Poder-se ia dizer que parece com um cacto, ou com algo mais complexo, algo orgânico, capaz de comportar uma vida, ou muitas vidas além da sua própria. Ostenta uma parede externa similar a veludo e uma tonalidade amarela com manchas amorfas quase pretas. O interior dela é um labirinto oco, um vazio misterioso que não parece nada com o ríspido ambiente externo.
Ela respira um letargo vago no vale inóspito de uma paisagem impossível e se alimenta de uma luz azul. O fenômeno acontece com a rara conjunção de asteróides dourados envolta de um horizonte cinzento numa espera indefinida.
Ninguém toma conta dela porque mora em um deserto que alguma vez foi habitado. O chão é um patamar de magma em ebulição que não a derrete. Suas raízes e o talo estão tão confusos que crescem devagar em qualquer direção. O ar é denso como um tecido úmido colado ao rosto, mas o sufoco não a incomoda. Talvez, ela seja a única sobrevivente.
Ela está chegando ao fim do seu ciclo. No seu interior navegam galáxias e constelações coloridas, estrelas que são como glóbulos que a aquecem e um planeta diminuto com micróbios parasitas que brigam para chegar às paredes distantes e não conseguem ultrapassar um mísero satélite colado a eles.
Só restam duas coisas: a certeza de que ninguém irá salvá-la e a incerteza de quanto, ainda, lhe resta.