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Ensaios-->O número de mortos na Batalha do Pulador -- 10/06/2008 - 10:06 (Academia Passo-Fundense de Letras) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O número de mortos
na Batalha do Pulador

Paulo Monteiro

O acontecimento histórico mais conhecido pelo nome de Batalha do Pulador, ocorrido no dia 27 de junho de 1894, envolvendo a coluna federalista, comandada por Gomercindo Saraiva , e a Divisão do Norte, de Francisco Rodrigues de Lima, sempre despertou minha atenção. Cresci ouvindo meu pai repetir relatos de seu avô materno, João José da Silva, contando a forma como sobrevivera à batalha, em que participara já na condição de alferes, refugiando-se nos matos, onde também procuraram abrigo centenas de pica-paus que preferiram desertar a seguir na direção de Carazinho, com seus comandantes. Na mataria foram caçados por um piquete de maragatos. Quase todos os desertores eram homens da Campanha, que não conheciam a Região Serrana e que, subindo às árvores, julgavam-se seguros. Os maragatos, provavelmente das forças do “coronel Verissimo” , a pé, vasculharam as matas à procura dos foragidos. Quando localizavam um deles, no alto de uma árvore, zombando do fardamento 'verde' usado pelos soldados legalistas, exclamavam: “Olha lá um periquitinho!”. E o abatiam à bala. Junto com um companheiro, meu bisavô abrigou-se numa árvore recoberta por vasto cipoal. Os perseguidores chegaram. Comentaram entre si que era o local propício para alguém se ocultar. Ofereceram “garantias de vida” para quem descesse. Meu bisavô fez um sinal de silêncio. Seu amigo desceu e foi imediatamente degolado. Bem depois que cessaram os tiros ele seguiu na direção do Faxinal, não sem ir encontrando mortos em seu caminho.
A preocupação em comprovar esse relato oral levou-me a pesquisar sobre o número real de mortos. Não encontrei documentos sobre desertores massacrados, mas outras informações orais, quanto à duração e desenvolvimento da batalha e sua incorporação como cabo, em Cachoeira do Sul, na Brigada de Santos Filho , concordam com relatos históricos. Ademais, outro bisavô meu, Alexandre Mendes Monteiro, que possuiu uma propriedade no Pulador, relatava que era comum encontrarem ossadas humanas por aquelas matas.
João José da Silva costumava repetir aos filhos, genros e netos que a Batalha do Pulador foi uma carnificina e que teriam morrido mais de mil homens.
Se uma parte do eu relato, aquela que diz respeito à batalha propriamente dita, pode ser comprovada documentalmente por que não serão verdadeiros os fatos ocorridos posteriormente e que ele teria testemunhado? Até que não pareçam provas em contrário, acredito ser verídica a história como era relatada por esse sobrevivente.
Divulguei minhas pesquisas preliminares no artigo “A Batalha do Pulador”, publicado em O Cidadão, de 14 de julho de 2001, e em O Nacional, de 18 daquele mês e ano.
Há um documento muito conhecido sobre as forças de Gomercindo Saraiva. Trata-se do livro Voluntários do Martírio , publicado em 1896 por Angelo Dourado, médico daquela força revolucionária.
Após atravessar o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com mais de cinco mil homens, e ameaçar Curitiba, Gomercindo retornava ao Rio Grande com um exército reduzido e esfarrapado. Realizava uma das maiores façanhas militares da história do Brasil, comparável à Retirada de Laguna, durante a guerra contra o Paraguai, alguns anos antes, e à Coluna Prestes, três décadas depois.
Segundo Carlos Reverbel , em Maragatos e Pica-Paus, p. 83, Gomercindo preparou sua retirada de volta ao Rio Grande com um exército de mais de cinco mil homens, divididos em três colunas. Acossados por forças contrárias e enfrentando um terreno que lhes era adversos, os federalistas conseguiram chegar a Passo Fundo no dia 22 de junho com uma tropa reduzida a 1.600 homens. “Nesta altura – escreve Carlos Reverbel, à página 44 – veio ao seu encontro a força de Prestes Guimarães, que se mantivera em operações na região. Reunidas as duas colunas, o efetivo subiu para três mil homens”.
Foi exatamente essa força que, naquele 27 de junho, enfrentou a Divisão do Norte, bem equipada, pois dispunha até de artilharia pesada. Divisão que teve, inclusive, a oportunidade de escolher, do ponto de vista estratégico, o melhor local para esperar e travar batalha com os maragatos. O confronto, iniciado pelas 10 horas, durou até por volta das 16 horas.
Os dados sobre o número de homens envolvidos e de vítimas são contraditórios. Angelo Dourado, médico das forças revolucionárias, que prestou socorro aos feridos no Pulador, em seu livro Voluntários do Martírio, p. 250, calcula em 1.500 homens a força maragata, 800 dos quais seriam lanceiros comandados pelo passo-fundense Prestes Guimarães, e em 3 mil os combatentes pica-paus, distribuídos em três quadrados de infantaria, com mil guerreiros cada.
