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Ensaios-->A Embraer macabra e as lições da morte na guilhotina -- 09/03/2009 - 10:27 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Caros amigos,

É com imensa alegria que comunico que voltei a escrever. Estava há alguma semanas sem fazer a pena funcionar, como passarinho na gaiola. Segue artigo... e se gostarem, repassem para os amigos porventura interessados no tema.

Abcs,

Hugo

***

A Embraer macabra e as lições da morte na guilhotina

Hugo Studart

Essas execuções sumárias, desastradas e desumanas perpetradas pela diretoria da Embraer nos remetem às lições do célebre médico francês Joseph-Ignace Guillotin (1738-1814), que sugeriu à turma de Robesbierre o uso de um aparelho democrático na aplicação da pena de morte. Guillotin defendia o direito a uma morte digna, rápida e quase indolor. Para o caso das carnificinas pós-modernas, as demissões coletivas, o mercado privado já adotou atenuantes para a dor. Coisas simples, como negociar critérios para as listas negras, bancar parte dos custos da recolocação profissional ou a manutenção por algum tempo de benefícios como os planos de saúde. A Embraer não cogitou nenhum tipo de atenuante na hora de executar a chacina entre seus trabalhadores. Conclui-se que o presidente da empresa e toda a diretoria cometeram um ato de desespero. Devem estar cegos com a crise internacional. Só podem ser uns despreparados para o cargo. Merecem, portanto, encabeçar a lista de demissões.

http://www.conteudo.com.br/studart/a-embraer-e-as-licoes-da-morte-digna-na-guilhotina/post_view?portal_status_message=Changes%20saved.

Por HUGO STUDART

Um dos grande legados do Iluminismo é a universalização da morte digna, rápida e não dolorosa. Antes da Revolução Francesa, somente os nobres tinham direito a morrer com a decapitação por machado -- pelo menos na face Ocidental da Europa.

A plebe tinha que morrer na forca -- quando não lhe reservavam a fogueira ou roda da tortura. Os iluministas vieram com a novidade da universalização dos direitos, a tal igualdade. Quando o Regime de Terror de Robespierre tomou conta da Revolução Francesa, logo apareceu quem defendesse a igualdade de direitos de passagem. Ou seja, o direito de morrer de forma rápida, digna, indolor.

Guillotin considerava este método de execução mais humano do que o enforcamento ou a decapitação com um machado. Afinal, a agonia do enforcado podia ser longa. Quanto ao machado, era muito comum o carrasco não conseguir arrancar a cabeça no primeiro golpe, deixando a vítima viva por longos e tenebrosos segundos. Macabro demais.

Na verdade, não foi o Dr. Guillotin o inventor desse aparelho de cortar cabeças, usado muitos séculos antes. Ele apenas sugeriu sua volta como eficiente método de execução humana. Estimava que a instantaneidade da punição era a condição necessária e absoluta de uma morte decente.

Eleito deputado, passou a defender no Parlamento francês a oficialização do aparelho. Virou logo motivo de piadas. Suas Excelências consideravam-no excessivamente ingênuo. Devia ser uma espécie de Eduardo Suplicy. Tanto defendeu sua máquina de decapitações que acabou aprovando a idéia. Na maior das ironias, durante os debates a máquina mortífera foi batizada de guillotin. A guilhotina serviu para decapitar 2.794 'inimigos da Revolução' em Paris.

PELO DIREITO À DECAPITAÇÕES HUMANAS NA EMBRAER
O Sr. Frederico Curado, presidente da Embraer, deveria ler um pouco de história antes de cometer desatinos. Saberia que há mais de 200 anos foi estabelecido o direito universal à morte com dignidade, com o mínimo de dor. Utilizo a expressão 'morte' pois é exatamente essa a sensação de alguém que é demitido.

