentes, desvalidos. A maioria, no entanto, reconstrói aquilo que pode lhe servir de sinal de que o caos não venceu. São eles que fazem a frase feita virar fato. São eles que fazem a vida continuar. Enquanto os loucos atiram nas próprias têmporas e os santos distribuem unguentos, os normais seguem sendo normais: aqueles capazes de construir a normalidade.  



            Não há ninguém errado nessa história. Pense no que fazemos em nossas vidas. Perdemos pessoas amadas, sofremos, caímos, mas voltamos ao normal. Há quem diga que é só nas aparências que essa normalidade se manifesta após uma dor. Não é. Não poder ser. Só há três possibilidades após um trauma, seja lá no tão distante e tão íntimo fim de mundo  ou aqui na sala de nossas casas: ou enlouquecemos ou viramos santos ou voltamos ao normal.  Os loucos não estão interessados nessas elucubrações; tem mais o que não fazer. Os santos têm milagres para operar e não sobra tempo para afazeres mundanos.  Os normais, esses sim, mantêm o interesse pela vida. A vida normal. A vida  normal que precisa existir, pois a história pode esquecer os mortos, dar mais valor aos loucos e beatificar os santos,  mas nem haveria história não fossem os homens normais.



 



Jefferson Cassiano é professor e publicitário. Ocupa a cadeira 31 da Academia Ribeirãopretana de Letras


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