Reclamamos sempre quando nos sentimos tolhidos em nossa vontade de possuir alguma coisa. Num mundo consumista em que existe tanta coisa sedutora para adquirir, é praticamente impossível conter o impulso de ter aquilo que é objeto do nosso desejo. Principalmente quando fazemos aquelas contas mirabolantes do que ainda estamos por receber em dinheiro, e apostamos que podemos contar “com o ovo dentro da galinha”.
Pois é aí que reside o perigo! Fazemos dívidas antes de ter a garantia da quantia para pagar. Dividimos em milhares de prestações pequenininhas esquecendo-nos de que elas vencerão um dia, e -pior que tudo- fazemos outros milhares de continhas de outros bens de consumo. Juntando todas elas, tornam-se uma bola de neve.
Embora eu tenha juízo, vez por outra me pego nessa armadilha, pois adoro possuir as novidades que encantam e fazem rir. Aliás, o riso para mim é o gatilho de muita satisfação. Riso, para mim tem o significado de aprovação. Quando organizo uma festa, um encontro, um texto - seja lá o que for!-, sempre o faço criando coisas surpreendentes e esperando o riso de alguém. Pois se a pessoa olha e dá risada é por que aprovou. E nisso me realizo e me alegro, pelo esforço compensado.
Tenho olho clínico em uma rua cheia de bugigangas. Vejo o quase impossível numa Rua 25 de Março, por exemplo. Na estrada, vou passando e lá, no maior cantão, consigo ver aquilo que será a surpresa de um próximo evento, presente a ser oferecido, e quantas mais desculpas houver. Entro em lojas só para olhar o que mais poderá ter sido inventado. E sempre tem. Imaginem o que vi hoje! Um recipiente para acoplar uma lâmpada caso quisermos tirá-la ainda quente!... Olha... Foi uma tentação sair da loja sem levar objeto tão “indispensável”. Como se brinca, “minha vida nunca mais será a mesma” a partir desta descoberta!
Apesar de tudo, consegui vencer minha compulsão por novidades e saí me sentindo uma heroína! Ando treinando colocar um freio em várias atitudes minhas. Não apenas sobre bens convidativos, mas em várias situações que antecipo soluções antes de estar segura da possibilidade de poder mantê-las. Existem várias que não são exclusividade minha: emprestar dinheiro, emprestar algo que nos custou caro e que temos medo de ser danificado, ceder em coisas que não sejam coerentes com nosso modo de agir, aceitar determinados trabalhos para depois se arrepender, fazer favores precipitados. Ficaria aqui, o dia inteiro, mencionando um mundo de coisas que nem sempre são o que queremos ou podemos.
Mas faz parte da nossa cultura o padrão do sacrifício pelo próximo, o que não significa absolutamente que essa atitude seja um benefício real. Sabemos que só podemos abrir mão daquilo que não nos prejudique a possibilidade de continuar ajudando alguém. Existe um limite, ou seja, é necessário colocar um freio nas nossas decisões. Funciona como o freio de um veículo.
O que é um freio no contexto de um automóvel?
É o pedal que usamos para diminuir a marcha ou mesmo estacionar o veículo. Mas também ele tem uma função muito mais importante e talvez muito pouco conscientizada.
O freio é a garantia para o automóvel, tanto quanto para a vida.
Assim como à vida, quanto maior a capacidade de frear com segurança, maior a tranqüilidade que teremos para imprimir velocidade ao nosso carro!