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cronicas-->O menino dos chicletes -- 19/09/2002 - 14:09 (Raquel Zanon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ar condicionado, película automotiva, CD de porta-mala, bancos de couro, trava e vidro elétricos, càmbio automático e direção hidráulica. O automóvel, um importado de cor prata, recebe olhares de admiração por onde passa.
A temperatura de dentro do carro a 18ºC não deixa o calor invadir o interior do veículo. Os vidros fechados impedem que a fumaça preta dos caminhões e a poluição sonora atrapalhe a vida dos passageiros do importado.
No som, uma música ambiente. Melodias de Caetano Veloso, para acalmar os nervos, distraem o motorista enquanto ele enfrenta o trànsito urbano. Até chagar em casa, são muitos sinaleiros, muito buraco no asfalto e muitos carros fechando a passagem, buzinando, jogando luz alta.
Tudo faz parte do mundo externo. São fatos que acontecem com outras pessoas e não passam pelas travas elétricas que protegem o importado de tentativas de roubos. As buzinas não são ouvidas, só mesmo as de ónibus e caminhões. Os faróis altos não atrapalham a visão.
No sinal de trànsito, um guri pára ao lado do carro e oferece um chiclete. O dono do importado não percebe a presença do menino e continua na paz de dentro do carro. O guri permanece ali, olhando para o semblante indiferente do rapaz de terno preto, cabelos lisos e bem cuidados, relógio de ouro e aliança de casamento no dedo.
O guri, de calças velhas, camiseta rasgada, chinelo usado e boné de propaganda, não consegue ter a atenção do rapaz de dinheiro, mas imagina como seria a vida se fosse como ele. Será que teria o prazer de ignorar a presença de um vendedor de chicletes? Será que pensaria que o mundo é apenas o interior do carro, com ar condicionado e som ambiente, e nada mais há além da riqueza que lhe é permitida ter?
O sinal ficou verde, os carros começaram a andar devagar. O engarrafamento estava pior, por causa de uma batida entre um caminhão e uma moto, e o guri conseguiu alcançar o importado prata novamente. Ele queria saber porque a sua presença havia sido ignorada por aquele rapaz de terno.
Bateu com fraqueza no vidro, pediu um minuto de atenção. O rapaz olhou, e desolhou. Não abriu o vidro. Não ouviu o que o guri dizia. Nem mesmo se preocupou em ajudá-lo, comprando um chiclete. A única preocupação que tinha era de chegar em casa cedo, para tomar um banho e sair para jantar com a esposa em um dos restaurantes mais caros da cidade. Era o predileto dele.
E o guri só queria perguntar, inocentemente, onde ele poderia encontrar um terno como aquele que o rapaz do importado estava usando. Ele só queria dar um presente para o pai, que há pouco conseguiu um novo emprego e precisava de roupas novas.
Certamente, o menino dos chicletes não teria dinheiro para comprar um terno como aquele. Mas a atenção do rapaz poderia tirar da cabeça do guri a sensação de estar entre as pessoas que vivem fora do importado e que sentem o calor e a poluição, e que não fecham os vidros do carro para não sentirem-se sufocados.
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