As bolhas e os bolhas
O termo “bolha” ganhou status de mantra econômico da destruição do mundo desde os episódios das quebras múltiplas de empresas pontocom. Adquiriu ainda mais força com a crise imobiliária de anos atrás nos EUA. Mais e maiores bolhas ameaçam explodir com nossas vidas
bem ou mal estruturadas. Se o mundo acabar nos próximos anos será por hecatombes de bolhas.
Sei dizer como uma bolha de sabão se forma. Fui expert nessa modalidade de diversão infantil. Aprendi a manufaturar uma pequena circunferência de arame revestido com barbante, a qual era capaz de produzir bolhas enormes a partir de uma mistura de água, sabão em pó e detergente. Entendo patavinas de bolhas econômicas. Apesar disso, arrisco dizer que ao menos um princípio da bolha de sabão pode ser aplicado às suas co-irmãs da economia: para fazer um bolhão é preciso pulmão; quanto mais se sopra uma bolha em sua gênese, mais ela cresce. Isso até o limite do colapso, que o soprador nunca sabe quando chegará.Se assim for, se o fôlego tem chance de fazer uma bolhinha ficar hipertrofiada tanto quanto tem de explodi-la, sinto que a economia do Brasil está posicionada exatamente neste limiar: o da prosperidade com o apocalipse. Os sopradores são os “bolhas” consumidores.
É impossível não perceber. Há mais consumo que a capacidade de bancá-lo. Compra-se de forma alucinada, sem dinheiro na mão, na base do “leve agora e pague até o fim de sua vida”. Os cartões de crédito, os financiamentos sem avalista ou consulta ao SPC, os crediários anunciados em dezesseis milhões de cores parecem suscitar uma obsessão por gastar o que não se tem para ter o que não se precisa. Compre, compre, compre e exista.
Além do desconforto que essa atitude selvagem gera, há o inconveniente, muito inconveniente, de que essa compulsão transforma a lei de oferta e procura num monstrengo faminto que engole descontos e promoções e espanta os preços para as nuvens. Uma cerveja long neck por R$ 9,00? Um carro por apenas R$ 110 mil? A pipoca do cinema mais cara que o ingresso? Tem algum bug nisso tudo. Simples: os “bolhas” não acham que estão endinheirados? Que paguem mais, oras.
Acontece que eu não sou um “bolha”. Não coloco o consumo à frente da razão. Não existo para comprar. Apesar disso, sofro as consequências dessa falta de discernimento em meu bolso, e posso, no máximo, ficar indignado e preocupado. Vejo a bolha crescendo, mas não controlo o sopro que a alimenta. Quando ela fizer buuuum, no entanto, a ensaboada respingará em mim, em você e em qualquer ser vivente com conta bancária nesse continente-Brasil. Quando isso acontecer, em vez de bolhas, precisaremos de muitos balões... de oxigênio.
Jefferson Cassiano é professor e publicitário. Ocupa a cadeira 31 da Academia Ribeirãopretana de Letras
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