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cronicas-->Uma história irreal -- 22/09/2002 - 12:27 (Jayme de Oliveira Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os carros avançam em direção à reta de chegada. Apesar de estarem próximos, a disputa já está definida e os torcedores que foram ao circuito austríaco de Spielberg aplaudem e vibram com os vencedores. Sim, porque são dois vencedores. Dois carros vermelhos que fazem uma corrida paralela à que foi disputada por outros vinte.

Os aceleradores tocam o assoalho em ambos os carros. O giro dos motores atinge níveis extremos e o ronco saudável daquelas máquinas retumba vigorosamente no seio de cada um dos presentes ao autódromo. Se os olhos da torcida não abandonam a pista, não é por aflição, mas por expectativa. Os joelhos de cada torcedor se contraem, os braços idem, e o corpo inteiro se harmoniza e apronta para explodir em um salto de alegria. Faltam só alguns metros.

Na pista os carros já fazem a última curva. O traçado dos dois é impecável mas a distància entre eles é cada vez menor. Incríveis aquelas máquinas. Perfeitas. Dentro delas, porém, dois pilotos cujas carreiras possuem perfis completamente diferentes. Um é brasileiro, vencedor de apenas uma corrida, embora herdeiro natural do legado de dois grandes campeões e de um mito. O outro é alemão, quatro vezes campeão mundial, recordista de vitórias na categoria e aclamado por todos como o melhor piloto da atualidade. Só que hoje ele está atrás. Na verdade, nos últimos três dias o brasileiro o fez dirigir sobre seu rastro.

A prova está no fim. Ambos já completaram a última curva e agora avançam pela reta praticamente juntos em direção à bandeirada. Os torcedores já não aguentam a expectativa. Há algumas suspeitas acerca da possibilidade do brasileiro ser obrigado pela equipe a ceder a vitória ao alemão e a proximidade entre os carros dá crédito às especulações. Os olhares já não revelam apenas expectativa. Há um novo clima no autódromo. Càmeras de um planeta inteiro voltam suas lentes àquelas duas máquinas que velozmente rompem o asfalto em brasa da reta final.

O público agora está tenso. Seja em casa ou nas arquibancadas, as pessoas percebem que algo está errado. Parece que o brasileiro vai mesmo sucumbir às ordens da sua equipe. Alguns fecham os olhos se negando a ver aquilo. Lembram-se, naquela fração de segundo, dos seus chefes lhes impondo ordens absurdas, humilhando-os na frente dos colegas. Lembram-se das oportunidades deixadas de lado pelo medo de dizer não, ou de arriscar. Lembram-se da história diária dos fortes massacrando os fracos. Do jugo do trabalho em relação ao capital. Do poder dos que detêm os meios de produção. Da sua própria vida. Os rostos incrédulos refletem o salobro do peito que se contrai em angustia.

São os últimos metros agora. Os carros estão quase emparelhados mas já existe uma pequena vantagem para o alemão. O mundo se cala diante da TV e espera consternado o fio certeiro da guilhotina. É quando, para surpresa de todos, a Ferrari do brasileiro retoma subitamente a velocidade e o coloca alguns centímetros à frente do rival que o vê receber a bandeirada em primeiro lugar. A arquibancada vibra enlouquecida. Nunca um vencedor foi tão festejado! Lágrimas e abraços se misturam aos gritos histéricos da platéia. No Brasil, olhos marejam ao som do tema da vitória.

Em seguida outros pilotos rompem a reta e recebem a bandeirada sem que ninguém os veja ou se importe. Estão todos entorpecidos com aquela vitória. Ecoam por todos os cantos do autódromo e do mundo gritos de exortação ao espetáculo. Bandeiras tremulam e colorem de vermelho o céu da Áustria. É a glória do esporte. Aquela disputa final talvez não fizesse mesmo parte de uma trama, mas da própria competição, ou, ainda, dos caprichos dos chamados deuses do esporte que quiseram apenas pregar uma peça nos mortais; lhes causar náuseas; lhes deixar aflitos; ou - como bons e sábios deuses que são - lhes abrir os olhos para o fato de que, por menos possível que pareça, há sempre a possibilidade de se dizer não.

Aos gritos de "Rubinho", "Rubinho", os dois campeões sobem ao podium para escutar o hino do Brasil e celebrar o começo de uma nova história.
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