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Ensaios-->adega -- 28/05/2008 - 17:25 (Edson de Souza Gonçalves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vim para contar meus dias. Convencido por desenganos e pela minha inocente crença fui trazido a esta adega: esta construção sem pecado.

Tenho aqui esta mesa; aquele homem vestido de branco que me trouxe vinho sem eu nada pedir; uma cadeira vazia a minha frente e a vela que ele acendeu.

Sinto um aperto provocado e um perfume de uma presença a se materializar que invadiu até as luminárias.

Nem sempre tive esse discurso: pronto!

Ele, como eu, também é uma construção de equívocos, um amontoado de tanto ler, que todas essas palavras fora de lugar e tempo, se misturam ao sopro de ventos sem origem e daí se funda meu vocabulário óbvio e desagradável.

Me explico agora para que eu faça sentido depois.

Nada era mais fácil que novamente errar o tempo. Parece embaraçoso contar mas sou daqueles que chegam ao casamento do melhor amigo dois dias depois da festa e sem presente.

Não é nada físico. Acredito ser uma incapacidade em lidar com tantas estruturas prontas, com tantos caminhos pavimentados a me queimar o pé, eu que ando descalço.

Eu tinha uma quase certeza, e era muito mais do que já tivera ou possuíra ou quisesse ter: eu já a havia visto uma única vez, em forma de mulher, cruzar meu caminho enquanto se materializavam a seu redor uma multidão de homens, mulheres e bichos todos a perder o juízo: “cometa arrastando calda ou outra tragédia qualquer” me diria meu honrado tio.

O fato é, que estava pronto. Levava nos bolsos coisas, curas e magias. Eu, que escapava das paixões anunciadas só em fechar os olhos, agora tinha medo e me enchia de bugigangas para proibir meu sorriso e meu olhar perdido.

Ela chegou, e como da única vez que a vi, vinha arrastando todos os olhares ao passar.

Sentou, servi-lhe vinho.

Olhou minhas mãos e ainda com olhar fixo nelas me disse baixinho:

“Ainda vejo nessas mãos alguns seios, mamilos duros, fluidos, línguas, interiores femininos, cabelos. Pôr quantas mulheres passaram essas mãos. Quantas elas fez feliz, quantos adeuses?”

Doeu como se me mordessem. Mesmo eu que nunca me planejei me senti estampado numa moldura publica: estátua nua no parque.

Sem que eu conseguisse disfarças meu desconforto, ela levantou os olhos e procurou os meus e na mesma voz suave e dessa vez pausada:

“que acha que eu tenho, porque me chamou?”

Se inclinou sobre a mesa sem me tirar os olhos e com a voz mais suave e lenta como se quisesse que eu gravasse todas as palavras e pausas:

“meus olhos já viram muitos corpos nus. Diferentes cores, tamanhos, texturas. Já os observei se despindo, já despi alguns, alguns já me chegaram sem roupa. Que acha que em você exista que eu já não tenha visto?”

Me odiei, baixei os olhos. Ela inclinou o rosto, procurou meus olhos e continuou:

“que tem de novo prá me dizer?, talvez algum poema, um discurso novo e indecente, suas lutas contra o rei, sua compreensão, falar de seus cães, da poeira dos seus sapatos, do gozo de suas mulheres, que acha que traz contigo que eu ainda não tenha ouvido de outras bocas?”.

E de forma autoritária e doce perguntou novamente:

“Porque me chamou?”

Minha segurança, minha agenda romântica, meu discurso, tudo desapareceu: me abandonaram minhas postura, compostura e complacência. Eu disse: me odiei.

Nesse segundo de cair sem fundo, água que não dá pé tentei não chorar, tentei não sorrir, tentei não tentar nada.

Ela recuou, abriu o ultimo botão do vestido, colou seus dedos dentro da taça, os molhou de vinho, colocou o dedo indicador na boca, tirou lentamente, cruzou suas mãos em frente ao rosto e com os cotovelos apoiados na mesa, esperou minha resposta.
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