Quanto ao número de feridos, Prestes Guimarães, em documento, cuja cópia me foi franqueada pelo historiador Ney Eduardo Possapp d’Avila, aqui presente, afirma que os revolucionários tiveram “88 mortos, contados insepultos no campo de batalha alguns dias depois, inclusive o valente Aparício Mello (sic), José Silveira Martins e tantos outros bravos”. Carlos Reverbel (p. 85) escreve que “as baixas, entre mortos e feridos, de ambos os lados, foram superiores a 500”. Já Gomercindo Saraiva, segundo o médico federalista que nos legou um diário da expedição, “julgava que as forças de Lima deveriam ter mais de mil homens fora de combate”, conforme se lê à página 253 de Voluntários do Martírio.
O mesmo Angelo Dourado, à página seguinte, escreve: “No lugar denominado Tope, recebemos comunicação do coronel Verissimo que continua no Passo Fundo, tendo sepultado os nossos mortos. Ele calcula o número de cadáveres deixado pelo inimigo em oitocentos, não podendo saber ao certo, porque muitos estavam confundidos com os nossos . As nossas perdas, incluindo os polacos que nos faltam, montam a 214. Temos porém cinco feridos que não poderão viver”. (A ortografia foi atualizada por mim, PM).
Outra testemunha, o major Vicente Ferreira Castro , paranaense que lutara nas forças federalistas, assim descreveu o final da batalha: “Ganhamos fisicamente o combate, porém o perdemos moralmente, e quem sabe será a nossa perdição essa derrota. Morreram muitos oficiais, desde coronéis até alferes e muitos saíram feridos. Calculam que entre mortos e feridos temos 200 homens. A Primeira Brigada foi a que mais gente perdeu, pois só o Batalhão Silveira Mota, o meu e o do Badziak, ficaram reduzidos à metade, pouco mais”.
Logo abaixo, continuando em suas anotações de campanha, parece referir-se à mesma fonte usada por Angelo Dourado, mas os números são diferentes. Com data de 7 de junho, assim escreve: “Veio um próprio do Verissimo, trazendo notícia exata do combate de 27. Dizia que tivemos 88 mortos e que o inimigo teve 700 mortos. Soube-se com certeza que saíram feridos nesse combate, o gen. Lima e o cel. Firmino de Paula”.
Luiz de Senna Guasina , outro participante da Revolução e que dela se retirou por discordar das idéias que iam dominando os federalistas, com data de 30 de junho de 1894, lembra o jornal La Prensa ter divulgado “que os revolucionários tiveram 600 mortos e muito mais feridos; que os governistas tiveram somente duzentas baixas (...)”.
Gomercindo dos Reis , veterano da Revolução de 1923 e prócer libertador passo-fundense, em artigo publicado no jornal O Nacional, de Passo Fundo, assim se expressa textualmente: “Nessa batalha, a maior que se travou no Brasil, chocaram-se 8 mil homens, mais ou menos 4 mil de cada lado, ficando mil e cem mortos no campo da luta”. O poeta de “Jardim de Urtigas” conheceu, conviveu e militou ao lado de veteranos da Revolução de 1893.
Recapitulando alguns números:
1º - Conforme o coronel Angelo Dourado, louvando-se nas informações do “coronel Verissimo”, teríamos pelo menos 1014 mortos: 800 pica-paus e 214 federalistas;
2º - De acordo com Vicente Ferreira Castro: 88 federalistas e 700 pica-paus, totalizando cerca de 788 vítimas;
3º - La Prensa, citado por Luiz de Senna Guasina, calcula as vítimas fatais em 600 federalistas e 200 pica-apus, somando 800 mortos;
4º - Gomercindo dos Reis fixa em 1100 mortos no campo da luta”, sem precisar quantos de cada lado.
Assim, quando examinamos fontes da época em que ocorreu a batalha de 27 de junho de 1894, ou que tiveram acesso a informações de sobreviventes, podemos concluir que nela se envolveram pelo menos 4.500 homens, sendo 3.000 pica-paus, sob o comando de Francisco Rodrigues Lima , e 1.500 maragatos, 700 das forças que acompanhavam Gomercindo Saraiva em seu retorno do Paraná, e 800 cavalarianos, sob as ordens de Prestes Guimarães. Os mortos, seguramente, “foram superiores a 500”, como escreveu Carlos Reverbel. Pelo comparativo das informações disponíveis, devem girar em torno de 800, os combatentes que tombaram no local em que foi travada a Batalha do Pulador.
Até prova em contrário, calculo em 1.000 (mil) o número de vítimas fatais, segundo a informação privilegiada de Angelo Dourado, reforçada pelo “coronel Verissimo”, que ficou na região depois da luta . Devem ter morrido 800 combatentes no local da batalha, possivelmente muitos deles feridos executados numa “operação de rescaldo” e 200 abatidos, nos matos, depois do confronto. Isto porque Vicente Ferreira Castro e La Prensa apresentam dados ao redor de 800 – os que realmente morreram em combate. O saldo a maior, encontrado em Voluntários do Martírio pode muito bem representar os desertores caçados nos matos do Pulador, depois do combate .
Nesse número não estão computados aqueles que morreram nos dias posteriores ao confronto. O médico Angelo Dourado calculou em cinco os feridos que não sobreviveriam e escreveu à página 266: “Saímos na estrada do Passo Fundo à Cruz Alta. Em todos os pontos do acampamento das forças de Lima, e estamos a 20 léguas do campo de batalha do Passo Fundo, há sepulturas de mortos por ferimentos recebidos naquela batalha”.


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