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Ensaios-->Karingana ua Karingana -- 08/01/2009 - 12:07 (Eduardo Amaro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Karingana ua Karingana

Karingana ua Karingana, poesia de 13 versos, divididos em duas estrofes de seis e um verso isolado (título da poesia – enfático), possui características singulares a um poeta que busca a sua redenção ao beber nas fontes inexauríveis de uma cultura rica e em questionamento.

Esta poesia é mais do que um protesto: é a definição de um fazer-poético em simbiose com a cultura popular.
Observe a primeira estrofe:

“Este jeito
de contar as nossas coisas
à maneira simples das profecias (1)
é que faz o poeta sentir-se
gente”. (2)

Uma maneira de contar as coisas? À maneira simples das profecias? O que é isto a não ser a cultura, o folclore, as tradições de uma nação em busca da própria identidade? É exatamente tal busca que traz a cidadania às pessoas, ou seja, faz o poeta – como contador de histórias – sentir-se gente, sentir-se humano, íntegro e actante na sociedade em que se insere.

Percebamos a linguagem fluente, quotidiana, descomplicada. Premonitória até, como se identifica nos versos:

“E nem
de outra forma se inventa
o que é propriedade dos poetas
nem em plena vida se transforma
a visão do que parece impossível
em sonho do que vai ser

_ Karingana!”

A estrutura paralelística existente na segunda estrofe reforça a idéia de que o poeta deve cantar a transformação, o sonho. A conjunção (nem) une as duas concepções: o que é propriedade do poeta (contar as nossas histórias à maneira das profecias) e a visão premonitória (que faz o poeta – e todo homem - ser gente). Em outras palavras, em um processo anafórico, a estrofe subseqüente reforça, enfatiza a anterior. Karingana! Desta forma termina a poesia e desta forma devemos aprender a vislumbrar um futuro libertário!

A poesia que segue chama-se Guerra. Duas estrofes de três versos cada. O leitor desatento pode não valorizar um texto tão simples, porém, o leitor crítico sabe valorizar a magnífica capacidade de síntese do poeta, assim como a soberba metáfora que se instaura neste poema, como a chave de ouro do soneto, que nos faz pensar a respeito do potencial semântico das palavras, quando são bem empregadas. Analisemos a primeira parte:

“Aos que ficam
resta o recurso
de se vestirem de luto”.

O que faz estes versos possuírem esta densidade dramática, este apelo ao leitor? Existe um repertório, um conhecimento de mundo pré-existente, emanado pelo vocábulo-título que contamina a estrofe, liberando os sentimentos à leitura.

“Aos que ficam”, àqueles que sobreviveram à guerra, resta a perda dos entes queridos e outras modalidades de ausência, “o luto”. De uma forma, vencedores por atingirem o objetivo; por outro lado, perdedores, uma vez que as lembranças e as dores do passado guerrilheiro voltam como sombras a perseguir, incessante e implacavelmente, o eu lírico que extravasa esta mesma memória na estrofe seguinte:

“Ah, Cidades!
Favos de pedra (1)
macios amortecedores de bombas”. (2)

Uma mistura de memória e nostalgia instaura-se nesta interjeição. As cidades, emaranhados de prédios (concreto, pedra, sem vida), pulsando com as milhares de pessoas que a dão motivo de existir, que imprimem ao concreto, vida.

(1) “Favos de pedra”: os favos fazem referência às colméias (moradias das abelhas) que, como os homens, vivem em sociedade. Faz alusão às janelas onde estão o mel (alimento), assim como as inúmeras janelas dos prédios, possível aproximação pelo adjunto restritivo “de pedra”, onde as pessoas vivem, trabalham, amam, alimentam-se, constituem família.

(2) “macios amortecedores de bombas”: esta metáfora é fortíssima. Percebemos a tensão provocada por uma antítese implícita que contrasta “macio” com “bombas”, uma vez que as bombas não tornam nada macio, ao contrário, o contato destes artefatos com o solo destroem as mais resistentes estruturas, de pedra ou de carne.
Observe que o eu lírico joga com as imagens, são simples e diretas, porém fortes e bem elaboradas. É nesta simplicidade, nesta extraordinária capacidade sintética que a tensão se instaura na poesia.

Aqui está uma breve análise de algumas poesias do escritor africano Craveirinha. Há, sem sombra de dúvidas, uma vasta gama de poesias deste escritor que merece análises mais apuradas.

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