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Contos-->O R Á D I O -- 17/12/2002 - 15:54 (Wellington Macêdo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Entre o final das décadas de trinta e início da de quarenta, em plena efervescência da Segunda Guerra Mundial, quando ainda se dispunha das informações televisivas, o noticiário se fazia presente através da radiodifusão. Época de ouro da radiofonia nacional
Não bastassem os diversos programas de auditório cuja presença dos principais intérpretes da música brasileira arregimentava verdadeiras multidões de fãs, os jornais falados desfrutavam de importante destaque. As emissoras de rádio daquela época se esmeravam em apresentar os noticiários local e nacional através dos mais conceituados locutores além, como era óbvio, a melhor síntese daquilo que ocorria nos quatro cantos do mundo. Tudo, como somente poderia ser, dentro das limitações impostas pelas técnicas radiofônicas disponíveis.
Macário, nonagenário em pleno gozo das suas faculdades mentais, no desfruto de merecida aposentadoria após seguidos anos de árduo trabalho como conferente numa antiga e tradicional casa de secos e molhados, representava um lídimo aficionado da radiofonia. Seu desgaste físico imposta pela idade avançada, além da visão já bastante comprometida, não lhe permitiam outras formas de passatempo. Portanto, ouvir rádio era a sua única distração. Mal tinha início a programação diária lá se postava junto do rádio, sentado na sua cadeira predileta, a desfrutar de todas as informações transmitidas. Hábito esse adquirido há longas datas. Entrava dia, saía dia, e a rotina não sofria modificação.
Viúvo pela segunda vez há algumas décadas, residia numa modesta casa conjugada, localizada numa ruazinha distante do centro da cidade, único bem material que possuía, adquirida através de longo financiamento obtido no então IAPC.
Na sua companhia viviam dois dos oito filhos, frutos do segundo casamento, já que do primeiro passara em brancas nuvens, sem filhos. Não por culpa sua mas devido a infertilidade da primeira falecida. Além de Prudência, solteirona de idade provecta havia Pergentino, o caçula, conhecido nas redondezas por Tino Mão de Seda.
Prudência, moça de hábitos simples, dedicava sua vida aos inúmeros afazeres domésticos os quais, diga-se de passagem, desempenhava como raro desvelo. Algumas vezes, quando o reumatismo permitia, se deslocava até a Igreja do bairro, pois que fazia parte da Congregação das Filhas de Maria. Além do mais, ressentia-se do fato de que a natureza não lhe havia sido pródiga uma vez que era destituída de quaisquer atrativos físicos. Não bastasse uma acentuada miopia, era portadora de uma perna mais curta que a outra, razões bastante para que jamais lhe tivesse aparecido algum pretendente a desposá-la. Tal defeito físico resultara-lhe ser mais conhecida na comunidade pelas alcunhas de "planta e arranca" e de "vinte e nove e trinta", pois à medida que caminhava os seus movimentos para baixo e para cima, ensejavam que os desocupados repetissem em uníssomo: planta e arranca, planta e arranca, planta e arranca ou ainda, vinte e nove e trinta, vinte e nove e trinta, vinte e nove e trinta.
Já Pergentino era daqueles que não queria nada com a vida. Apesar dos seus trinta e seis anos de idade jamais havia trabalhado. Vivia às expensas da minguada aposentadoria do seu velho pai. Bebedor inveterado, era assíduo frequentador dos botecos do bairro e que para alimentar seu vício costumava surrupiar objetos da casa para vendê-los no sentido de saciar sua compulsão etílica.
Certa feita, no auge mesmo da sua insensatez teve a despudorada idéia de retirar algumas válvulas do rádio do seu pai e vendê-las numa oficina de reparos eletrônicos situada nas proximidades de sua residência. Fato ocorrido nas caladas na noite se aproveitando que Macário já havia se recolhido.
Na manhã seguinte, logo ns primeiras horas do dia, Macário ligou o rádio como fazia habitualmente ansioso pelas notícias mais recentes e, para sua surpresa, o mesmo permanecia mudo. Percebendo a aflição do velho ao ser privado da sua única distração, Pergentino encondera-se atrás da porta entre a sala e o corredor da casae, tentando imitar a voz do locutor, falou:
----- Alô, alô, senhores ouvintes; hoje não haverá programação.
Diante do fato Macário desligou o rádio dirigindo-se à porta da frente um tanto desolado. De repente, percebeu que o rádio do vizinho ao lado estava transmitindo a programação normalmente. Na dúvida, retornou ao interior da casa ligando novamente o rádio, momento no qual Tino Mão de Seda, postando-se mais uma vez atrás da porta e procurando emitir uma entonação de voz semelhante à do locutor, repetiu, enfaticamente:
-----Alô, alô, senhores ouvintes, NÃO INSISTAM, pois hoje não haverá programação.
Decorridas algumas horas, Macário com a ajuda de lum técnico em eletrônica descobriu mais uma das falcatruas do filho malandro.
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