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Cronicas-->15. INTELIGÊNCIA REPRIMIDA -- 24/09/2002 - 06:54 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não fui brilhante em vida. Depois da morte, surpreenderam-me as maravilhas de raciocínios abstratos que era capaz de elaborar, tanto que as confusões estranhíssimas dos temas filosóficos se resolveram de imediato, acrescentando-se que a memória me recitava todos os problemas que deixara sem solução.

Não demorou para que reconhecesse, com a ajuda de antigos mestres e amigos, que fora eu mesmo quem optara pela restrição intelectual acentuada, já que abusara, em vida anterior, da criatividade, vamos dizer assim, em termos de fabricar situações em que as pessoas se enredassem e se comprometessem, levando eu vantagem quase sempre. A maior desvantagem, é preciso dizer, é que criei inimigos e hábitos muito perniciosos.

Foi assim que nasci quase apagado, meio molóide, incapaz até de reconhecer o alfabeto, preparado, contudo, para exercer funções manuais rudes, já que o corpo era vigoroso e a disposição para o trabalho bastante acentuada, através de mínima remuneração.

Mas precisei, no etéreo, de um longo período de readaptação, apesar da compreensão dos fatos. É que tinha de eliminar os vícios antigos e estes estavam profundamente arraigados na personalidade.

Vou dar um exemplo elucidativo.

Quando me convidaram para matricular-me no curso de evangelização, segundo o prisma cristão primitivo, aceitei logo, crente de que tiraria de letra todas as questões que me seriam propostas.

Ledo engano!

Logo me vi em papos de aranha para decifrar o mistério da anunciação do anjo Gabriel a Maria.

Queriam saber se era verdade que Jesus ordenara ao mensageiro que avisasse a mocinha que iria ser mãe.

Está claro que atinei logo com a malícia da proposta, pensando que se preparava o espírito dos alunos para o debate da virgindade da mãe de Jesus. Respondi, então, afoito, que era impossível impregnarem-se na mente da jovenzinha os desígnios supremos do Criador, já que não teria ela capacidade de entender os corolários do humanitarismo da vinda do Messias. Afinal de contas, concluía, o cristianismo ainda não havia sido instalado na cultura ocidental.

Aí me revelaram que a minha dedução anulava um dos princípios fundamentais dos textos evangélicos, qual seja, o de que era preciso incentivar o maravilhoso, o inusitado, o miraculoso, uma vez que Jesus iria praticar curas e operar transformações físicas e morais de caráter transcendental.

Do jeito que refletira, traduzia descrença e materialismo, já que caminhava para a concepção de que não teria havido a referida visita nem a gravidez tivera origem metafísica. Iria dizer que José se consorciara fisicamente com a esposa e dessa união carnal é que nasceria Jesus, encarnação completamente natural de seu espírito perfeito.

Não havia como tergiversar. Puseram-me contra a parede: ou aceitava todos os dizeres dos textos sagrados, ou repudiava-os integralmente, buscando explicações de sentido psicossocial, ou seja, atribuindo aos leitores primitivos dos evangelhos muita ingenuidade e profundo desejo de adentrar o reino de Deus, por força dos tremendos males que assolavam o orbe naqueles tempos remotos.

De qualquer forma, teria de justificar a repercussão milenar da narração da vida e dos feitos do Cristo, para entender o espírito humano ávido por ser agraciado com as bênçãos de Deus.

Quando busquei explicações científicas para o procedimento sobrenatural do Peregrino, avisaram-me que, dentre outros, Kardec se havia debruçado sobre isso.

Eu desconhecia o Pentateuco Kardequiano e me obriguei a ler as cinco obras básicas do Espiritismo.

Não sei se o exemplo que dei elucidou o drama de quem precisava equilibrar as forças intelectuais com o poder de discernimento da verdade. A certeza que tenho se concentra no fato de que minha tendência, após aquela crise emocional de caráter fundamentalista, está voltada para a simplicidade dos enunciados, de forma a levar aos amigos leitores o resultado de minhas reflexões e pesquisas.

Irão objetar com as dificuldades da composição que estou levando a cabo. Mas eu lhes peço que se mantenham atentos para o fato de que não são os dizeres que são complexos, mas os próprios temas em si.

Eu não lhes disse que tinha a mente muito aguda e o raciocínio arguto e que admiti uma vida inteira de inteligência bloqueada? Quer dizer que estou sugerindo que a sua percepção dos problemas também advenha do fato de haverem aceitado limitações psíquicas?

Absolutamente, não. Estou afirmando, com a máxima clareza, que ninguém, por mais esperto e lúcido que seja, possui o grau de acuidade mental de Jesus, por exemplo, apesar de obter resultados superiores nos testes psicológicos. E isso decorre do fato de que estamos constantemente crescendo espiritualmente, enquanto seres libertos para a aplicação em todos os procedimentos dos ensinamentos cristãos. Presos à carne, com suas necessidades e interesses, frustramo-nos filosoficamente, porque não conseguimos absorver todos os conhecimentos humanos, muito menos os das esferas superiores.

Havia terminado aqui o meu trabalho, porém, fui procurado por Mário, que me determinou um último parágrafo:

- Não se esqueça de dizer que você está profundamente empenhado nos estudos, preparando-se para tarefas rotineiras de assistência aos necessitados. Muito embora a teoria se aprofunde em diversos setores, o conhecimento das reações e procedimentos dos seres é que leva a palma na prioridade que estabelecemos para a aprendizagem. Não é verdade?

Completei, então, discretamente, entendo-lhe a sugestão:

- Percebo, Professor, que tudo quanto ficar sabendo a respeito dos outros será transferido para o conhecimento de mim mesmo.

Tal conclusão poderá parecer óbvia, mas quantos ainda não prestam atenção nos próprios anseios, esquecidos de valorizá-los moralmente!...

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