-O próximo!
Entra na sala um indivíduo baixote, de andar pesadão.
-Nome? - dispara a entrevistadora.
-Sofrenildo Silveira, Mas pode chamar de Sofrê. Vim pelo anúncio no jornal...
-Eu sei, eu sei...O senhor deseja preencher a vaga de saco de pancadas, não é isso? Vamos ver. O senhor se adapta mais a socos ou a pontapés?
O candidato pensa, com lentidão, faz cara de sofrimento como que sentindo no corpo as duas opções. Finalmente responde: hoje em dia, doutora, a gente tem de se adaptar a tudo.
-Desculpe perguntar - continuou a mulher - mas o senhor já passou por situações massacrantes?
-Que tal o Plano Collor? Confisco da poupança. Vendi meus burricos e estava guardando o dinheirinho para adquirir casa própria. Dei com os burricos n´ água. Outra: período da ditadura. Fui entregar uma pizza no local onde se reuniam alguns comunistas e me prenderam por engano...Todos foram anistiados, o único a permanecer preso fui eu. Além disso, já sofri assalto, cachumba recolhida, amor não correspondido, processo por dívidas, unha encravada...Ah, e já tive um vizinho de meia-parede que possuía uma banda de rock pauleira. Ensaio toda noite.
A entrevistadora voltou à carga: o senhor apartaria, por exemplo, uma briga entre o Maguila e o Mike Tyson?
-Moleza. Isso é ficha pra quem já trabalhou num circo. A senhora, com perdão da má palavra, já cuidou de elefante com disenteria? Cada rajada daquelas era pior do que metralhadora. Á noite, pra cúmulo do azar, dormia numa barraca estreita, entre o Homem-Leão e a Mulher-Gorila. Quando os dois resolviam transar, sempre sobrava pra mim. E quando se desentendiam, então?
-Muito bom Acho que o senhor tem jeito para a coisa. Agora vamos falar do ordenado. Que tal meio salário-mínimo?
Desta vez, Sofrê foi rápido no gatilho:
-Mas isso não dá pra nada!
-E o que o senhor queria? O ordenado da Julia Roberts? Nessa profissão não existe moleza, deve-se sofrer todo final de mês, para manter a forma. É pegar ou largar!
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