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Ensaios-->Não é possível negar a realidade -- 22/10/2008 - 20:11 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não é possível negar a realidade

Jarbas Passarinho
Foi ministro de Estado, governador e senador

Fernando Henrique Cardoso, preceptor de alunos da USP sobre marxismo, chegou à Presidência da República quando o mundo mudara. O Muro de Berlim caíra, os satélites moscovitas do Leste Europeu democratizaram-se e a União Soviética entrara em colapso. Privatizou estatais de grande vulto patrimonial, tirou da Petrobrás o monopólio do petróleo e ganhou o apelido de neoliberal. Acusado de trânsfuga, repetiu várias vezes que era de esquerda. A rigor, não havia paradoxo, pois a casa da esquerda tem muitos aposentos. O de Marx já não é o principal.

Luiz Inácio Lula da Silva, em 2000, era o lugar-tenente de Fidel Castro nestas latitudes. Dedicava-lhe, muito acima de admiração, declarada devoção. Bancando guia de excursão, levou uma plêiade de esquerdistas, que pagaram para visitar Cuba com direito a entrevista com Fidel. Uma foto publicada no Brasil mostra-o inebriado ao lado do seu ídolo, saudando-o fervorosamente “pelo bem que a revolução fizera ao povo de Cuba e ao mundo socialista”.

A presença no Foro de São Paulo, com toda a esquerda revolucionária sul-americana, associara a Lula a imagem do proletário revolucionário derrotado três vezes nas eleições para presidente da República. Na quarta, que venceu, conquistou a burguesia que Marx denunciara como “fonte de todos os vícios e maldades”. Presidente, em entrevista ao Le Monde, voz da esquerda francesa, decepcionou o entrevistador: “Considero superados certos conceitos da esquerda. Jamais mantive a etiqueta de esquerda”. Bem antes de ser presidente dissera à mídia brasileira: ‘Socialismo é utopia do PT’”. Etimologicamente, Fernando Henrique continuava assistente de Florestan Fernandes e Lula aproximara-se de Roberto Campos. Talleyrand ensinou: “A palavra é dada ao homem para disfarçar seu pensamento”.

No Brasil, dizem os esquerdistas que a esquerda só se une na prisão. Os dias atuais mostram Lula contrariando a ironia. Criou dois princípios de política internacional que favorecem os assumidos esquerdistas. São “as ajudas ao irmão mais pobre e ao irmão menor”. O relacionamento com Evo Morales é exemplo do primeiro princípio. Fez doutrina. Chamou-nos de imperialistas. Disse que “o Brasil comprou o Acre por um cavalo' e que explorou a riqueza boliviana ao pagar o gás por preço vil. Lula recomendou paciência ao presidente da Petrobrás. Aplicou o princípio do irmão pobre que invadira, militarmente, duas refinarias que a Petrobrás comprara quando ineficientes, nelas investira e fê-las capazes de suprir o consumo boliviano de derivados de petróleo.

Fiel ao sistema de equilíbrio do poder — conceito europeu nunca observado —, Lula adota postura de quem tem vergonha da suposta política imperialista do passado. Recebe Evo com afeto e determina à Petrobrás que negocie uma forma de receber pagamento pela expropriação das refinarias (até aqui desconhecida) e aumente o preço do gás importado, que recebemos pelo gasoduto que construímos. Concede vultosa verba pelo BNDES para a Bolívia construir rodovias, uma vez que as nossas estão em belíssimas condições. Quando Evo enfrenta oposição dos departamentos (estados) mais importantes, Lula junta-se a Chávez e vão ambos a Evo para oferecer-lhe solidariedade, interferindo, pois, nos assuntos internos do país.

No momento, Evo está em conflito com a empreiteira brasileira Queiroz Galvão que, por sinal, se ofereceu para fazer reparos, sem despesa da Bolívia, na estrada que fez e entregou. Passado um ano, ainda não foi deferida a proposta. E mais: quando um governador oposicionista de departamento é perseguido e preso sob acusação não provada e pede asilo político ao Brasil, ele lhe é negado. Os bolivianos que, ameaçados, entraram no Acre, já receberam ordem de voltar à Bolívia. Extradição sui generis.

Evo inspirou o candidato vitorioso à Presidência do Paraguai, quanto a rever o acordo generoso sobre Itaipu, e estendeu até o Equador, cujo presidente às vésperas de um plebiscito, que precisava aprovar, buscava dividendos eleitorais. Expulsou do Equador a empreiteira brasileira Odebrecht, depois de ter renovado o contrato até então vigente. Ocupou suas instalações militarmente, apresou o equipamento da empresa, retirou “os direitos constitucionais” de dois dos dirigentes da obra impugnada, pivô das hostilidades, o que fez a embaixada brasileira homiziá-los. Finalmente atingiu o próprio Brasil, na figura do BNDES, não reconhecendo a dívida de milhões de dólares usados na construção da usina. Ao mesmo tempo, ameaça de expulsão a petrobrás, se não aceitar leonina modificação de contrato para transformá-la em prestadora de serviços. Conciliador com o “irmão menor”, Lula disse: “Duvido que o Correa (presidente equatoriano) não me telefone ainda hoje”. Não telefonou. Aguardou dias para encontrá-lo numa reunião de presidentes em Manaus, marcada anteriormente. Manteve-se irredutível.

Nosso governo, que reagiu prontamente aos Estados Unidos no caso dos vistos, e à discriminação da Espanha, mostra a unidade da esquerda sul-americana quando se trata da doutrina Evo Morales. Pode-se negar a realidade? Somos um país altivo com os fortes e passivo com os fracos, por conveniência ideológica.


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