Esse senhor Curado, sucessor do empreendedor Maurício Botelho, é prata da casa. Tem quase dois anos que até as porcas e parafusos dos aviões sabiam que o mundo caminhava para uma crise internacional séria e para a recessão global. O que ele fez? Calouro na presidência da empresa, preferiu fingir que estava tudo bem. Conseguiu divulgar seu primeiro balanço como se a empresa estivesse em céu de brigadeiro. Poderia ter se preparado melhor para a crise, inclusive para o necessário enxugamento.

Sim, o enxugamento decerto é mesmo necessário. Não tenho informações sobre o tamanho dessa necessidade, mas todos sabemos que o mundo está demitindo e com a Embraer não poderia ser diferente.

O cerne da polêmica não é a provável necessidade de decapitar 4 mil homens, mas sim a forma desumana como foi feita. O Dr. Guillotin jamais questionou a necessidade de matar os inimigos da Revolução, mas apenas pregava o direito a uma morte mais humana.

A direção da Embraer passou a faca em 4 mil trabalhadores, 20% de seu quadro de funcionários de uma só vez, sem conversas ou preparação. Divulgou o hecatombe de sopetão, na véspera do Carnaval.

A Embraer se apresenta como uma moderna empresa globalizada, orgulho nacional, jóia da nossa coroa. E é. Seus trabalhadores não são peões quaisquer. Estão entre os mais qualificados do planeta. Boa parte do quadro tem na Embraer seu primeiro emprego, se aposenta por lá e ainda recruta os melhores filhos para o quadro de funcionários. Eles têm grande orgulho da empresa onde trabalham.

Ademais, a Embraer não é uma empresa privada qualquer. Nasceu do dinheiro público, ainda é pára-estatal, cresceu e sobrevive, em boa parte, com a ajuda do Estado brasileiro -- que financia seu crescimento, suas exportações e ainda mobiliza o Itamaraty (e presidentes da República) para abrir mercados internacionais.

A Embraer, portanto, tinha por obrigação tratar seus trabalhadores com mais respeito e consideração que a mais humana das empresas privadas instaladas no Brasil. Vale lembrar ao senhor Curado e à sua diretoria que as empresas modernas há muito que adotaram métodos humanos de decapitação.

Primeiro costumam vir os tais PDV`s, os programas de demissão voluntária. Isso poderia ter sido adotado há pelo menos ano e meio. Ou pelo menos agora.

Depois vêm as negociações trabalhistas. Coisas simples como redução da jornada de trabalho ou férias coletivas.

O passo seguinte é negociar os critérios de demissão. É sempre melhor que os critérios sejam claros. Costumam ir primeiro os jovens solteiros, depois os casados sem filhos, e assim por diante.

Num corte de 20% (que com uma boa negociação poderia ser de 10% ou 15%) é evidente que vai chegar a hora de fazer a tal lista negra. Irão para a fila de desempregados excelentes funcionários, arrimos de familia, etc. É a hora do darwinismo econômico.

Ocorre que até para essa fase dos cortes o mercado já inventou atenuantes para a dor. Um deles é bancar parte dos custos de uma empresa de recolocação profissional. Outra diz respeito à manutenção por algum tempo de benefícios como os planos de saúde. A Embraer não cogitou nenhum tipo de atenuante para a dor da morte profissional de seus trabalhadores.

A Justiça já mandou o senhor Curado suspender as demissões e negociar saídas dignas para os trabalhadores. Ele teve que anunciar, para começo de conversa, que a Embraer vai pagar o plano de saúde dos demitidos por um ano.

Não dá para prever onde esse episódio vai desaguar. Mas já dá para concluir, com 110% de certeza, que o presidente da empresa e toda a diretoria cometeram um ato de desespero. Devem todos estar cegos. Só podem ser uns despreparados para o cargo. Merecem encabeçar a lista de demissões.

Até lá, segue o conselho de um humanista para o senhor Curado e sua ilustre diretoria: os senhores precisam se informar sobre o legado do médico iluminista Joseph-Ignace Guillotin antes de cometer o próximo desatino.


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